Ernande
Valentin do Prado
Li
estes dias a seguinte frase:
“Para mim a verdade não
interessa”.
Para mim também não (ao menos tento
exercitar essa postura todo dia), por isso não pretendo falar nenhuma verdade
neste texto. Se busca verdades, pare de ler agora.
Quem disse a frase foi Humberto
Maturana, que muitos devem conhecer, mas só conhecia de ouvir fala, agora, em
duas semanas, estou no segundo livro (Cognição,ciência e vida cotidiana). Na verdade, ou melhor, na minha verdade ou na realidade entre parênteses, ele
escreve como eu gostaria de escrever e fala coisas que eu intuía e até dizia,
mas sem a mesma credibilidade, pois como ele mesmo diz, as pessoas estão sempre
procurando uma referência fora de si que comprove sua verdade. Besteira
impraticável, segundo ele.
Lembrei-me disso
particularmente porque em um seminário de espiritualidade e saúde (que tem a
ver com o que vou falar em seguida) uma pessoa disse que respeitava todas as
religiões, todas as crenças, todas as igrejas, mas que ela tinha fé só no Deus
verdadeiro.
Isso é respeito
ou tolerância? Segundo Maturana, tolerar não é respeito. Tolerar é permitir o
erro do outro até que ele deixe de errar. Respeitar é aceitar que há outras
verdades.
Será que existe
mesmo um Deus verdadeiro? E será que isso tem alguma importância? O mais
importante não seria conviver com o outro em paz e aceitar as diferenças
simplesmente pela beleza da diferença?
Particularmente,
naquela instante, antes de ler Maturana, fiz uma fala dizendo que não sabia
exatamente em que acreditar, mas que certamente não acreditava no Deus
verdadeiro.
Ontem li um
texto na internet, nem sei por que fiz isso, que falava sobre como a mulher
crente deveria escolher seu marido. A primeira e única regra que li dizia
respeito a não escolher um não crente. Aí lembrei que a maioria das pessoas que
conheço (não crentes) são bem mais humanas e crentes do que os crentes (ao menos a maioria dos que conheço).
Milhares
de guerras já foram feita em nome do Deus verdadeiro. Bush ,
que é um homem crente, tentou eliminar da face da terra os infiéis do Iraque
com a desculpa de que eles tinham armas de destruição em massa. Fico pensando que
a lógica é mais ou menos a de que apenas crentes no Deus verdadeiro (Bush) podem ter armas de destruição em massa
(Estados Unidos da América do Norte), pois destinam-se a exterminar apenas enfies
no Deus verdadeiro.
Será
que as mulheres deveriam se casar com um fiel como Bush, simplesmente por ser
crente?
Tenho
três filhas lindas, que certamente ainda acreditam em um Deus verdadeiro. Espero
que, quando chegar a hora, tenham sabedoria e discernimento suficiente para
saber distinguir as coisas sem o filtro dos que se acham sabedores da verdade
verdadeira.
[Ernande
Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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