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05 janeiro 2018

10 BRINQUEDOTECA - DEZ HISTÓRIAS SOBRE A INTERNAÇÃO DA MENINA DE OLHOS AMARELOS

Felicidade. Alice, 2017.
Ernande Valentin do Prado

Quando o pai entrou no quarto, pouco antes das oito horas, a menina dos olhos amarelos disse:
- A brinquedoteca já abriu?
- Ainda não.
Respondeu o pai.
Era o primeiro dia que ficava sem soro fisiológico constante. Os últimos exames mostravam que o soro não era mais necessário, não trazia benefícios, como se imaginava e poderia até estar sendo um problema, disse a médica ao anunciar que o suspenderia.
Agora estava mais livre, podia caminhar ou ver tv no corredor, ir para brinquedoteca sem se preocupar se iria receber pouco soro.
- Vamos comer, depois vou ver se abriu...
Aproveitou o homem para estimular a menina a comer, coisa que era muito difícil. Não estou com fome, foi o que ela respondeu. O homem foi firme: sem comer não dá para ficar na brinquedoteca: vai que desmaia de fraqueza lá?
- Pai, eu estou internada na brinquedoteca, tenho que ficar lá...
Disse sorrindo a menina, mais uma vez não aparentando estar doente. Nem parecia a mesma menina que no dia anterior chorou se dizendo muito nova para morrer.
Na porta da brinquedoteca agarrou o trinco, abriu, viu o rapaz da limpeza e perguntou: já posso entrar? Ele pareceu contrariado, indeciso, mas não conseguiu dizer que não.
A menina entrou, a psicopedagoga, que já estava lá, perguntou: quer ouvir uma história?
- Quero...
Respondeu a menina sem pensar, sem esconder a satisfação e o enorme sorriso que disfarçava os olhos amarelos, quase alaranjados.
Ouviu, depois chegou outra criança, quando a história já estava no meio. A menina contou a história para ele, depois desenharam, pintaram, jogaram, viram vídeos. Foram comer: recusou, de novo, o almoço:
- Essa comida é ruim e tá fria...
Comeu duas colheradas de um macarrão excessivamente cozido, só para não parecer que não estava cumprindo seu acordo com o pai. Na boca o macarrão virava uma pasta, que ela fazia questão de mostrar ao pai e comparar com a cola que usava para fixar figuras no caderno.
Esperou ansiosa o tempo passar até a brinquedoteca abrir novamente, voltou para lá. Às 17 horas, quando saiu, junto com as funcionárias e as extensionistas, estudantes de terapia ocupacional, de fonoaudiologia, psicologia, enfermagem, disse, abraçada ao pai e caminhando pelo corredor de volta ao quarto:
- Não falei, tô internada na brinquedoteca...
Um dia bom, apesar de tudo...
Pensou o pai.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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