Pra mim,
famoso era pouco pra descrever vovô Castanha. Cresci sabendo que ele era um
artista. Um músico. Dos bons e famosos. Todo mundo em Santa Rita conhecia Seu
Castanha, o violeiro. Meu pai se orgulhava em dizer sempre pra mim e meus
irmãos que não existia músico melhor no mundo do que ele, só não teve
oportunidade, ele sempre completava.
-Era,
pai?
- Ouxe,
teu avô? Eu era menino e ele ganhava a vida fazendo show. Era boêmio, saiu de
casa com 12 anos de idade pra ganhar o mundo. Fez show em Recife, tem até uma
fita gravada.
Adorava
saber que meu avô era um músico dos bons, que fazia show, fora da Paraíba.
Quando eu era criança, a Paraíba era do tamanho do mundo todo, sair da Paraíba
pra fazer um show significava na minha cabeça muita fama. Mas essas histórias
eu só escutava, o que eu via era vovô tocando na missa todo domingo. Quer
dizer, também via muita gente, além do meu pai, falando a mesma coisa, e também
via muita gente ir procurar ele na casa dele só pra ouvir e ver ele tocar. Achei verdade mesmo que meu vô era
muito bom, quando veio um repórter da tv local fazer uma reportagem sobre vovô
Castanha. Aquilo foi tão empolgante pra todos nós. Lembro que o tchan dessa
reportagem era ver vovô fazendo notas usando um copo em vez dos dedos. Se
orgulhava em dizer que fazia os acordes de ouvido. Fulano dizia: - o dó é
assim, Seu Castanha. Ele dizia: - Não, é assim. Até que o sujeito se convencia
que ele não tava fazendo o acorde convencional, mas o som era o mesmo. E tocava
qualquer coisa, do jeito dele, de ouvido. Sabia se qualquer pessoa ou
instrumento estava foram do tom ou coisa assim, de longe. Ah, ainda tem outro
fato que me fez ter certeza que vovô era importante músico mesmo. Um certo cara
escreveu um livro sobre Santa Rita e veio deixar umas cópias na minha casa (na
casa do meu pai), porque nele ele citava vovô como patrimônio cultural da
cidade.
Porque
resolvi escrever tudo isso? Porque acreditando na minha memória forte de
infância, fui procurar pelo nome do meu avô das mais diferentes formas no
Google: Joaquim Januário Carneiro, Seu Castanha, Casa de farinha (música
composta por ele). Mas não achei absolutamente nada. Só me aparecia um Joaquim
de 1813, Castanha e Caju, Castanha de Caju, Casa de fazer farinha. Ora, como
pode vovô tá em livro, reportagem de tv, fita que virou cd e não tá na
internet?
Vai
estar sim: Seu Castanha, o inusitado e queridíssimo violonista de Rio Tinto-RN,
que viveu a maior parte da vida em Santa Rita e plantou a semente da arte da
família Carneiro (a minha).
[Daniela Gomes Brito Carneiro foi convidado por Ernande: convidado publica na Rua Balsa das 10 aos sábados e domingos.]
[Daniela Gomes Brito Carneiro foi convidado por Ernande: convidado publica na Rua Balsa das 10 aos sábados e domingos.]