16 setembro 2015

Despertar

Desenho de John Holcroft



 O despertador continua tocando na minha cabeça. Escuto o som das vibrações. As mesmas três notas vibrando em minha cabeça. Já no ônibus entre despertar e dormir, talvez um sono desperto, talvez um despertar sonolento. Embalo-me no tráfico chuvoso. Feliz por ter um banco para sentar e não estar mais em baixo da chuva. Antes de chegar no trabalho já penso na volta. Antes de chegar da volta já penso na manhã seguinte e nas poucas horas de sono. Vivo de cansar até o final de semana, e dos descansos cronometrados pelo despertar do celular. Dormi de mais, dormi de menos, mas nunca dormir o suficiente. Respiro fundo com o mesmo semblante compartilhado, não sei se torço para o ônibus continuar preso no trânsito e poder dormir mais um pouco ou se quero chegar logo para não me atrasar. No final das contas estou sempre atrasada. Ainda consigo sorrir para a mulher que entra no ônibus pulando por fugir da chuva. Mas logo a monotonia domina meu sorriso. É o despertar de parada em parada. Um susto para descer do ônibus. Um susto para não perder o horário. Um susto quando acordo com o despertador um ano depois e sinto que não mudou nada. As mesmas três notas vibrando na minha cabeça. A mesma sede de continuar tudo como está ao meu redor. As mesmas reclamações e verborragia. Talvez deva mudar. Talvez trocar o toque do despertador. Talvez deva desligar o despertador. Parece que você se acostuma com a chamada alerta. Talvez deva apenas despertar. 

Voam abraços,

Mayara Floss

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