Histórias
de motoristas de uber
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Imagem capturada no Google, 2018. |
Ernande Valentin do Prado
— Vou para o condomínio Bosque das Orquídeas...
Eu disse, após falar “bom dia”,
sentar e colocar, quase automaticamente, o cinto de segurança.
Leonardo perguntou:
— Sabe ir até lá?
— Sei que vira aí, onde estão
virando aqueles carros...
Melhor ligar o GPS, concluiu.
Leonardo, ao se aproximar,
acendeu as duas setas ao mesmo tempo, sinal característico dos motoristas de
Uber. Eu acenei. Estava no ponto de ônibus na Avenida Epitácio Pessoa, quase
frente a CGU. Quase 40 minutos esperando um ônibus que parece que nem passa por
ali, de tão demorado.
— Você não é daqui?
— Não. Tem só uma semana que
estou em João Pessoa.
Disse o simpático motorista,
sem desviar o olhar da pista.
— ...vim do Rio.
Quinze anos no Rio, morava na
Rocinha e era gerente de Padaria, mas cansou de ver a esposa preocupada cada
vez que ele saia para trabalhar, cada vez que ouvia um tiroteio, cada vez que
sabia de um assalto. Resolveu ouvir a esposa e vieram para João Pessoa em busca
de uma vida mais tranquila. Espalhou currículos pela cidade e está esperando,
enquanto isso dirigi Uber. Já tem uma semana...
— Ao menos não tenho que por a
mão no bolso...
...para o futuro espera
conseguir um trabalho com carteira assinada. Também tem planos de converter o
carro para gás, assim poderá ganhar mais, porque a gasolina está muito cara.
— ...semana passada consegui
pagar todas as despesas e ainda comprar algumas besteiras que faltavam em casa.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]
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