Mortinha
com farofa
Maria
Lúcia Futuro Mühlbauer
Subia a ladeira cansada, dia pesado
no trabalho. Só pensava em chegar em casa e tirar os sapatos e om os dedos
livres entrar num super banho. Ia subindo ora apressada ora mais lenta que a
rua era uma ladeira linga.
Quase chegado, pensou com seus botões,
falta pouquinho. Mas na curva do alto um tumulto, bombeiro, gritaria, a velha
meio surda de frente falando com uma pessoa com uma prancheta e ouviu seu nome aos berros saindo de dentro da
ambulância seguido de um muxoxo do maqueiro:
E
grito repetido: OLHA MIMI!
Ainda ouviu a vizinha velhinha
comentando qualquer coisa do gato que estava fora da janela. Bateram a porta da
ambulância e saíram. Preocupada nem entrou em casa. Com a chave extra da porta
da cozinha, entrou na casa da vizinha, largou tudo na mesa e subiu.
No quartinho do final do corredor encontrou
Mimi, brincando quietinho com seu cachorrinho de pelúcia. Mordia a orelha e a
cauda, ria e jogava, tornava a morder e ficar babando o bichinho.
Ao se aproximar, percebeu que a troca
de fraldas era necessária. Ah como adorava este bebê da vizinha. Sorriu e ficou
imaginando como levaram a mãe e deixaram uma criancinha pequena sozinha em
casa!
Trocou a fralda, desceu com ele para
a cozinha. Devia ser hora da comidinha, final de tarde. A mãe sempre deixava
pronta e quando ela ia ficar umas horinhas com Mimi costumava dar o jantar e
colocar para dormir. Antes, porém, ia tentar saber o que aconteceu.
Atravessou a rua com Mimi no quadril
e foi tentar falar com a velhinha de frente. Qual não foi a surpresa da senhora
ao ver um bebê!
_ Nunca soube que você tinha filhos!
– nem deu explicação, queria informação.
-Olá, o que aconteceu com Eloá? Para onde
a levaram?
- Ah , eu vi a porta da frente aberta
e ela torcida nos degraus da frente. Chorava e falava que o gato tinha
derrubado ela e gemia de dor de tal forma que chamei o socorro. E não é que
ficou preocupada com o gato todo o tempo?
Eles deram uma injeção de dor e me chamaram para dar informações. Não
sei de nada dela, então, disse apenas que o marido estava trabalhando. Ela
falava o tempo todo, mesmo grogue do remédio, queria que fossem buscar o Mimi
de toda forma. Eu garanti que faria isto e foi quando você chegou que ela deu
de gritar. Acho que quebrou feio, a perna, dava para ver o osso... horrível!
Com Mimi já inquieto agradeceu e
entrou, pelos fundos, para dar o jantar.
Mimi alimentado e limpo começou a
choramingar. Sentou nas almofadas, encostada na parede e cantarolou ninando o
bebê.
Acordou com a luz na cara e a cara do
Firmino Pai de olhos arregalados à sua frente!
- Ainda bem que temos você em nossas
vidas! Seu nome diz tudo! Benedita!!! Você salvou meu Mimi! Quer ir comigo ver
a Eloá? Pela hora já está no fim da cirurgia. Recebi o chamado falando da
emergência, mas passei primeiro aqui pois não sabiam que havia uma criança
pequena em casa, quase fiquei doido! Bendita Benedita!
E com isto enxugou os olhos e deu um
forte abraço na vizinha. Passou todo o cansaço. Fecharam a porta e foram com
Mimi.
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