Ernande Valentin do
Prado
A primeira lembrança de Curitiba,
que não consigo esquecer,
mesmo tendo-se passado muitos anos,
é de um homem,
na frente do shopping Itália,
tirando alguma coisa de dentro da lixeira e
comendo.
O mais chocante não era ele comer,
uma coisa tirada da lixeira,
era nem olhar o que estava comendo.
Tirava,
com os dedos e levava à boca.
A fome deveria ser demais.
Hoje lembrei-me disso na hora do café.
Por que?
Não sei.
Hoje,
mesmo nas região mais pobre do Brasil,
não é tão frequente ver esse tipo de miséria.
Não é que não exista,
existe muita,
mas mudou a qualidade da miséria.
Pessoas ainda vivem com
fome, dor, desespero, sem sonhos,
e não são poucas.
Mas não é mais tanta gente,
nem em toda parte,
sem poder ser contadas.
Mesmo com todo desvio ético,
inegáveis, vergonhosos, difamantes,
verdadeiros casos de polícia:
mensalão,
lava-jato,
psdbdização...
Não foi só,
houveram acertos, lembra?
O homem na frente do shopping Itália?
Se esse fosse o único acerto,
Já seria mais
(acertos)
do que os (acertos)
de todos os outros governos que vieram antes,
juntos.
[Ernande
Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]