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06 janeiro 2017

TRILOGIA (DUPLA) DA PESCARIA

Pescaria no Rio Paraná. Ernande, 2016.
Ernande Valentin do Prado

ENTRE PAI E FILHO

Meu pai contou
que certa vez me levou para pescar no Rio Cantú
Ele pegava os peixes e me entregava para guardar em um balde

No final
foi ver quantos peixe pegou e o balde estava vazio
Então perguntou onde estavam os peixes

Segundo ele
respondi que eles estavam morrendo fora d’água
por isso os coloquei de volta no rio

ENTRE VÔ E NETA

De longe
olhava meu pai e Alice
pescando às margens do Rio Paraná

Ele jogava o anzol com minhoca na água
imediatamente tirava um lambari
que entregava para Alice guardar em um balde

Ela guardou um, dois, três, quatro lambaris
enquanto aguardava o peixe fisgar em seu anzol
Depois perdeu a paciência

No final
meu pai foi conferir quantos peixes pegou
deparou-se com o balde vazio (de novo)

Então perguntou
Alice
cadê os peixes?

Ela respondeu
Tive que soltar (vô)
eles estavam sufocando fora d’agua


[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

24 dezembro 2016

PODCAST DA ALICE - PROGRAMA 2

Neste segundo podcast, Alice conversa com seu pai e lhe pede para escolher cinco músicas para os ouvintes. Ao longo da conversa Alice canta e faz comentários sobre as músicas.
No final ela mesma escolhe duas músicas.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

09 dezembro 2016

DOMINGO DE MANHÃ

Saudação ao mar. Ernande, 2016.
Ernande Valentin do Prado

As seis horas entro no quarto e acordo Alice, como combinamos, vamos à praia. Ela acorda assustada, dá um pulo, resmunga fazendo careta.
- Não me olhe com essa cara, você me disse para lhe acordar.
- Mas precisava ser com cosquinha?
Agora posso me dar ao luxo de ir à praia aos sábados, domingos, feriados e até em alguns dias de trabalho. Não é tão perto quanto gostaria, ainda não escuto o som do vai e vem das ondas, mas consigo ir caminhando. Gosto de chegar cedo, antes dos vendedores, das pessoas que instalam guarda sol e cobram aluguel pelo uso.
- A praia é toda nossa, Alice.
- Eu sei, a gente é que deixa as outras pessoas entrar.
A gente carrega quase nada: uma bolsinha de pano, óculos, protetor solar, uma toalha de rosto (que cabe na mochila minúscula).
Na beira d’água Alice fica de biquíni e diz: “vamos dar um mergulho”. Entra na água e só sai na hora de fazer buraco na areia. Antes uma saudação ao mar, depois escrevemos desejos para o mar levar e mergulhamos.
- Olha pai, o homem da latinha chegou.
O homem da latinha é um galego, que sempre encontramos na praia de Tambaú. Sempre de braços abertos segurando uma latinha de cerveja.
O vendedor chega com seu filho, menino de 15 anos e uns 150 quilos, enquanto estamos na água. Para seu carrinho perto de nossas roupas. Arruma seus produtos, Alice Lê: “cerveja e água de coco”. Ele sai de guarda sol em guarda sol anunciando seus produtos, passa por nós, como se não nos visse. “Ele ignorou a gente, como pode”? Observa Alice. “Acho que ele já se acostumou com a gente”, tento consolar Alice.
- Você quer uma cerveja ou um Coco?
Pergunto para Alice, que não responde, apenas sorri e risca o chão cantarolando:
“Sou caipira bira bira bora
senhora  di aparecida
ilumina a mina escura
e funda o trêm da minha vida”
Voltamos para água. Alice ainda cantarolando:
“sou caipira bira bora nossa
senhora...”
- Eu sei rezar, sei orar. Vou rezar para aquele homem não se afogar.
Diz Alice apontando o homem que nada longe, rumo ao horizonte. Depois acrescenta:
- O mar tá (d)esvaziando.
Na saída do mar tomamos uma ducha no Bar Pé na Areia, que sempre achei que era Pé vermelho, mas talvez fosse só saudades do Paraná.

[Ernande Valentim do Prado é Enfermeiro
pai de Heloisa, Beatriz e Alice
publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

05 agosto 2016

DOS VÍNCULOS (DE)FINITIVOS

Da coleção: denhando a infância. Alice Bernini do Prado.
Ernande Valentin do Prado

Eu disse
traz uma original
enquanto penso.

(ela do outro lado da mesa)

Morrer não me dá medo
viver num mundo cada vez mais desumano
sim.

(apesar do prazer de lhe acompanhar crescer)

Ela disse
você vai ficar velhinho
vai perder os dentes.

(deve ter desejado)

Eu disse
vou morrer antes disso
espero.

(Deus me livre de perder os dentes)

Ela insistiu
vai usar dentadura
então.

(tá resolvido)

Eu insisti também
vou morrer antes disso
se Deus quiser

(uma vida sem dentes não dá)

E também
vou morrer
antes de vomitar.

(lembrando uma piada de família)

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

15 julho 2016

ALICE, CONTANDO ESTÓRIA

Ernande Valentin do Prado
Dias destes estava com Alice e Bene na orla de João Pessoa. Bene contou uma linda história sobre sua irmã, Luzia, que, segundo ele, desde crianças tinha solução para todo e qualquer problema. Para ilustrar, contou essa história, que depois gravei na interpretação de Alice.

Eu gostei muito, espero que gostem também.



[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

08 abril 2016

DIALOGANDO COM ALICE

Desenho de Alice: buracos no planeta, 2016.
Ernande Valentin do Prado

Por volta das 21 horas fui ao quarto de Alice. Tudo escuro. Entrei, mas não acendi a luz.
Olho na cama: não tá.
Procuro no banheiro: não tá.
- Pai, chamou Alice: eu tô aqui.
Olha em direção à voz e vejo Alice sentada com as pernas dobradas, queixo no joelho direito, hipnotizada com a lua cheia.
- Alice, o que tá fazendo sentada na janela na hora de dormir?
- Pai, eu tinha que ver a lua! Disse Alice, muita calma, sem desviar os olhos da enorme lua que ilumina o céu.
Estava sentado atrás do computador, concentrado, tentando resolver uma questão. Alice chegou, cara preocupada, pensativa:
- Pai, você sabe escrever?
- Em Aramaico não, mas em português até que sei.
- Pai, disse nervosa, batendo os pezinhos no chão: não tô com tempo pra brincadeira.
Parei o que estava fazendo, encostei-me no apoio da cadeira e olhei o rosto sério de Alice:
- O que tem pra fazer que tá sem tempo?
- Eu tenho que pintar as unhas, diz Alice sem perder a seriedade.
A luz piscou pela terceira vez numa noite limpa de João Pessoa:
- Pai, por que a luz tá acabando tanto?
- Por que você acha que eu sei uma coisa dessas, Alice?
- Pai! O senhor já trabalhou no circo...
Entrei no quarto em silencio, sentei na cama e fiquei observando Alice conversando com as bonecas. Falava sobre as roupas novas e sobre como cada uma ficou bem vestida. Aí, sem motivo, que eu entenda, Alice grita:
- Pai! O que é alma?
- Sei não, minha filha, acho que sua mãe entende melhor disso.
- Tá! Vou perguntar pra ela... mãe...

Eu e Alice estamos na sala vendo um DVD de Alvin e os esquilos 3.
Cena de chuva na ilha.
Alice: pai, por que chove em um canto da ilha e no outro não?
Eu: sei não, Alice.
Alice: E por que é noite em canto da ilha e no outro não?
Eu: Sei não...
Alice: Pai, acho que esse filme é mal feito.
Aos três anos levei Alice em uma praia em Aracaju. Na água, ela lembra de uma conversa sobre peixe e pede para ir para o colo:
- Pai, aqui tem peixe espada?
- Acho que não, por que?
- Peixe espada faca a gente?
Estou em minha mesa fazendo uma moldura. Alice chega mansinha, como quem não quer nada:
- Pai, a gente pode ter um canguru?
- Para que quer um canguru?
- O canguru dá ganguruzada...
- E o que é ganguruzada?
- Sabe coice de cavalo?
- Humhum
- É igual, mas canguru dá de frente. Gangurus são muito nervosos.
Alice, na hora do almoço, na mesa, diz:
- Pai, por que as pessoas chiques usam um copo para cada coisa, um garfo para peixe, outro para carne?
- Sei não, Alice!
Ela para por um minuto, tentando entender a resposta, então diz:
- Acho que deve ser para desfacilitar as coisas.
Alice entrou correndo, vinda da rua.  Preocupada com o colega:
- Pai, o David não sabe andar de bicicleta.
- Sério?
- Sério! Diz ela exagerando ériooo. Eu tentei ensinar, expliquei pra ele que pra aprender a andar de bicicleta precisa cair, mas ele não quer.
Alice, com um regador plástico na mão, desses de brincar na praia, diz:
- Eu preciso dar água para minha uveira.
- Eu não sabia que você tinha uma uveira...
- Eu comi uma uva e plantei as sementes ontem.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

20 janeiro 2016

Alice

O gato de Alice - João Pessoa

Alice:
- Qual a cor dos seus olhos?
Mayara:
- Não sei, você que me diz, que cor você acha que é?
Alice:
- Hmmm... Deixa eu ver. Ao redor seu olho é escuro, tem uns riscos de verde bem clarinho, e azul no fundo, tem um pouco de amarelo e no meio tem uma bola preta.
Mayara:
- Então, no fim das contas, que cor é?
Alice:
- Cinza.

Voam abraços,
Mayara Floss

22 maio 2015

O PODER DO SUPER HERÓI

Ernande Valentin do Prado


Para Júlio Alberto Wong Un, especialista em poderes de Super Heróis.

Alice, com sete anos na Rua Carmem Coeli no Mangabeira, João Pessoa, juntava uma criançada danada para brincar. Quase sempre meninos. É muito engrado eles brincando com Barbie sem problema nenhum de macheza.
Essa semana a criançada fez um desfile de super herói e fiquei só ouvindo, como se não estive ali.
Alice andou pela passarela e disse:
- Eu tenho todos os poderes do mundo.
Em seguida veio Gabriel, o menino da rua de baixo:
- Eu tenho o poder de ser o mais lindo da escola e todo mundo se apaixonar por mim. (E disse isso com muita seriedade, tanto que ninguém rio ou protestou).
Fiquei em dúvida um instante, mas taí um poder original e terrível que nunca tinha visto um super herói ter.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]


25 julho 2014

EU NÃO NASCI ENFERMEIRO (ME CONSTRUÍ)

Ernande Valentin do Prado

Ontem à noite Alice estava tossindo muito.
Por isso encostei a orelha em suas costas.
Tinha esperanças de auscultar ruídos, sibilos: sinais de secreção. (ou não)

E neste gesto banal de pai
(sem deixar de ser enfermeiro)
deu uma baita saudade de ser Enfermeiro.

Alice é muito ativa,
tem muito dificuldade em ir para cama.
(e dormir)

Eu sou muito ativo,
tenho dificuldade em parar, deixar para depois
(meus afazeres tão importantes).

Mas, faz uns dias,
pactuei comigo mesmo que às 21 horas e 30 minutos,
paro o que estiver fazendo para por Alice na cama.

Não é fácil
(tenho certeza)
para nenhum dos dois.

Antes de deitar:
escovar os dentes e lavar os pés, que estão sempre sujos.
(Crianças (ou Alice) odora andar descalço).

Depois: escolher um livro, ontem foi O porquinho,
de uma coleção de livros com orelhas.
(uma fofurinha)

Alice tinha muita dificuldade para ler,
(achei até que era dislexia – os sintomas conferiam).
Mas de uma hora para outra começou a ler.

A leitura veio,
ao mesmo tempo em que passei a lhe dar um pouco mais de meu tempo
(sempre tão curto).

Ontem tossia demais
E ao encostar a orelha nas costas dela
Lembrei que faz tempo que não sou enfermeiro.

Eu não nasci enfermeiro, nem sai da faculdade enfermeiro.
Os acadêmicos que me perdoem,
mas ler um monte de livro e receber um diploma não faz um enfermeiro.

Aprendi a ser enfermeiro aos poucos.
Antes resisti.
Depois de um tempo me encontrei.

No começo dizia:
Sou profissional de saúde. Depois: sou profissional de saúde coletiva.
Depois: sou enfermeiro de Estratégia Saúde da Família.

Depois de muito tempo,
depois de muita negar,
depois de correr em outra direção.

Descobri que o que sou mesmo
é enfermeiro.
E gosto de ser enfermeiro.

Não sou como a maioria dos enfermeiros:
nem das enfermeiras,
(eu acho).

Não gosto de ver sangue, não gosto de doença
(não sei sintomas e nem fazer diagnóstico),
Não gosto de hospital.

Não uso jaleco branco,
não tenho esfigmomanometro,
não penduro estetoscópio no pescoço.

Não gosto de medicações,
Não sei (e nem quero aprender) a prescrever,
nunca abri um Brunner e Suddarth.

Os outros que me perdoem,
mas tratar de doenças (apenas pensando na cura)
pode não ser cuidar.

Cuidado mesmo pressupõe
(que palavra linda)
promoção de saúde.

O enfermeiro cuida
(ou deveria).
E isso não é fácil de explicar, mas não é difícil sentir.

Não estou enfermeiro
(mas não deixei de ser)
Volto quando puder.

[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 todas às 6tas]

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