Histórias
de motoristas de uber
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Imagem capturada no Google, 2018. |
Ernande Valentin do Prado
Josemir é corretor de imóveis, mas como as coisas estão difíceis e não dá para ficar reclamando, há cinco meses começou a dirigir Uber. Dirige ele e dirige o filho, rapaz de 25 anos, pai de um menino de 8 meses que não assumiu.
— Não dá para criticar
demais, nem passar a mão na cabeça, mas criei filho pra ser homem.
Disse Josemir, sem
desviar a olhar do trânsito, já virando a direção para direita, numa curva
aberta, presta a entrar na avenida Epitácio Pessoa.
— ...ele não assumiu o
filho, mas eu assumi. O menino nasceu dia 27 de dezembro, foi um presente de
natal. Quando chego na casa dele, vem correndo me abraçar, já me reconhece.
Agora ele fica perguntando: “Será que o menino é meu?” Se é seu ou não filho
dela, agora não importa, agora é meu neto.
Afirma o homem com
convicção, dizendo que a mãe da criança se ofereceu para fazer o DNA, mas que
ele não tem dúvida de que a criança é seu neto e que o filho, mais cedo ou mais
tarde, ainda irá reconhecer.
Uma filha de
Josemir casou-se e está vivendo na Austrália. O filho mais velho está em Nova
Jersey.
— A mãe chora todo dia...
Diz ele, acelerando
para não atrapalhar o trânsito, mas sem parar de falar.
— ...era muito apegada, mas
cada um tem seu caminho.
Continua a falar o
home de fala fácil, contente em contar de sua família.
— Por mim estariam todos
comigo, mas fazer o quê?
Há um ano ele teve
um problema cardíaco, fez três pontes safena e duas mamárias. Oito horas de
cirurgia, mas agora está bem, já pode dirigir seu carro, contar suas histórias,
visitar o neto que ainda mora perto.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]
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