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22 outubro 2016

DE ONDE VEIO MINHA ALMA DE ARTISTA

Daniela Gomes Brito Carneiro

Pra mim, famoso era pouco pra descrever vovô Castanha. Cresci sabendo que ele era um artista. Um músico. Dos bons e famosos. Todo mundo em Santa Rita conhecia Seu Castanha, o violeiro. Meu pai se orgulhava em dizer sempre pra mim e meus irmãos que não existia músico melhor no mundo do que ele, só não teve oportunidade, ele sempre completava.
-Era, pai?
- Ouxe, teu avô? Eu era menino e ele ganhava a vida fazendo show. Era boêmio, saiu de casa com 12 anos de idade pra ganhar o mundo. Fez show em Recife, tem até uma fita gravada.
Adorava saber que meu avô era um músico dos bons, que fazia show, fora da Paraíba. Quando eu era criança, a Paraíba era do tamanho do mundo todo, sair da Paraíba pra fazer um show significava na minha cabeça muita fama. Mas essas histórias eu só escutava, o que eu via era vovô tocando na missa todo domingo. Quer dizer, também via muita gente, além do meu pai, falando a mesma coisa, e também via muita gente ir procurar ele na casa dele só pra ouvir e ver  ele tocar. Achei verdade mesmo que meu vô era muito bom, quando veio um repórter da tv local fazer uma reportagem sobre vovô Castanha. Aquilo foi tão empolgante pra todos nós. Lembro que o tchan dessa reportagem era ver vovô fazendo notas usando um copo em vez dos dedos. Se orgulhava em dizer que fazia os acordes de ouvido. Fulano dizia: - o dó é assim, Seu Castanha. Ele dizia: - Não, é assim. Até que o sujeito se convencia que ele não tava fazendo o acorde convencional, mas o som era o mesmo. E tocava qualquer coisa, do jeito dele, de ouvido. Sabia se qualquer pessoa ou instrumento estava foram do tom ou coisa assim, de longe. Ah, ainda tem outro fato que me fez ter certeza que vovô era importante músico mesmo. Um certo cara escreveu um livro sobre Santa Rita e veio deixar umas cópias na minha casa (na casa do meu pai), porque nele ele citava vovô como patrimônio cultural da cidade.
Porque resolvi escrever tudo isso? Porque acreditando na minha memória forte de infância, fui procurar pelo nome do meu avô das mais diferentes formas no Google: Joaquim Januário Carneiro, Seu Castanha, Casa de farinha (música composta por ele). Mas não achei absolutamente nada. Só me aparecia um Joaquim de 1813, Castanha e Caju, Castanha de Caju, Casa de fazer farinha. Ora, como pode vovô tá em livro, reportagem de tv, fita que virou cd e não tá na internet?
Vai estar sim: Seu Castanha, o inusitado e queridíssimo violonista de Rio Tinto-RN, que viveu a maior parte da vida em Santa Rita e plantou a semente da arte da família Carneiro (a minha). 

[Daniela Gomes Brito Carneiro foi convidado por Ernande: convidado publica na Rua Balsa das 10 aos sábados e domingos.]

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