19 agosto 2019

Mortinha com Farofa

Foto de Maria Regina Marcos Dias


Mortinha com farofa
Maria Lúcia Futuro Mühlbauer
Subia a ladeira cansada, dia pesado no trabalho. Só pensava em chegar em casa e tirar os sapatos e om os dedos livres entrar num super banho. Ia subindo ora apressada ora mais lenta que a rua era uma ladeira linga.
Quase chegado, pensou com seus botões, falta pouquinho. Mas na curva do alto um tumulto, bombeiro, gritaria, a velha meio surda de frente falando com uma pessoa com uma prancheta e  ouviu seu nome aos berros saindo de dentro da ambulância seguido de um muxoxo do maqueiro:
E  grito repetido: OLHA MIMI!
Ainda ouviu a vizinha velhinha comentando qualquer coisa do gato que estava fora da janela. Bateram a porta da ambulância e saíram. Preocupada nem entrou em casa. Com a chave extra da porta da cozinha, entrou na casa da vizinha, largou tudo na mesa e subiu.
No quartinho do final do corredor encontrou Mimi, brincando quietinho com seu cachorrinho de pelúcia. Mordia a orelha e a cauda, ria e jogava, tornava a morder e ficar babando o bichinho.
Ao se aproximar, percebeu que a troca de fraldas era necessária. Ah como adorava este bebê da vizinha. Sorriu e ficou imaginando como levaram a mãe e deixaram uma criancinha pequena sozinha em casa!
Trocou a fralda, desceu com ele para a cozinha. Devia ser hora da comidinha, final de tarde. A mãe sempre deixava pronta e quando ela ia ficar umas horinhas com Mimi costumava dar o jantar e colocar para dormir. Antes, porém, ia tentar saber o que aconteceu.
Atravessou a rua com Mimi no quadril e foi tentar falar com a velhinha de frente. Qual não foi a surpresa da senhora ao ver um bebê!
_ Nunca soube que você tinha filhos! – nem deu explicação, queria informação.
-Olá, o que aconteceu com Eloá? Para onde a levaram?
- Ah , eu vi a porta da frente aberta e ela torcida nos degraus da frente. Chorava e falava que o gato tinha derrubado ela e gemia de dor de tal forma que chamei o socorro. E não é que ficou preocupada com o gato todo o tempo?  Eles deram uma injeção de dor e me chamaram para dar informações. Não sei de nada dela, então, disse apenas que o marido estava trabalhando. Ela falava o tempo todo, mesmo grogue do remédio, queria que fossem buscar o Mimi de toda forma. Eu garanti que faria isto e foi quando você chegou que ela deu de gritar. Acho que quebrou feio, a perna, dava para ver o osso... horrível!
Com Mimi já inquieto agradeceu e entrou, pelos fundos, para dar o jantar.  
Mimi alimentado e limpo começou a choramingar. Sentou nas almofadas, encostada na parede e cantarolou ninando o bebê.
Acordou com a luz na cara e a cara do Firmino Pai de olhos arregalados à sua frente! 
- Ainda bem que temos você em nossas vidas! Seu nome diz tudo! Benedita!!! Você salvou meu Mimi! Quer ir comigo ver a Eloá? Pela hora já está no fim da cirurgia. Recebi o chamado falando da emergência, mas passei primeiro aqui pois não sabiam que havia uma criança pequena em casa, quase fiquei doido! Bendita Benedita!
E com isto enxugou os olhos e deu um forte abraço na vizinha. Passou todo o cansaço. Fecharam a porta e foram com Mimi.

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