Para o amigo Ernande e sua família
em agradecimento e com esperança
É difícil
Claro que sei
Acender fé no cinza da névoa
Caminhos se fazem no deslizar-se
Em brevidade de encontros
Diga-se de passagem
Ou de umbral despido de distância
Destinos ocos inexistem
O caminho se faz fazendo - esse do Machado de Castilla
Eu, ao dizer Ossaim ou pássaro com alma de estrela e seiva,
Canto outro canto que não o da dúvida
Já me refaço
Destinado a outro Ser que
Sendo
Me faço moradia e ninho
Sou nada e ainda
Sou gaiola e fresta de fuga e encontro
Também, é certo,
O presente sem futuro não é desprezado
É milagre é prece é benção
De toque e longura
De estrada até corpos inteiros por fim
Em dizer a faísca da folha sagrada
Nem sei o que traz no seu mistério
Mas pronunciar como prece a faz iluminar
Mistério
Sacralidade
Espaço revelado a cada instante
Algo
Que
Não se perde nem nunca nem antes
O canto dele que é ela, dela que é ele,
A/O que carrega simples a arma dos raios de verdor e luz
Ossaim, erva que solta as ervas, segredo que fundamenta o segredo,
Espera e esperança que se renova ao tocar-se, rir-se, andar-se
Nossas histórias são caminhadas, fugas, retornos, ciclos e espirais
Destinos fixos inexistem. Vazios ventos nos modelam como massinhas de criança
E neles eu me nino e te nino, estrela estrada flor bicho que amo
E é por isso mesmo
Por isso exato
Que seguro mão, corpo, cabelo, alma e mundo
Na teimosia daquele que vai sendo, que vai
E que volta Outro, o mesmo transfigurado, o invento
De si mesmo
A descoberta da palavra calada que os bobos chamamos
Somente
Beijo
(Escrito no Mercado Municipal de Belo Horizonte) (recordando a longa brevidade de Dias D'Ávila)