Mostrando postagens com marcador Porto Felício.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Porto Felício.. Mostrar todas as postagens

16 novembro 2018

A ESTÉTICA DO VARAL


Em Porto Felício. Ernande, 2018.



Ernande Valentin do Prado



Dois dias depois do enterro de meu pai, eu e minha mãe estávamos sem fazer nada, logo depois do café da manhã em Porto Felício, às margens do Rio Paraná. Para espantar as lembranças recentes e tocar a vida, ela foi lavar roupa, enquanto o tempo se recusa a passar no ritmo normal.
Algumas peças de roupa ela esfregou com as mãos, outras colocou simplesmente na máquina, depois torceu e colocou as roupas limpas em um recipiente de plástico retangular, bem grande, para levar ao varal.
Eu olhava a água do rio correr, o vento parado que nem chegava a chacoalhar as folhas da Imbaúba em frente da casa, o cachorro latir.
Para não ficar só contemplando o nada travestido de paisagem rural já bastante nostálgica, disse:
̶ Vou pendurar essa roupa no varal.
Desconfiada, minha mãe questionou:
̶ E você sabe pendurar roupa no varal?
Sem saber que existia um jeito certo de pendurar roupa no varal, respondi com toda minha ignorância:
̶ E não é só esticar e prender a roupa com um pregador?
̶ Não...
Disse minha mãe em tom de quem sabe algo que precisa ensinar ao filho, embora ele já devesse ter aprendido, pois não é mais nenhuma criança.
̶... primeiro pendura as camisas, depois as  camisetas...
̶ E por que não posso só ir pegando e pendurando, sem nenhum cuidado?
Perguntei eu, desconsiderando totalmente que a boniteza é fundamental, como teria dito Vinicius de Morais se tivesse lido Paulo Freire.  
Minha mãe, que não leu Paulo Freire e provavelmente nem Vinícios, apenas respondeu, o óbvio que o filho ignorava:
̶ O varal fica feio.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]


06 janeiro 2017

TRILOGIA (DUPLA) DA PESCARIA

Pescaria no Rio Paraná. Ernande, 2016.
Ernande Valentin do Prado

ENTRE PAI E FILHO

Meu pai contou
que certa vez me levou para pescar no Rio Cantú
Ele pegava os peixes e me entregava para guardar em um balde

No final
foi ver quantos peixe pegou e o balde estava vazio
Então perguntou onde estavam os peixes

Segundo ele
respondi que eles estavam morrendo fora d’água
por isso os coloquei de volta no rio

ENTRE VÔ E NETA

De longe
olhava meu pai e Alice
pescando às margens do Rio Paraná

Ele jogava o anzol com minhoca na água
imediatamente tirava um lambari
que entregava para Alice guardar em um balde

Ela guardou um, dois, três, quatro lambaris
enquanto aguardava o peixe fisgar em seu anzol
Depois perdeu a paciência

No final
meu pai foi conferir quantos peixes pegou
deparou-se com o balde vazio (de novo)

Então perguntou
Alice
cadê os peixes?

Ela respondeu
Tive que soltar (vô)
eles estavam sufocando fora d’agua


[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog