A Janela |
- A pesca mudou muito Mayara - estava a me
contar Suzi - era muito bonito antes - fico olhando-a - agora é quase
tudo industrial. - respondo apertando os lábios.
- A culpa dos
meus filhos terem virado pescador é minha, eu levava eles pequenos para
pescar comigo, não tinha com quem deixar colocava eles no bote e ia
pescar, desde pequenininhos - ela sorri, eu sorrio também é pergunto -
mas dai era pesca artesanal? - ela responde - Sim, era pesca artesanal,
tinha o brilho, é diferente das redes de hoje que pegam tudo e matam
tudo, tem que saber cuidar e preparar, tem peixe que eles jogam fora e
dá para comer, fica igual a atum de latinha só cozinhar com vinagre,
óleo e sal na panela de pressão - ela segue - mas agora a malha pega
todos os peixes, não sobra nada para o pescador artesanal, eles vem
roubam todos os peixes, deixam a sujeira e depois a culpa é de quem? Do
pescador artesanal -.
Nos olhamos, ela continua - você tem
que ver Mayara, como é bonito quando íamos pescar os camarões à noite e
colocava a luz enquanto ia enchendo a rede e depois colocava no bote
tinha tanto brilho, depois a gente já limpava para ganhar um pouco mais
de dinheiro no mercado público. O peixe então, Mayara, tinha brilho, as
escamas passavam assim e batia um brilho no olho - enquanto ela explica o
movimento do peixe com as mãos ondulando.
- Aí eu já limpava o peixe para ganhar mais dinheiro nas postas de filé... Agora não é mais assim Mayara, não é.
Pergunto-me se esse brilho da pesca é como o mesmo brilho que se perde nos olhos dos profissionais da saúde?
Abraços que pousam,
Mayara Floss