Ernande Valentin do Prado
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O ofício do professor. Ernande (2012) |
Quando digito Turim no Google,
imediatamente ele dá como primeira opção uma empresa de ônibus que faz a
ligação entre Dias D’Ávila e Salvador, na Bahia.
Mas porque isso é digno de ser
mencionado?
Veja só, Turim é um destino turístico
europeu bem conhecido. À simples menção de Turim qualquer pessoa vai associar a
Itália e não a uma empresa de ônibus velhos (padrão transporte coletivo
brasileiro). Porém o google aprendeu que quando “eu” digito Turim estou
interessado no horário de ônibus e não na cidade de Turim.
Minha linda esposa, Larissa, disse que
isso acontece porque o sistema memoriza minhas buscas anteriores, mas concluo
que é porque o sistema aprendeu (maquina aprendendo é coisa fascinante - não
sei se pelo meu gosto por ficção cientifica ou porque dá esperança de que seres
humanos ainda possam aprender a ser melhores ou se pelas duas coisas).
Estamos diante de um admirável mundo
novo em que as máquinas estão aprendendo para melhor nos servir (embora o mundo
velho ainda persista inegavelmente). Talvez seja injusto dizer que a máquina
aprende, mas apenas que memoriza, não estou certo? Mas memória não é exatamente
o que se cobra das crianças nas escolas e dizem que isso é ensinar/aprender? O
que se cobra nos concursos públicos é mais do que memória?
Minha filha de 12 anos fez uma prova de
história em um colégio particular (sistema positivo de ensino). Tive paciência
de ler uma questão de múltipla escolha que era mais ou menos assim:
Qual o rio mais importante da África?
(
) São Francisco
(
) Sena
(
) Nilo
(
) Amazonas
Nem é necessário ter uma memória tão boa
quanto a do google para saber essa resposta, concordam? Mas o que me intriga é
não entender qual o significado para a vida de minha filha (e para a
humanidade) se por acaso ela errar a resposta. Nem sei exatamente qual a
utilidade dela acertar.
Acertar que o Rio Nilo é (quem sabe) o
mais importante da África contribui de alguma forma para os estudantes
compreender o significado da água, para agricultura, para religião, a higiene,
a alimentação, a vida do povo africano e consequentemente do planeta terra?
Tenho sérias dúvidas.
Será que se trocasse a professora (ou o
sistema de ensino) pelo Google não seriam mais interessante e eficiente as
aulas?
Se uma criança mais ou menos letrada digitar
Rio Nilo no google, vai deparar-se com as seguintes opção (citando apenas três
páginas das centenas que apareceram): história, geografia, biologia, opções
turísticas, artísticas, curiosidades, fotos, vídeos, entre outras coisas.
Talvez o google não aprenda realmente,
mas tem infinitamente mais informações do que eu, do que os professores (ao
menos os da minha filha) e, parece que sabe um pouco mais do que as provas do
Sistema Positivo de ensino.
Mas como pode o google saber mais do que
os pensadores da positivo (entre outras escola comerciais e públicas)? Ou será
que estes sabem, mas não se importam em ensinar? Será mais lucrativo ou mais
fácil (o que deve dar no mesmo) insistir
que aprender é memorizar?
Quem sabe o segredo não é o que se sabe
ou deixa de saber, mas o saber que se está disposto a compartilhar, por à
serviço da comunidade. Ou talvez isso tenha a ver com a segmentação
capitalista: produtos diferentes com preços diferentes para públicos diferentes.
Quem pode pagar mais recebe mais ou
recebe diferente (o que neste caso dá no mesmo).
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
Ernande, quando puder dá uma olhada neste vídeo: http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html . Essa inteligência é pior do que pensamos. Voam abraços!
ResponderExcluirOlá, Mayara, vu vi o vídeo. Ajuda a esclarecer muita coisa e confirma o que disse: a tecnologia pode e está sendo usada para nos enganar, criar as "bolhas", mas pode ser diferente.
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