Histórias de
motoristas de uber
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Imagem capturada no Google, 2018. |
Ernande Valentin do Prado
Anderson buscou-nos em casa em seu FIAT Línea, domingo à noite. Encostou em frente ao portão ao mesmo tempo em que saíamos. Disse boa noite, perguntou se queria uma balinha de café. O cheio era de carro novo. Os bancos de couro, o luxo do caro chamava atenção. Seria Anderson um motorista por esporte?
— Vamos pela Ruy Carneiro.
Disse eu, indicando o caminho.
Ele foi. Continuei uma conversa que havia começado antes de sair de casa, sobre
as dificuldades dos estudantes em compreender como se faz um projeto, um
trabalho acadêmico. O motorista se interessou pela conversa. Olhou pelo
retrovisor e perguntou: é professor?
Respondi e emendei, para não
deixar a tenção dele dispersar:
— Gosta de dirigir Uber?
— Gosto...
Disse simplesmente.
— Por que?
Foi o que imediatamente
questionei.
Anderson disse que gostava de
dirigir porque conhecia muita gente interessante. E continuou falando, o que me
levou a duvidar da validade da primeira resposta, como sendo o primeiro motivo
dele.
Anderson trabalha como
professor de Educação Física em uma escola do estado e como personal trainer.
Dirige Uber nos intervalos entre um trabalho e outro. Com o que ganha como
motorista se mantém, com o que recebe da escola e como personal está comprando
Euros para se manter na Europa, onde pretender ir em seis meses para fazer
doutorado.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às
6tas—feiras]
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