12 fevereiro 2014

Espera


Comunidade da Barra - Foto: Ernande
 “Que medo alegre, o de te esperar” - Clarice Lispector

    Mal você sai de uma espera uma grande-pequena revolução na sua vida e já emenda em outra. Um instante do amarrar de cadarço de sapato, de olhar para a rua, de deixar a chuva correr pelo rosto. Vi-me esperando impaciente querendo a aprovação certa do que achava certo e é assim que e educação popular nos ensina a paciência. 

    Não foi uma visita, nem uma escuta, nem um instante. Mas foram vários olhares, abraços, carinhos. Essa é a mágica envolvente ensinar a amar e cuidar com calma e paciência. Meus olhos ansiosos, foram aprendendo a maré serena de pescadores. Contudo não é essa espera pacata, se temos que esperar que seja para semear como disse Cora Coralina. 

    E eu acabei esperando para poder juntar as minhas mãos em semeadura. Esperando e não desesperando aprendi sobre a fina navalha do tempo que riscou as histórias, que nas mãos artesãs costurou o fio que tece a vida. A espera tem esse movimento, as coisas que acontecem enquanto esperamos e despercebidos a ação acontece e os planos certeiros são descosturados para novas linhas. 

      O tempo vai entregando o jogo de carta em carta. O que não fazia sentido nenhum no começo começa a se encaixar, os encontros, uma lâmpada de 500 velas, a pupila brilhante, a espera com as cadeiras já prontas para a reunião. Essa espera que desperta e entrega. Aprendemos tudo rápido, raciocínios instantâneos, slides, grandes discursos, condutas, práticas e desaprendemos que nem tudo é fast food ou comida de micro-ondas. Porém, a comunidade é um berço para busca, para saídas complexas, labirintos, desassossegos. E da mesma vontade de ser mais somos aprendizes dessa paciência pescadora que joga as linhas da vida. 

    Não basta grandes projetos, negócios, ou invenções; sem mãos, paciência e construção. Sem compreender os riscos e os rostos. Sem dividir em silêncio um chimarrão, o calor do verão ou o frio do inverno. Não, educação popular não é da noite do dia, é das noites e dos dias (e das madrugadas insones).  Desses artesãos com ou sem jaleco que vivem com sonhos e espera.   

Rosane segurando a Lâmpada de 500 velas, muita história da comunidade da Barra em um "bulbo" de luz - Foto: Mayara

[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]

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