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19 julho 2017

Cuidado


Desci no interior após alguns quilômetros de estrada de chão. Sentei embaixo do cedro em frente a casa da benzendeira, não sem antes pedir quem era o último da fila. Ali todos se organizavam, assim, calmamente a espera para uma benzedura leva de uma à quatro horas.  

Lá num lugar quieto só com o barulho do trator ao longe e uma ou outra conversa chegou de repente uma ambulância de uma cidade próxima. Uma ambulância que depois de sair do hospital, passou levar as pessoas até a benzedeira, como estava do lado de fora ajudei o motorista a manobrar e estacionar o carro grande demais para as estreitas ruas do interior.  

Quando puxou o freio de mão. Uma família desceu do carro devagar e sentaram na fila de espera. "Como é paciente de ambulância tem prioridade" explica a benzedeira que leva eles para o quarto onde benze. Saem sorrindo e voltam para a ambulância. O motorista diz que toda semana alguém pede para passar na benzedeira. 

Abraços que pousam,
Mayara 





15 junho 2016

Sabedorias

 
Pequeno estabelecimento de chás no Centro de Rio Grande
 
Uma mulher negra, mãe de santo levantou o dedo e explicou:
- existem dois tipos de doença: a do espírito e a do material. - suspirou e seguiu com veemência -
Qualquer doença sempre começa no espírito e depois vira doença de médico no material - e seguiu com força - daí vira câncer, dor de garganta ou o que for, mas eu trato o espírito

Voam abraços,
Mayara Floss

11 julho 2014

A VERDADE VERDADEIRA


Ernande Valentin do Prado

Li estes dias a seguinte frase:
“Para mim a verdade não interessa”.
Para mim também não (ao menos tento exercitar essa postura todo dia), por isso não pretendo falar nenhuma verdade neste texto. Se busca verdades, pare de ler agora.
Quem disse a frase foi Humberto Maturana, que muitos devem conhecer, mas só conhecia de ouvir fala, agora, em duas semanas, estou no segundo livro (Cognição,ciência e vida cotidiana). Na verdade, ou melhor, na minha verdade ou na realidade entre parênteses, ele escreve como eu gostaria de escrever e fala coisas que eu intuía e até dizia, mas sem a mesma credibilidade, pois como ele mesmo diz, as pessoas estão sempre procurando uma referência fora de si que comprove sua verdade. Besteira impraticável, segundo ele.
Lembrei-me disso particularmente porque em um seminário de espiritualidade e saúde (que tem a ver com o que vou falar em seguida) uma pessoa disse que respeitava todas as religiões, todas as crenças, todas as igrejas, mas que ela tinha fé só no Deus verdadeiro.
Isso é respeito ou tolerância? Segundo Maturana, tolerar não é respeito. Tolerar é permitir o erro do outro até que ele deixe de errar. Respeitar é aceitar que há outras verdades.
Será que existe mesmo um Deus verdadeiro? E será que isso tem alguma importância? O mais importante não seria conviver com o outro em paz e aceitar as diferenças simplesmente pela beleza da diferença?
Particularmente, naquela instante, antes de ler Maturana, fiz uma fala dizendo que não sabia exatamente em que acreditar, mas que certamente não acreditava no Deus verdadeiro.
Ontem li um texto na internet, nem sei por que fiz isso, que falava sobre como a mulher crente deveria escolher seu marido. A primeira e única regra que li dizia respeito a não escolher um não crente. Aí lembrei que a maioria das pessoas que conheço (não crentes) são bem mais humanas e crentes do que os crentes (ao menos a maioria dos que conheço).
Milhares de guerras já foram feita em nome do Deus verdadeiro. Bush , que é um homem crente, tentou eliminar da face da terra os infiéis do Iraque com a desculpa de que eles tinham armas de destruição em massa. Fico pensando que a lógica é mais ou menos a de que apenas crentes no Deus verdadeiro  (Bush) podem ter armas de destruição em massa (Estados Unidos da América do Norte), pois destinam-se a exterminar apenas enfies no Deus verdadeiro.
Será que as mulheres deveriam se casar com um fiel como Bush, simplesmente por ser crente?
Tenho três filhas lindas, que certamente ainda acreditam em um Deus verdadeiro. Espero que, quando chegar a hora, tenham sabedoria e discernimento suficiente para saber distinguir as coisas sem o filtro dos que se acham sabedores da verdade verdadeira.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]



11 junho 2014

A cura das almas


Livro de anotações no Sint-Janshospital


Fui visitar Brugge na Bélgica e aproveitei para ver a minha prima que não via há mais de ano. Em Brugge passei por um museu de hospital criado no século XII, o Sint-Janshospital. O Hospital foi uma iniciativa das autoridades municipais e de uma burguesia rica da época. Eu quase não entrei no hospital: “tem tanto disso no meu dia-a-dia”. Mas depois que o namorado da minha prima insistiu, adentrei as portas de pedra do antigo hospital. Logo cheguei e pensei “ainda bem que eu vim”.

Encontrei algumas pinturas famosas daquelas que você encontra recorrentemente nas aulas do primeiro ano da faculdade. Uma coisa muito legal foi ver as anotações dos médicos da época (há mais de 1000 anos atrás), os desenhos, os prontuários médicos enrolados como pergaminho.  Mas não foi isso que me impressionou de fato. Foi cantinho falando da história do hospital falando no tratamento da alma.

Estava escrito: “A morte em um hospital não era incomum. Por isso, a atenção espiritual estava fortemente presente. Sint-Jan contava com o seu próprio cura. O hospital tinha o direito de enterrar os mortos. A capela do hospital era parte da sala hospitalar. A devoção dos santos e da cultura popular religiosa estavam intimamente relacionados com o funcionamento do hospital. As freiras assistiam o cura quando um paciente ia morrer.”

Em 1188 quem entrava no hospital eram as pessoas em apuros, os viajantes e peregrinos. E as principais “virtudes” do hospital era a hospitalidade e a caridade. Outra passagem que chamou atenção foi que até a metade do século XIX o hospital não era um centro médico como hoje. Como o conhecimento médico era limitado, as pessoas recorriam a remédios alternativos. E por isso era tão evidente a busca da “cura das almas”.

Fiquei a pensar. A medicina avançou tanto que praticamente tudo que não é aferível não é válido. Como disse Helman (2009, p.113): “Quando um fenômeno não pode ser observado ou medido objetivamente por exemplo, as crenças de uma pessoa sobre as causas de uma doença, tal fenômeno é, de certa forma menos ‘real’ do que algo como o nível da pressão arterial do paciente ou a sua contagem de leucócitos (...)”¹.

Dá-se mais valor a medição, a contagem, ao índice, ao órgão do que a pessoa, do que as palavras do paciente. Da história e da vida que está por trás da anamnese. Quantos séculos vamos ter que voltar para falarmos que não são só as medidas? Quanto nós “avançamos” e quanto nós “retrocedemos” nessa caminhada?

Ainda falava-se de remédios alternativos. Composição das plantas. Na parte psiquiátrica do hospital estava escrito sobre “perturbação do espírito”. Sempre quando deparo com isso penso que a visão biológica é apenas uma das maneiras de compreender e analisar a pessoa.  A cura das almas não é tão aferível, assim como a visão biológica não é a maneira mais, única ou melhor de compreender um indivíduo. 

Sint-Janshospital

¹ HELMAN, C. G. Cultura, Saúde e Doença. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 431 p.


[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]

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