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Foto: Karen Raquel |
Aprender a cuidar é como tocar violão. Como pode-se aprender saúde sem vivenciar? É como assistir vídeo aulas no YouTube de violão e achar que após um curso completo de ritmos brasileiros você vai saber tocar um samba sem nunca ter encostado em um violão.
Não se aprende a dedilhar as cordas, afinar o tom sem um violão. Não existe curso de humanidades sem sentir o cheiro da madeira a melodia da música tocada nos consultórios, nas casas, nas comunidades.
Ler a partitura é apenas uma parte dos sinais vitais musicais, tocar a alma ultrapassa as notas pretas do papel. Traduzir a teoria para a música, eis que reside o mistério. A teoria protocolar de remediar, curar e salvar é tinta e papel. Cuidar é conhecer a música no escuro, por dentro, saber o local dos trastes, o espaço das cordas, o caminho da melodia, o espaço e o timbre do som. As vezes será preciso improvisar, respirar fundo, seguir tocando.
Experimentar diferentes violões, diferentes ritmos, encontrar aquele que cabe na sua mão, que o braço é do tamanho certo, que reverbera na frequência certa para o profissional de saúde. Alguns vão sentir-se confortáveis com todos, vão tocar de tudo, são ecléticos. Quase não há música que não reconheçam, pelo menos um pequeno trecho. Se não souberem adaptam-se rapidamente a nova a afinação, escutam com curiosidade.
Aprender saúde deve ser de repertório vasto, ritmos diferentes, cenários diferentes. Tocar apenas no hospital é como aprender um só estilo musical. O ritmo do beep beep dos aparelhos pode transformar-se em uma melodia, tocada com emoção e profundamente mas os outros sons, ritmos e melodias talvez fiquem intocados. Não ressoem.
Sair da partitura, da paredes do hospital e das clínicas e colocar os pés no chão da seca, na viagem longínqua pelos interiores, é vivenciar diferentes palcos, ouvir diferentes músicas , conhecer outras melodias carregadas de histórias, timbres, pausas, emoções e silêncios. É aprender música sentindo o vibrar da madeira, o vibrar da seca, é fazer chover em melodia.
Viver é tanger as cordas do cuidado - sentidos e sentimentos na ponta dos dedos.
Abraços que pousam,
Mayara Floss