Ernande Valentin do Prado
I
Maria não
vê saída,
não
sabe o que fazer,
sente-se
desesperada.
Chove,
depois de oito meses sem água dos céus.
As
viaturas da repressão estão enfileiradas.
Os
homens encharcados cercam o galpão.
Quando
se cansarem vão entrar.
Sem
dó.
Sem
piedade. Dispostos a tudo.
“Nós
vamos entrar,
ou prefere saia agora?
(Mostrando
os peitos, de preferencia.)
Melhor
morrer.
Pensa
Maria.
Sem
saber se isso já não aconteceu.
Luzes
entram pelos vidros quebrados.
Um
helicóptero sobrevoa o galpão.
Atiradores
se posicionam.
“Acabou,
Maria!
Melhor
sair de uma vez.
Hoje
é seu dia, cadela safada.”
“Viva
não”
Fala
baixinho, Maria.
As
mãos ainda sujas de sangue.
Vocês
não conhecem minha história.
Viva não saiu.
Viva.
Lá
fora, todos homens.
Todos
de preto, todos armados.
Diz
a voz em sua cabeça.
“E
não foi sempre assim?”
Grita
Maria.
“Homens
em pé, mulheres de joelhos”?
Só
mais um dia.
Só
mais um dia.
Muito
comum: “filhos-da-puta, comedores de carniça”.
Maria
chora:
Agora
acabou.
Agora
acabou. (Ainda bem).
Diz
a voz:
Maria
morre hoje.
Depois
silêncio.
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa
das 10 às 6tas-feiras]