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08 novembro 2015

SE A RESSOCIALIZAÇÃO FOSSE ANUNCIADA COMO UM PRODUTO DE MERCADO, COMO SERIA?

Greg Andrade


Egressos do sistema prisional, com variados níveis de condenação e multiplicidade de delitos se candidatam à reinserção social.
Os candidatos possuem:
1.      Baixa escolaridade e/ou são considerados analfabetos funcionais;
2.      Qualificação profissional incompatível com os padrões do mercado de trabalho;
3.      Alto índice de reincidência criminal;
4.      Laços familiares rompidos, que resulta em permanente desestruturação familiar;
5.      A grande maioria sequer foi socializada/incluída...
Está aí o nosso produto, lhe parece vendável?
Sinceramente não acredito que a sociedade o compre. É um produto que não dá qualquer tipos de garantia.
Será que um Pai de família acredita na ressocialização de um estuprador, mesmo tendo se passado anos da condenação?
Você colocaria sua filha para conviver com ele, o estuprador?
Um assassino contumaz, se ressocializa?
Quanto tempo se leva para um egresso se ressocializar?
Meses, anos, uma vida ou temos que contar com a eternidade?
O Estado com tantas deficiências consegue dar cumprimento à Lei de Execuções Penais e reinserir este indivíduo no meio social?
Qual a garantia que o empresário tem de que o egresso do sistema prisional não voltará a cometer crimes, que sua empresa não será arrombada na calada da noite, em virtude de informações privilegiadas? Que nenhum familiar, ou ele mesmo, não será vítima de sequestro?
Uma palavra governamental pode lhe dar alguma segurança?

O cidadão de "bem" realmente contrataria esse indivíduo, acreditando num processo ressocializador, ou somos bem feitores querendo salvar a humanidade?
A verdade é que não temos respostas, porque o nosso produto é humano: seres individuais, inigualáveis, perfeitos na sua imperfeição, anjos e demônios travestidos num corpo de carne. Ainda não criamos uma vacina para tratar essa doença, somente leis humanas e condutas morais. O mito da ressocialização existe desde os primórdios. O que fazer com Caim, após a morte de Abel?
O preso é simplesmente o reflexo de nós mesmos, aquele que teve maior coragem, ou se assim o quiserem, maior desequilíbrio no momento da ação delituosa. O egresso sou eu, o egresso é a face viva de nós mesmos, pois não somos melhores ou piores do que os que estão aprisionados. Não faremos diferença alguma se nos colocarmos num pedestal, como aquele que conhece o caminho a ser seguido.
A vida e as dores, bem como a alegria e os acertos competem às individualidades. Como o egresso do sistema prisional, não pode dar garantias de sua recuperação, tampouco os homens de "bem", não poderão garantir que um dia não cometerão crimes...


Gregório Antonio Fernandes de Andrade, (Greg Andrade), Advogado, sobrevivente do sistema carcerário brasileiro, Ativista e militante em Direitos Humanos no Coletivo PESO – Periferia Soberana.


[Greg Andrada foi convidado por Ernande: convidado publica na Rua Balsa das 10 aos sábados e domingos.] 

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