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Desenho de John Holcroft |
O despertador continua tocando na minha cabeça. Escuto o som
das vibrações. As mesmas três notas vibrando em minha cabeça. Já no ônibus
entre despertar e dormir, talvez um sono desperto, talvez um despertar
sonolento. Embalo-me no tráfico chuvoso. Feliz por ter um banco para sentar e
não estar mais em baixo da chuva. Antes de chegar no trabalho já penso na
volta. Antes de chegar da volta já penso na manhã seguinte e nas poucas horas
de sono. Vivo de cansar até o final de semana, e dos descansos cronometrados
pelo despertar do celular. Dormi de mais, dormi de menos, mas nunca dormir o
suficiente. Respiro fundo com o mesmo semblante compartilhado, não sei se torço
para o ônibus continuar preso no trânsito e poder dormir mais um pouco ou se
quero chegar logo para não me atrasar. No final das contas estou sempre
atrasada. Ainda consigo sorrir para a mulher que entra no ônibus pulando por
fugir da chuva. Mas logo a monotonia domina meu sorriso. É o despertar de
parada em parada. Um susto para descer do ônibus. Um susto para não perder o
horário. Um susto quando acordo com o despertador um ano depois e sinto que não
mudou nada. As mesmas três notas vibrando na minha cabeça. A mesma sede de
continuar tudo como está ao meu redor. As mesmas reclamações e verborragia.
Talvez deva mudar. Talvez trocar o toque do despertador. Talvez deva desligar o
despertador. Parece que você se acostuma com a
chamada alerta. Talvez deva apenas despertar.
Voam abraços,
Mayara Floss
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