Quando eu era pequena e comecei a usar canetas na escola um
dos meus objetivos era chegar até o fim de uma caneta, terminar ela, daquelas
bic azul. Eu pensava que eu já teria escrito tanto quando terminasse uma caneta
que ia ser muito esperta. Mas no final das contas eu sempre perdia a dita
caneta antes de chegar no fim. Nas últimas semanas, brigo com as canetas que
terminam, uma por semana, nas minhas mãos.
Isso me faz pensar no que esqueceram de me contar sobre a
medicina – é mais tempo preenchendo papel do que com os pacientes. O pior:
esqueceu o carbono em baixo da folha: repete. Um dado errado: repete. Errou:
repete. No plantão às 4 horas da manhã, preencher papéis se torna muito mais
maçante e cheio de repetições. E talvez junto com a tinta da caneta, vá se construindo
um conhecimento, um exame, um dado, e o principal, uma história.
Hoje terminou uma caneta no começo de uma consulta. Escrevi
tanto que ela chegou ao fim. Isso me deu uma alegria ao segurar e olhar o
plástico transparente só com aquela bordinha azulada da caneta. Comecei a
procurar outra caneta, até que a paciente tirou uma caneta da bolsa: - Ó doutora
fica pra você, você escreve bastante -.
* Imagem retirada do site: http://www.elianatine.com.br/caneta-esferografica/
Voam abraços,
Mayara Floss