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14 março 2014

LONGE DEMAIS DO MAR

Ernande Valentin do Prado

Tenho pra mim que nunca quis muito da vida. Isso é bem verdade em termos financeiros: desde os 12 anos que tenho vontade ter minha casa própria – via o quanto era sofrido para meus pais pagar aluguel – mas fora isso, não tenho grandes sonhos materiais (confesso, gosto de boas meias, mas calça não me importo de comprar na feira). Nunca quis carro, moto, roupas de marca, como meus colegas. Meus sonhos não envolvia o ter, era mudar o mundo, salvar a América, coisas simples assim.
Também não sou de reclamar do que tenho ou de onde estou – reclamo e muito (até) de outras coisas, não das minhas escolhas, principalmente aquelas que me levaram para longe de minha família de sangue, de amigos importantes em minha vida, alguns que os atuais nem sabem que existem, como o Ari Roque, de meus tempos de adolescente no Pirapó, distrito de Apucarana, no Paraná, um cara que amo muito e sinto falta todo dia. Do Antônio (Toninho), meu amigo quase irmão em Fazenda Rio Grande. Foi meu professor de Filosofia no segundo grau, depois companheiro de militância (quando achavamos que iriamos mudar o mundo pela política partidária). O Adilson (que ora por mim em sua igreja para compensar minha pouca fé), o Altair, do curso de Enfermagem. Sinto muita falta de todos eles (que aqui citados simbolizam várias outras pessoas dos mesmos períodos e lugares). Como o Junior, o Ademar, o Ronaldo (três padrinhos de Alice), a Priscilla (madrinha de Alice), a Estela (com quem divido sonhos e dores), o Rodrigo dos tempos de Mato Grosso do Sul e Escola de Saúde pública (que abriu a casa de sua família para ser um pouco minha). A Cíntia no Espírito Santo. Todos foram de alguma forma minha família nestes lugares e carrego comigo no coração.
Por onde passo conheço pessoas maravilhosas que (longe de deixar) carrego comigo e vão se somando a imensa riqueza que é minha vida.
Minhas escolhas levaram-me a deixar o Paraná assim que conclui a graduação em Enfermagem (um sonho louco de mudar o mundo pelo cuidado). Deixei um concurso na Universidade Federal do Paraná, depois na Prefeitura Municipal de Curitiba, Campo Largo e o último na Secretaria de Saúde do Estado do Paraná. Depois nunca mais passei em concurso e acho que estão cada vez mais difíceis e sem sentido. Vou por aí trabalhando ora como bolsista, ora como CLT ora nestas prefeituras que não respeitam nada e nem ninguém. Inseguro, sem futuro e faz com que eu seja de fato um trabalhador cigano (meio circense como gosta da imagem Larissa), mas foi a escolha que fiz para não me tornar como algumas pessoas que via e vejo por aí, sem fé, sem vontade de ser mais, sem esperança.
 

Outro sonho, antigo demais, era chegar perto do mar, fugir dos grandes centros urbanos, viver junto de pessoas que gostasse de fato. Por conta disso estou arrastando minha família (sempre muito paciente) Brasil adentro. No caminho fica minha mãe, sempre ressentida de eu não estar lá perto dela. Meu pai, mais compreensivo, mas não menos ressentido. Minhas irmãs que são maravilhosas, meus sobrinhos lindos, meus primos, cunhados (todos gente boa da melhor qualidade). Sinto uma falta deles que nem sei descrever, mas quanto mais longe vou, quanto mais gente que precisa de mim de algum modo eu posso ajudar, mais meu amor por eles se ressignifica.
Ontem deixei mais um lugar. Mas antes de dizer como sai, preciso dizer como cheguei.
Quando sai do Mato Grosso do Sul fui para Paripiranga, onde fiquei 4 anos lecionando em uma Faculdade de Enfermagem. (lá também deixei pessoas lindas das quais tenho muita saudade). Quando sai do centro oeste havia prometido nunca mais trabalhar em uma Prefeitura, pois não suportava a ideia de não ter meus direitos respeitados e, perdendo o emprego, fato que sempre acontece, fazendo ou não um bom trabalho, a gente sai com uma mão na frente e outra atrás e, o pior, tudo que plantou é arrasado em nome de uma burrice política inconsequente e estúpida (no mínimo) de apagar a história. Vejo essa desonestidade até em movimentos que se dizem democráticos e progressistas de emancipação do homem (pode uma coisa dessas? – mas isso é outra história)
Em janeiro de 2013 sai da faculdade onde fiquei por 4 anos. Como já trabalhava como Bolsista na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), curso de Especialização em Saúde da Família (onde reencontrei Seiko, dos tempos de Faculdade e incorporada a família que vai crescendo), fiquei na cidade recebendo o seguro desemprego e me preparando para novos desafios. Neste meio tempo preparei-me para ir (ou vir) para Paraíba. Cheguei a visitar a cidade, procurar casa para alugar e marcar a data da mudança, mas eis que entra em minha vida uma pessoa chamada Yanna (coordenadora de Atenção Básica). Ela ligou de Dias D’Ávila querendo conversar. Disse que recebeu indicação de um colega (Silvio Medina), que não conhecia ainda, mas que havia recebido uma indicação de Letícia Falleiros, Gaúcha radicada na Bahia, e uma das autoras no livro Vivências de educação popular na atenção primária à saúde com o texto: Experimentando a extensão popular, página  115.
Lembrei-me que havia prometido não mais trabalhar em prefeitura (ao menos sem concurso), mas quando se está desempregado tudo é aceitável e fui falar com ela, mas na certeza de recusar.
Fui recebido tão bem, com tanto respeito e consideração pela minha história, pequena, mas considerável. Yanna e Rafael, Coordenadora de Atenção Básica e Gerente de Atenção à Saúde, falava em nome do Secretário de Saúde, Fabiano Ribeiro. Contaram-me que era um “time”, uma equipe que já trabalhavam junto e dividiam sonhos há algum tempo. Convidaram-me e convenceram-me a aceitar uma vaga como Apoiador Institucional nesta equipe de “militantes” e fiquei na cidade por sete meses. Aprendi muito, gostei muito, conheci muita gente (comprometida com a população, militante de verdade em prol de um SUS que ainda existe em poucos lugares e, sobretudo, conhecedores de gestão e APS). Ganhei família nova e mais uma vez parti. (Esse trecho dá um capítulo à parte, para não ser injusto com Lucimar, Dona Lú, Cíntia, Graça, Rafael, Fabiano, Rafaele, entre outros).
Ontem cheguei à Paraíba. Estou em Lucena (de frente para o mar) região Metropolitana. Para chegar até João Pessoa, como quase todo mundo faz aqui, leva duas horas, fora o sofrimento, mas também tem poesia, basta saber olhar, ouvir, sentir. Estou bem, estou satisfeito (volto ao tema depois, para não ser injusto).
Apesar da saudade, reclamar pra que?


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 todas às 6tas]

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