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15 fevereiro 2017

Cometa X


Quando eu era pequena assistia o  castelo Ra-Tim-bum, adora o Nino, o tio Vitor, a Morgana, o Pedro, a Biba e o Zequinha. Um dos episódios era o do cometa X. E o enredo contava a história do cometa, que ele passava a cada cento e tantos anos. Assisti esse episódio inúmeras vezes. E todas as vezes que assistia eu sentava no sofá da sala (sem encostar os pés no chão) com aquelas almofadas bem grandes com desenho de leão, e na minha cabeça de criança eu achava que o cometa X ia passar também naquela noite no meu prédio, o edifício Acácia na Av. Getúlio Vargas. Então ficava esperando anoitecer olhando para o céu na sacada para aguardar o cometa X. Passava um tempo e eu esquecia do cometa. Lembrava às vezes no outro dia quando já era tarde, outras vezes lembrava a noite e ficava olhando do o céu por entre os buracos da rede de proteção Branca, no nono andar.

Fato é que o cometa nunca passou e eu pensava tudo bem, próxima vez eu assisto, ou fazia as contas de quantos anos eu ia ter na próxima vez que o cometa X passasse, 1006 anos? 1007?

O Nino dizia! "Só daqui 1000 anos" de novo, o Dr. Vitor dizia que era apenas um jovem de 1000 anos. Mas, minha avó tinha quantos anos mesmo? Eu ia viver 1000 anos para o próximo cometa? Ou dentro de mim, até o próximo episódio do cometa X.

Era um ciclo de espera do cometa, guardava um pedido para fazer para o cometa. Cada vez um pedido diferente, uma espera diferente.

Cresci e ontem olhando para o céu lembrei do cometa X, do castelo Rá-Tim-bum e da espera. Olho para o céu e me descubro esperando o cometa X.


Abraços que pousam,
Mayara Floss

25/12/16

12 fevereiro 2014

Espera


Comunidade da Barra - Foto: Ernande
 “Que medo alegre, o de te esperar” - Clarice Lispector

    Mal você sai de uma espera uma grande-pequena revolução na sua vida e já emenda em outra. Um instante do amarrar de cadarço de sapato, de olhar para a rua, de deixar a chuva correr pelo rosto. Vi-me esperando impaciente querendo a aprovação certa do que achava certo e é assim que e educação popular nos ensina a paciência. 

    Não foi uma visita, nem uma escuta, nem um instante. Mas foram vários olhares, abraços, carinhos. Essa é a mágica envolvente ensinar a amar e cuidar com calma e paciência. Meus olhos ansiosos, foram aprendendo a maré serena de pescadores. Contudo não é essa espera pacata, se temos que esperar que seja para semear como disse Cora Coralina. 

    E eu acabei esperando para poder juntar as minhas mãos em semeadura. Esperando e não desesperando aprendi sobre a fina navalha do tempo que riscou as histórias, que nas mãos artesãs costurou o fio que tece a vida. A espera tem esse movimento, as coisas que acontecem enquanto esperamos e despercebidos a ação acontece e os planos certeiros são descosturados para novas linhas. 

      O tempo vai entregando o jogo de carta em carta. O que não fazia sentido nenhum no começo começa a se encaixar, os encontros, uma lâmpada de 500 velas, a pupila brilhante, a espera com as cadeiras já prontas para a reunião. Essa espera que desperta e entrega. Aprendemos tudo rápido, raciocínios instantâneos, slides, grandes discursos, condutas, práticas e desaprendemos que nem tudo é fast food ou comida de micro-ondas. Porém, a comunidade é um berço para busca, para saídas complexas, labirintos, desassossegos. E da mesma vontade de ser mais somos aprendizes dessa paciência pescadora que joga as linhas da vida. 

    Não basta grandes projetos, negócios, ou invenções; sem mãos, paciência e construção. Sem compreender os riscos e os rostos. Sem dividir em silêncio um chimarrão, o calor do verão ou o frio do inverno. Não, educação popular não é da noite do dia, é das noites e dos dias (e das madrugadas insones).  Desses artesãos com ou sem jaleco que vivem com sonhos e espera.   

Rosane segurando a Lâmpada de 500 velas, muita história da comunidade da Barra em um "bulbo" de luz - Foto: Mayara

[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]

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