NÃO ME CALA QUE EU GRITO
Parecia que o mundo ia acabar
sobre meu peito. Opressão e sensação de estrangulamento. Primeiro pensei em
alguém me agarrando e apertando, logo me veio a ideia de angustia e medo e por
fim me deparei com o real motivo de tudo: um CALA A BOCA!
No começo foi um “calaboquinha”...
tipo: se falar vai incomodar os outros, depois foi num crescendo de melhor guardar sua opinião para si. Por
fim veio o nem ouse comentar, cala a boca e eu me engasguei de mudez.
Muito tempo seguindo esta trilha
de aceitar não incomodar os outros, de
evitar fomentar discórdias, não colocar os pontos de vista, de ser mudo falante
só nos momentos imprescindíveis... para o companheiro, o amigo, a família.
Peito cheio, cabeça borbulhando e boca tampada pela comodidade de não brigar,
não falar contrários e considerar que para ser amado era melhor assim... só que
não! Adoeci, fiquei magoado, fiquei invisível para mim mesmo!
O vulcão das ideias e opiniões
reprimidas vinha se mostrando em previas de ebulições pequenas... abafadas mais
uma vez. Mas chegou a hora e depois de escutar a concordância com um ato vil,
de visível descaso com a vida em si e principalmente com a vida alheia eu saí
do ostracismo e disse NÃO! O retorno foi um “CALA A BOCA” que você nada tem com
isto. Tempo demais guardando tudo, tempo demais sendo invisível, mas ver o que
senti como injustiça contra um desprotegido foi o estopim.
Pacientemente o garoto estava
varrendo a calçada do prédio de escritórios luxuosos onde eu trabalhava (claro
que fui demitido). De costas esbarrou numa pessoa que entrava apressada e
derrubou uma pasta cheia de papéis. Na mesma hora se desculpou e pegou dois
papéis caídos, colocou na pasta e entregou ao enfurecido cidadão que o
empurrou, deu uma bronca e ameaçou um tapa. Me interpus falando basta, com
calma e pensando em esfria a coisa. E foi aí que ouvi a frase: Cala a boca que não é da sua conta, você não
tem nada com isto. Desta feita não calei. E fora do meu usual gritei P A R A
!!! Não sei se foi a surpresa de ser ouvido ou se era para ser assim, o
ofendido parou mesmo e se voltou e me
encarou. Apenas disse sibilando: você vai ver!!! E eu vi a porta da rua... mas resolvi não me calar
mais o peso no peito passou, a garganta se liberou e me deu ganas de cantar.
Publica às segundas feiras
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