Maria Amélia Mano
As
cidades restarão silenciosas, sem um veículo:
apenas
os pés de seus habitantes
reunidos
na praça, à espera de seus nomes.
Adélia
Prado
Cada luz de casebre no alto do morro
é um olho que brilha. Um olho que acende e apaga. Um olho que pisca. Um olho
que vacila. Um olho que deixa escorrer a lágrima que não vejo. Porque o casebre
é longe, o morro é longe e essas pequenices só vemos de perto. Como pirilampos
que reconhecem rua e chuva e seguem menino iluminado quando cantam alto seu
nome.
Cada fumaça de casebre do alto do
morro é uma linha na face do céu. Uma ruga que aperta e relaxa. Uma ruga que
franze tudo ou só um canto de boca, canto de olho. Uma ruga que é leito onde
escorre a lágrima que não vejo. Porque o casebre é longe, o morro é longe e
essas pequenices só vemos de perto. Como o sorriso do menino quando escuta seu
nome.
Cada pipa colorida. Cada movimento
diminuto. Cada arrastão, tiro, desabamento. Cada um, cada uma. Cada lata na
cabeça. Onde sobem, onde descem, a razão de viver. Cada coisa que não se vê não
só pela lonjura, não só pelo tamanho, mas pela falta de sonho ou esperança.
Pela falta que é luta. Como o menino e essa alegria teimosa feito a luz do
casebre, do olho, que ainda brilha, mesmo sem nome.
Ilustração: Shozo Ozaki
Muito bonito teu texto! Muito terno e sensível como tudo o que fazes e escreves:!💕💕💕
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