Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Educação. Mostrar todas as postagens

15 maio 2020

A APRENDIZAGEM NO ESMAGAR O DENTE DE ALHO




Ernande Valentin do Prado

No intervalo da aula do Curso de Especialização em Saúde Coletiva, formou-se um grupinho entre professores e estudantes. A conversa era sobre comida e a estudante disse:
— É muito fácil usar o alho como tempero, basta esmagar e fritar no óleo.
E nem foi para mim que ela falou. Só escutei porque estava perto. Mesmo assim aprendi.
A aprendizagem se dá dos modos mais diferentes e improváveis e ultimamente tenho percebido que quando acontece sem a intenção do ensino, parece ser mais efetiva.
Lembrei disso porque estava cortando o dente de alho em pedaços finos para depois esmagar, o que deixa a tarefa mais fácil, e me dei conta que a partir da fala da estudante eu fui desenvolvendo outras técnicas para esmagar e para usar o alho em diferentes situações. Cortá-lo primeiro já foi um pouco de minha evolução.
O conhecimento de que bastava esmagar o alho foi o caminho das pedras que possibilitou os primeiros passos no uso do alho como tempero do feijão e depois para outras alimentos. A conversa aconteceu na escola, não na aula e essa é uma diferença significativa. O que ouvi foi um disparador, um ponto de partida, aonde eu cheguei ou ainda vou chegar com esse conhecimento é responsabilidade minha. E as possibilidades são muitas e algumas delas nem tem a ver com comida ou alho. Por exemplo, esse texto tem a ver com aprender e ensinar, mas é derivado da aprendizagem sobre o alho, percebe?
Será que não cabe ao professor e a escola, nos dias de hoje mais do que ontem, criar esses momentos para que os estudantes possam aprender?
É mais do que provável que a maioria dos professores já saibam que não cabe a ele ser o detentor do conhecimento para depositar nos estudantes, afinal de contas há muitos anos Paulo Freire disse que ensinar não é transferir conhecimento. Por outro lado, Freire também disse, especialmente no livro Pedagogia da autonomia, que ensinar não é simplesmente transferir conhecimento e que esse saber não deve se limitar a um discurso do professor, precisa ser aprendido, vivenciado e testemunhado constantemente.
Será que o professor, além de saber, acredita nisso?
Testemunhar é o que estou fazendo neste texto.
Faço isso sempre que posso, não apenas em texto. Vivo isso no meu cotidiano de trabalho no Apoio Institucional da Secretaria de Estado da Saúde a partir do Centro Formador de Recursos Humanos da Paraíba e já venho fazendo há mais de dez anos nos cursos de Enfermagem e de Saúde Coletiva.
Há quem tente opor conteúdo e método, porém essa dicotomia não existe na prática. Também não existe forma de dar uma aula conteudista sem utilizar algum método, até porque projetar slide, uma transparência ou falar tudo de memória enquanto segura um giz, é método. Não há aula sem conteúdo e não existe contradição entre método e conteúdo, as duas coisas são importantes e precisam ser consideradas em qualquer modelo de aula.
O que diferencia uma aula conteudista de outra pensada para que o estudante desenvolva os conhecimentos, é a forma, a quantidade de conteúdo que irá fazer parte da aula e principalmente como e para que irá fazer parte.
De um modo geral, em uma aula conteudista, o objetivo é repassar os conhecimentos do professor para a cabeça dos estudantes e este, em um dia agendado ou surpresa, deverá devolver o conteúdo, provando que tem memória. Neste caso não precisa nem saber para que o conteúdo ouvido serve ou onde e como pode ser aplicado. Geralmente essas não são preocupações do professor e da professora conteudistas.
Já em aulas problematizadoras, sobretudo freireana, o objetivo não é repassar conteúdo. Ele é pano de fundo para dialogar, refletir sobre as formas de intervir positivamente na comunidade e ponto de partida para o desenvolvimento e aplicação dos conhecimentos, algo parecido com o que aconteceu comigo em relação ao alho.  
Outro aspecto que precisa ser levado em conta e nem sempre é, tanto em uma aula quanto na outra, é que elas devem ser preparadas. Essa é uma questão que nem sempre é observada, seja por falta de tempo ou pelas crenças do professor. Problematizar e até repassar conteúdo, não pode ser feito de improviso.
A aprendizagem acontece o tempo todo, não apenas na aula em si, como na história do dente de alho. Por isso creio que os professores deveriam levar em conta, ao preparar as suas aulas, que é importante criar situações para que isso aconteça, pois não basta esperar e improvisar em cima. A responsabilidade de “ensinar” continua sendo do professor e da professora.
As aulas precisam continuar sendo pensadas e preparadas com rigor e poder-se-ia levar em conta que a aprendizagem não acontece apenas dentro da sala, seja na exposição de conteúdo, seja na problematização e no diálogo. A aprendizagem acontece em múltiplos e simultâneos momentos antes, durante e depois da aula.
Será que ao planejar uma aula o professor e a professora pensam na função do intervalo ou consideram ele apenas um momento para ir ao banheiro, comer ou acessar o celular antes de depositar mais conteúdo nas cabeças dos estudantes?
E os momentos de confraternização, são partes do processo de aprender a conviver ou uma concessão do professor para o ócio? Enfim, é importante que a escola seja aproveitada como um todo para produzir aprendizagem e não apenas a aula em si. Se aprendemos em comunhão, como fala Freire, não seria bom criar momentos para que a comunhão aconteça na aula e na escola deliberadamente e não apenas como efeito secundário?
Sobre os momentos de aprendizagem que estão no entorno das aulas e das escolas, escrevi mais em minha dissertação: Estamos construindo uma catedral, que a editora Hucitec prometeu lançar como livro ainda em 2020.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]


15 dezembro 2017

O NÃO DIÁLOGO

blablabla. Imagem capturada na internet, 2017.
Ernande Valentin do Prado
O professor olhou o relógio pela terceira vez, já era quase 14 horas. Desde as 13 aguardava os usuários agendados para o atendimento daquele dia. Consultou suas anotações e perguntou para a estudante, sentada ao seu lado, olhando mensagens no celular:
- Você leu sobre o Aconselhamento em Teste Rápido?
- Não li...
Respondeu a estudante com muita calma, sem alterar a voz, sem desviar o olhar da tela do telefone celular e sem demonstrar nenhuma preocupação com o tempo.
- Por que não leu?
O professor, tentando quebrar o hipnotismo da tela digital. Insistiu:
- ...essa compreensão é fundamental para atividade que deveríamos estar fazendo.
- Não tive tempo, professor, o senhor pediu ontem, e eu não vou direto para casa, quando saio da aula, tenho que ir trabalhar, tenho outras aulas.
- Certo...
Respondeu o professor, aceitando que o argumento da falta de tempo realmente era bom, que de um dia para o outro é complicado, já que a estudante, além de estudar, também trabalha. Mesmo achando que o texto solicitado era curto, nada mais do que duas páginas esquemáticas, de fácil compreensão e que poderia ser lido até no banheiro ou durante aquele tempo de espera em que, aparentemente, nada estava fazendo, além de rolar mensagens no WhatsApp. Mesmo assim aceitou o argumento. 
Continuo consultando suas anotações e questionou, interrompendo a menina que voltara a olhar as mensagens no celular:
- E o texto sobre territorialização, já tem duas semanas que pedi, esse deu tempo de ler?
- Também não li.
Disse a estudante, agora desviando o olhar da tela do celular e olhando para o professor, sem disfarçar sua impaciência, quase desafiando.
- Professor, sou honesta, não li esse texto.
O professor, compreendendo que a questão não era só de falta de tempo, também não disfarçou sua impaciência e desta vez não aceitou o argumento.
- E não vai ler?
- Eu não tenho tempo, professor, entre estudar e viver, prefiro viver.
- E por que não está lendo agora?
Perguntou o professor.
- Eu não baixei o texto e não tenho internet, aqui...
Disse ela.
- ...além disso o meu celular já está cheio.
- E porque não carrega o livro?
Insistiu o professor, esperando que a menina compreendesse que falta de tempo não é um argumento muito satisfatório.
- É muito pesado, professor. Já imaginou eu carregando livros nesta bolsa?
Disse apontando a minúscula, mas elegante bolsa.
- Qual o problema em carregar livros?
Falou o professor, estranhando os argumentos da estudante e até se questionando: será que é isso mesmo que estou ouvindo? Talvez ela não estivesse entendendo o que falava, era o que pensava, enquanto falava e tentava estender seu saco de paciência, que ameaçava estourar.
- E como vai aprender, sem tempo para ler?
- Ao menos eu sou honesta professor...
- Honesta?
Interrompeu a fala da estudante, o professor. o saco tinha estourado. 
- ...quando uma pessoa, essa mesma pessoa que você, ao pegar seu diploma deverá jurar cuidar, precisar que saiba fazer algo e não souber, vai dizer o que para ela: “ao menos sou honesta, não sei fazer?” Isso vai adiantar o que? A sua honestidade vale de que, nesta situação? Só honestidade não garante nada. Já ouviu dizer que de boa vontade o inferno está cheio?
- Professor, nota eu tenho para passar e são todas altas, isso é o que importa.

O professor não soube o que dizer. Ficou calado por um tempo, pensando em um argumento que pudesse ser bom o suficiente para usar nesta situação. Não achou e, por sorte, vinha chegando uma das pessoas agendadas para aquele dia.


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

20 janeiro 2017

EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

Rádio na casa do Domingos. Ernande, 2017.
Ernande Valentin do Prado
É fácil confundir educação com comunicação e principalmente com informação. Ainda mais fácil é confundir comunicação com meios de comunicação. Aliás, parece fácil confundir comunicação com a própria vida ou com a forma como se leva a vida. Tudo passa pela comunicação: como se faz, como se olha, como se vê, o que se faz, como se relaciona com o outro, no singular e no coletivo. Uma das dificuldades em falar da comunicação diz respeito ao fato dela ser vivida tão intensamente que chega a ser natural e assim passar despercebida, como respirar e andar, como fala Prado, Santos e Cubas (2009).
A comunicação parece ser inata ao homem. Antes do bebê nascer já estão se comunicando com a mãe e está com ele. A comunicação se dá através de movimentos no útero, pequenos chutes, nas náuseas da gravidez. A mãe fala com o filho através da palavra, em diálogos infantis carinhosos, através do tato acariciando a barriga, alimentando-se de forma especial para beneficiar a futura criança. Ao nascer a comunicação entre pais e filhos complexifica-se e evolui de forma continua.
A fala, não necessariamente verbal, pode ter sido o primeiro passo do ser humano rumo à dominação do seu ambiente a da natureza. Cunha da Silva (2003) explica que o homo sapiens inventou uma linguagem para comunicar suas ideias e desejos e essa linguagem foi progressivamente enriquecendo-se. Dá para dizer que a comunicação interpessoal pode ter sido a principal mola do desenvolvimento da sociedade. Sem ela, como seria possível convencer outros a colaborar entre si para conseguir mais alimentos, mais água, andar juntos para obter maior segurança?
Carvalho e Bachion (2012) confirmam essa observação dizendo que a comunicação intrapessoal, interpessoal, e grupal são processos que habilitam ações comunicativas entre as pessoas e os grupos com a finalidade de ajustamento, integração e desenvolvimento.
Depois de iniciado o desenvolvimento da comunicação interpessoal, vieram os sinais gráficos, com os desenhos nas cavernas e nas pedras, até que surgissem as primeiras escritas. Estas parecem ter sido a base sólida do que hoje denominamos comunicação. Mas junto com a comunicação os seres humanos desenvolveram também os meios de comunicação, que de certo modo pode ter iniciado nas paredes das cavernas, depois o pergaminho, o papiro, o papel. Antes, para imprimir os sinais gráficos, utilizava-se carvão, sangue de animais, frutas coloridas, objetos corto-contuso para entalhe, pena e tinteiro, o lápis e a caneta esferográfica. Hoje se utiliza impressoras laser, caneta digital, teclados sem fio, telas sensíveis ao toque, comando de voz.
Com a escrita dominada vieram os correios, os livros, jornais, depois o telégrafo, o telefone, o teatro, o rádio, o cinema, tv e a internet. Hoje temos uma gama grande de meios de comunicação nos rodeando, o que muitas vezes dificulta a diferenciação entre comunicação e meios de comunicação, mas Bordenave (1982) diz que não são uma coisa só, que a comunicação é muito mais que seus meios.
A comunicação não se expressa apenas na fala ou na imagem, mas até no silêncio, na compreensão da hora exata de fazer barulho ou quebrar o silencio. Essa percepção do comunicar, no aspecto interpessoal é importante no fazer dos profissionais de saúde e de educação, por exemplo, pois sem essa competência o processo terapêutico e/ou o processo de ensino/aprendizagem pode não acontecer ou ser muito prejudicado.
Nesse texto, vamos nos concentrar em educação e comunicação em saúde, o que, embora diminua o escopo inicial da discussão, não deixa de ser ainda um campo vasto para abordar. Na medida do possível os dois temas serão tratados em suas intersecções, evitando prolongar a discussão para além do que seria possível no contexto.
Pensar educação e comunicação em saúde juntos, tem relação com as heranças conceituais da origem da saúde coletiva no Brasil. Nos anos 20 do século XX, ao ser criado o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), uma de suas estratégias era voltada para propaganda e educação sanitária. De lá para cá muita coisa mudou, não há dúvidas, mas, como pode ser apreendido em diversos estudos que abordam o tema, comunicação em saúde ainda é compreendida como propagação de informações para mudança de comportamento da população, que são considerados nefastos à saúde coletiva, como afirmam Araújo e Cardoso (2007).
Embora seja muito difícil distinguir educação de comunicação em saúde, quando uma e outra estão acontecendo, conforme discutido aqui, vamos dizer que a divulgação e propagação das informações e a forma como acontece, seja pela mídia e/ou mediada pelos profissionais de saúde, seja a comunicação acontecendo. Já a tentativa de modelar os comportamentos, o que acontece no uso da comunicação e também pelos meios de, vamos considerar educação, seja ela feita por profissionais de saúde, de educação e/ou feita pelos meios de comunicação. Enfim, vamos pensar educação em uma concepção bem ampla, acontecendo na vida e não apenas nas escolas. Como definido por Durkheim (2007) e Geetz  (2008), educar não deixa de ser modelar as pessoas, o que pode ser feito de forma dialogada, como na abordagem de Freire (2006) ou de forma vertical, como na educação bancária, que parece predominar nos processos educativos ainda hoje. 
Outra abordagem importante diz respeito ao conhecimento necessário a intervenção no processo saúde-doença, que inclui o domínio da comunicação, enquanto conhecimento e, principalmente, atitude comunicativa como instrumento terapêutico e/ou de prevenção de doenças e promoção de saúde.   
Montoro (2008) prefere ver a comunicação como cultura, e comunicação em saúde como troca, interação, intersubjetividade, diálogo, expressão, enfim, com múltiplas dimensões, que vão desde a condição fisiológica, que envolve audição, sensações, visão, para alcançar as dimensões afetiva, cognitiva, sociocultural e tecnológica, em sua relação com as mídias, os sistemas de informação e difusão de mensagens.  Abordagem coerente com o conceito de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), discutido desde a Oitava Conferência Nacional de Saúde (CNS) em 1986, que já mencionava o direito à informação, a educação e comunicação como inerente ao direito à saúde, conforme fala Araújo e Cardoso (2007). Porém o mais comum, ainda hoje, como já enfatizado antes e corroborado por RANGEL-S (2008), é a comunicação em saúde ser pensada e operacionalizada de forma vertical, centralizada, unidirecional, orientadas pela visão de que informações e conhecimentos devem ser difundidos de forma prescritiva.
Outros estudos mostram que conhecer não é o suficiente para provocar mudanças de hábitos, mas a comunicação em saúde, como frisado por Rangel-S, Montoro, e Araújo e Cardoso (2007), continua sendo pensada basicamente desta forma. Os responsáveis pela comunicação em saúde ainda creem que informação é comunicação e vice-versa, que é suficiente difundir informações sobre como reconhecer e prevenir doenças, talvez por isso as comunicações do governo, quase sempre, no que diz respeito à saúde, sejam carregadas de um tom prescritivo sobre o que faze e o como fazer.
Comunicação em saúde vai além do aspecto prescritivo e informacional e constitui, um campo de saber, tendo inclusive um grupo de trabalho na Abrasco. Entre outros aspectos, a comunicação em saúde, atualmente, envolve: assessorias de comunicação das instituições, divulgação científica dos achados em pesquisas acadêmicas e ações profissionais, comunicação organizacional, que envolve a produção e circulação das informações nas instituições.
Seja qual for o aspecto enfocado, parece fundamental compreender a comunicação para além de seus usos imediatos ou como sendo de responsabilidade de setores de comunicação. Todos nós nos comunicamos e é essencial que isso aconteça cada vez melhor. Os meios, as formas e as ferramentas de comunicação estão cada vez mais acessíveis e de fácil manipulação pelos profissionais de saúde e de educação. Comunicar-se é uma preocupação cada vez maior das instituições de ensino, que têm cada vez mais preocupações em dialogar, comunicar, preparar as pessoas nas competências comunicativas para melhor interagir com a comunidade.
Outro aspecto bastante importante da comunicação e da educação, tem a ver com o poder simbólico, como discutido por Bourdieu (2010), ou seja, a capacidade de fazer ver e fazer crer, o que se consegue, se não inteiramente pela comunicação e/ou pela educação, essencialmente fazendo uso delas. Araújo e Cardoso (2007) enfatizam que a comunicação pode ser utilizada para manter as coisas como estão ou para transformar a sociedade. Neste sentido, a preocupação deveria ser comunica-se, em todos os sentidos, mas essencialmente pensando comunicação como diálogo.

REFERÊNCIAS
PRADO, E. V. D.; SANTOS, A. L. D.; CUBAS, M. R. Educação em saúde utilizando rádio como estratégia.  Curitiba: CRV, 2009.
CARVALHO, E. C. D.; BACHION, M. M. Abordagem teórica da comunicação humana e sua aplicação na enfermagem. In: STEFANELLI, M. C. e CARVALHO, E. C. D. (Ed.). A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2. ed. Barueri-SP: Manole, 2012.  p.9-28. 
BORDENAVE, Juan E. D. O Que é Comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1982.
ARAÚJO I. S. Cardoso JM. Comunicação e saúde. 1ª ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2007.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
GEERTZ, C. (Ed.). O saber local. Petrópolis-RJ: Vozes, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
MONTORO, T. Retratos da comunicação em saúde: desafios e perspectivas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 12, p. 445-448, 2008.
RANGEL-S, M. L. Dengue: educação, comunicação e mobilização na perspectiva do controle - propostas inovadoras. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 12, p. 433-441, 2008.
BOURDIEU P. Sobre o poder simbólico. In: Bourdieu P, editor. O pode simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2010. p. 7-16.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

26 fevereiro 2014

Os caminhos de Cabral



Quando era pequena, bem pequenina em uma aula da terceira ou quarta série a professora estava explicando sobre o Descobrimento do Brasil. E ela falou que o Cabral “se perdeu” com as caravelas no caminho das Índias. E que por isso que eles chamam os nativos de “índios”. 


Mas eu não fiquei conformada com o caminho escolhido por Cabral. Comecei a questioná-la porque ele tinha feito exatamente aquele caminho? Porque não descobriram o Brasil antes pelo Pacífico? Porque eles tinham que ir até as Índias pelo mar? Não dava para ir pela terra também?

Estava cheia de porquês. A professora cansada da minha série de perguntas sentenciou: “Então, Mayara, acho que você deve voltar no tempo e contar isso para o Cabral. O que está feito, está feito”. Fiquei desapontada e conclui que essas figuras históricas não tinham muita criatividade e que não sabiam navegar tão bem por terem errado tanto a rota. 

Também comecei a guardar alguns “porquês” comigo. Acredito que quase ninguém pergunta para uma criança em frente ao mapa: “Se você fosse Cabral e estivesse saindo de Portugal qual caminho escolheria para chegar no Brasil?”. Aposto que nem todas iriam fazer uma “linha reta” de Portugal para o Brasil. Também poderia se perguntar quais seriam as aventuras desse trajeto? Por qual caminho você iria? 

Hoje é tudo pronto, fácil, fast food. É difícil ser criativo, tudo é uma cópia de uma cópia. E talvez Cabral tivesse outros caminhos para seguir e talvez a escola também tivesse outros caminhos.


Deixo aqui uma pequena palestra do Ken Robinson no programa do TED em 2006 que fala sobre a criatividade e a educação: 



.
  Voam abraços,

Mayara Floss

[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]

14 fevereiro 2014

O GOOGLE, A EDUCAÇÃO E O APOCALIPSE ZUMBI

Ernande Valentin do Prado
O ofício do professor. Ernande (2012)

Quando digito Turim no Google, imediatamente ele dá como primeira opção uma empresa de ônibus que faz a ligação entre Dias D’Ávila e Salvador, na Bahia.
Mas porque isso é digno de ser mencionado?
Veja só, Turim é um destino turístico europeu bem conhecido. À simples menção de Turim qualquer pessoa vai associar a Itália e não a uma empresa de ônibus velhos (padrão transporte coletivo brasileiro). Porém o google aprendeu que quando “eu” digito Turim estou interessado no horário de ônibus e não na cidade de Turim.
Minha linda esposa, Larissa, disse que isso acontece porque o sistema memoriza minhas buscas anteriores, mas concluo que é porque o sistema aprendeu (maquina aprendendo é coisa fascinante - não sei se pelo meu gosto por ficção cientifica ou porque dá esperança de que seres humanos ainda possam aprender a ser melhores ou se pelas duas coisas).
Estamos diante de um admirável mundo novo em que as máquinas estão aprendendo para melhor nos servir (embora o mundo velho ainda persista inegavelmente). Talvez seja injusto dizer que a máquina aprende, mas apenas que memoriza, não estou certo? Mas memória não é exatamente o que se cobra das crianças nas escolas e dizem que isso é ensinar/aprender? O que se cobra nos concursos públicos é mais do que memória?
Minha filha de 12 anos fez uma prova de história em um colégio particular (sistema positivo de ensino). Tive paciência de ler uma questão de múltipla escolha que era mais ou menos assim:
Qual o rio mais importante da África?
(   ) São Francisco
(   ) Sena
(   ) Nilo
(   ) Amazonas
Nem é necessário ter uma memória tão boa quanto a do google para saber essa resposta, concordam? Mas o que me intriga é não entender qual o significado para a vida de minha filha (e para a humanidade) se por acaso ela errar a resposta. Nem sei exatamente qual a utilidade dela acertar.
Acertar que o Rio Nilo é (quem sabe) o mais importante da África contribui de alguma forma para os estudantes compreender o significado da água, para agricultura, para religião, a higiene, a alimentação, a vida do povo africano e consequentemente do planeta terra? Tenho sérias dúvidas.
Será que se trocasse a professora (ou o sistema de ensino) pelo Google não seriam mais interessante e eficiente as aulas?
Se uma criança mais ou menos letrada digitar Rio Nilo no google, vai deparar-se com as seguintes opção (citando apenas três páginas das centenas que apareceram): história, geografia, biologia, opções turísticas, artísticas, curiosidades, fotos, vídeos, entre outras coisas.
Talvez o google não aprenda realmente, mas tem infinitamente mais informações do que eu, do que os professores (ao menos os da minha filha) e, parece que sabe um pouco mais do que as provas do Sistema Positivo de ensino.
Mas como pode o google saber mais do que os pensadores da positivo (entre outras escola comerciais e públicas)? Ou será que estes sabem, mas não se importam em ensinar? Será mais lucrativo ou mais fácil (o que deve dar no mesmo)  insistir que aprender é memorizar?
Quem sabe o segredo não é o que se sabe ou deixa de saber, mas o saber que se está disposto a compartilhar, por à serviço da comunidade. Ou talvez isso tenha a ver com a segmentação capitalista: produtos diferentes com preços diferentes para públicos diferentes.

Quem pode pagar mais recebe mais ou recebe diferente (o que neste caso dá no mesmo).

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog