Ernande
Valentin do Prado
E a morte é como pai
Que bate na mãe e rouba os filhos do prazer
De brincar como se não houvesse amanhã
Que bate na mãe e rouba os filhos do prazer
De brincar como se não houvesse amanhã
Supercombo
Dizem que a operação Zelotes, da
Política Federal, aquela que investiga a lista de sonegadores
beneficiados pelo
esquema do Banco HSBC – lembra? Não sei, não vi, mas afirmam que nesta lista
tem o nome do Ratinho, da Claudia Arraia, da Família Marinho, dona da Rede
Globo, dos proprietários do Jornal Folha de São Paulo, de vários políticos
tradicionais que se passam por pessoas éticas, honesta e que lutam contra a
corrupção do governo do PT.
Enfim, dizem que, se divulgada, a operação
Zelotes poderia mostrar desvios e sonegações de impostos na ordem de mais ou
menos 500 bilhões de dólares. Se conseguissem de volta apenas metade destes
recursos, parece que evitaria a atual crise fiscal, não é verdade? Além disso,
mostraria muita gente, que hoje aponta o dedo para o governo (e até atira a
primeira pedra) com as calças na mão e, quem sabe, até com a bunda suja.
Tem gente dizendo que os esquemas do sistema
financeiro, em especial do HSBC, fariam a operação Lava Jato parecer coisa de
reles batedores de carteira. Não duvido, os poços, nestes casos, podem ser bem
mais fundo e ter mais lama do que se pode limpar.
Desvio de dinheiro para o exterior é coisa que
se faz neste país, ao menos desde que ele foi invadido pelos portugueses –
ainda estão aí os descendentes da família real do imperador, que se
beneficiaram de todo esse esquema e provavelmente são testemunha oculares (e
atiram pedras também). Mas, como nada é
divulgado, como as investigações não avançam, a gente não fica sabendo de muita
coisa.
Essa situação, silencio da mídia e do
judiciário sobre as investigações de desvio de dinheiro no esquema do HSBC,
enquanto se faz estardalhaço com as questões da Lava Jato, não deixa de ser uma
vitória dupla. Ganha quem quer acreditar que a corrupção foi inventada pelo PT,
e ganha aquela parte do PT que quer fazer-nos acreditar que tudo isso que se denúncia
é um complô da direita, que não existe corrupção, que tudo isso foi inventado
pela direita branca e raivosa, que o Zé é vítima, que está sendo perseguido por
ser revolucionário e defender os mais pobres.
Acho que tudo que o PT e o PSDB falam um do
outro, assim como o que se fala do asbesto, são verdades. E penso que é cego (ou
mal-intencionado) quem acredita em apenas um dos lados ou que o asbesto não é
cancerígeno.
Como não se fala da operação Zelotes, como
forma de economizar e até de arrecadar recurso, fazer justiça, pôr na cadeira
corruptores corruptos, falam em criar mais um imposto, a CPMF.
Gosto da CPMF porque ela obriga todos a paga-la
e, é o mesmo valor para todos, ao menos proporcionalmente. O que, ao meu ver, é
bastante equitativo e obedece ao princípio de justiça social: cada um pagando
segundo sua renda e contribuindo com o todo. É inclusive uma questão de solidariedade
e, a ganancia (ou melhor, farinha pouco meu pirão primeiro) explicaria parte
dos motivos de ser contra (embora não seja o caso de todos que não são
favoráveis a ela). Mas não sou muito bom de matemática e posso estar engado
quanto a isso. Vai ver a CPMF é realmente tão ruim para mim, que não percebo
que ela está sendo cobrada, quanto é para o proprietário do Bradesco, para a
Xuxa, para FHC, que tem aposentadoria de 23 mil reais mensais (e nem por isso é
contra, ao menos não era, quando foi o príncipe da privataria), como é para o Eduardo
Cunha. Eles não terão como ignorar a CPMF, como eu, como boa parte do povo, ou
têm?
Não sou só a favor da CPMF, mas de qualquer
outro imposto que cobre de forma igual todos e não apenas quem ganha menos, que
não sabe e não quer sonegar. Acho, inclusive, que se trocassem todos os
impostos, por outros que taxassem pela renda, o mesmo percentual para todos,
seria ótimo e simplificaria a cobrança. Assim, proporcionalmente, tanto eu
quanto o Gilmar Mendes (que recebe um alto salário, pago com dinheiro de
impostos, para defender tudo que é contra a população) ou os corruptores da
Lava Jato, pagaríamos a mesma coisa, desde que não façam como fazem hoje, ou
seja, enviem o dinheiro para a Suíça, por baixo dos panos do HSBC, mais ou
menos, porém de modo profissional, como faz quem carrega dólar na cueca.
Por princípio, não sou só a favor de importo
que incida na renda, mas de impostos de um modo geral. Afinal, minha filha
estuda em escola pública (estes dias chegou em casa com um tênis novo, ganhou
na escola), eu, tenho minha renda através do estado, estudo em faculdade
pública, uso o SUS. Quando ando na rua (de minha cidade, não nas ruas de Miami,
que não conheço), piso em calçamento pago com dinheiro público (de impostos), o
lixo coletado em casa, três vezes por semana, não vai embora por milagre, mas
porque os trabalhadores da coleta são pagos com dinheiro de impostos (uma
mixaria, pelo tamanho do benefício). A luz que ilumina os postes na rua, a água
que abastece minha torneira, são pagos com dinheiro de impostos. Até quem
estuda no exterior, com bolsa do programa ciência sem fronteira ou qualquer
outra bolsa chique que se destina à classe média, que eu saiba, faz com
dinheiro de impostos (e não é mixaria, pela quantidade de gente que se
beneficia disso), assim como quem recebe bolsa família. Também as grandes
empresas, beneficiadas com subsídio, com renúncia fiscal, financiamentos para
linhas de crédito que aumento a produção, infraestrutura, o consumo, são também
beneficiadas com dinheiro de impostos. Até a polícia, que recolhe playboy
fazendo racha com carro importado ou despeja de áreas ocupadas, quem não têm
onde morar (na base da porrada), a mando do judiciário em conivência com o executivo
e os proprietários das terras (muitas vezes griladas), faz isso porque está a
serviço do estado (que paga seu soldo com recursos de impostos). Impostos,
inclusive pagos por quem é despejado. Sem imposto, quem pagaria por isso?
Então, assumo, sou a favor de impostos, e não
apena da CPMF. Acho que se ele aumentasse, principalmente para quem paga pouco,
seria mais do que bom, seria ótimo. Sou a favor de taxar mais os cigarros, os
combustíveis para carros de passeio, helicóptero, jatinhos particulares, que dá
superioridade para a burguesia ostentação e poluição para todos, quem sabe
taxando esse tipo de combustível, não se poderia ter tarifa zero no transporte
(que passaria a ser de fato público)? E joias, relógios de luxo, Iphone, roupas
de marcas famosas, tênis de 800 reais (produtos estes, dizem, feitos por
trabalhadores escravizados ou muito precárizados e até por crianças). E quanto
aos jantares (máster chef) de dois mil reais por pessoa, bolsas de 15 mil
(geralmente feias), vestido de 150 mil (algumas vezes ridículos e vestindo
pessoas desprezíveis). E o que dizer dos agrotóxicos aplicados nas lavouras de
soja, que envenenam a terra, os rios, as pessoas, mas fazem bilionários no
agronegócio? Esses tipos de consumo não poderiam ser melhores taxados e essas
taxas usadas para minimizar seus males?
Eu assumo, se é para ter estado
(particularmente preferia me virar com meus vizinhos, mas já que não dá) já que
não dá para gente se virar sozinhos, sou a favor de cobrar impostos, cada vez
mais, assim como sou a favor de ter um estado cada vez mais voltado para
atender os interesses da maioria, do bem-estar das pessoas, dos animais, da
fauna e da flora, de rios limpos, de produção de energia limpa, de menos
rodovias e mais ciclovias. Sou a favor da proteção ambiental, amparo à infância,
aos idosos, aos inválidos, aos doentes, aos fracos e oprimidos, enfim, sou
favorável a não deixar ninguém sem oportunidades: casa, saúde, educação,
cultura, lazer, alimentação, vestimentas.
Quem mais ganha, mais tem, mais é beneficiado
por ações do estado: com bolsa de estudo no exterior para seus filhos, vagas
nos melhores cursos das universidades públicas, benefícios ficais variados,
salários exorbitantes, como do judiciário (que pouco benefício nos traz), com
bairros mais seguros, ruas mais limpas, arborizadas. No entanto, são exatamente
os mais raivosos defensores do estado mínimo, do fim dos impostos, do cada um
por si e deus contra todos.
Tudo isso custa dinheiro (enquanto for assim
que o mundo se organiza) sou favorável aos impostos: sou favorável que planos
de saúdo não tenham subsídios (hoje quem paga convênio de saúde pode descontar
uma parte dos impostos devido, ou seja, quem tem mais, continua tendo mais
benefícios do estado). Além disso, os planos deveriam pagar por tudo que cobram
dos clientes, mas é executado pelo SUS. Sou a favor de taxar lucro, grandes
fortunas, heranças. Enfim, não sou a favor só de impostos, mas de outro tipo de
relação entre os seres humanos, uma que não se guie por defender apenas seus
direitos de ter, sem olhar o que outros não tem.
Claro, o fato de ser favorável a existência de
impostos, não quer dizer que sou (ou estou) a favor da forma como eles estão sendo
gastos, mas essa é outra conversa, não é mesmo?
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]