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10 abril 2015

MARIA

Ernande Valentin do Prado
II

Os homens estão molhados da chuva. A água cheira mal.
Estão com frio, com raiva, com fome, com sono.
“Vamos acabar logo com isso.”

Tanto trabalho por uma simples mulher.
Se o frouxo do marido tivesse posto ordem em casa...
Caralho! Queria ir pra casa.

O helicóptero ilumina o galpão,
O caveirão avança pelo rua,
Os homens invadem.

Todos armados, todos com sangue nas intenções,
Todos querendo morte... (hoje).
(E não foi sempre assim?)

Maria não está em parte nenhuma.
O helicóptero se afasta,
Os homens vão para casa sem matar ninguém... (hoje).

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

24 outubro 2014

MARIA

 Ernande Valentin do Prado

I

Maria não vê saída,
não sabe o que fazer,
sente-se desesperada.

Chove, depois de oito meses sem água dos céus.
As viaturas da repressão estão enfileiradas.
Os homens encharcados cercam o galpão.

Quando se cansarem vão entrar.
Sem dó.
Sem piedade. Dispostos a tudo.

“Nós vamos entrar,
ou prefere saia agora?
(Mostrando os peitos, de preferencia.)

Melhor morrer.
Pensa Maria.
Sem saber se isso já não aconteceu.

Luzes entram pelos vidros quebrados.
Um helicóptero sobrevoa o galpão.
Atiradores se posicionam.

“Acabou, Maria!
Melhor sair de uma vez.
Hoje é seu dia, cadela safada.”

“Viva não”
Fala baixinho, Maria.
As mãos ainda sujas de sangue.

Vocês não conhecem minha história.
Viva não saiu.
Viva.

Lá fora, todos homens.
Todos de preto, todos armados.
Diz a voz em sua cabeça.

“E não foi sempre assim?”
Grita Maria.
“Homens em pé, mulheres de joelhos”?

Só mais um dia.
Só mais um dia.
Muito comum: “filhos-da-puta, comedores de carniça”.

Maria chora:
Agora acabou.
Agora acabou. (Ainda bem).

Diz a voz:
Maria morre hoje.
Depois silêncio.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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