Ernande Valentin
do Prado
Difícil demais
falar de Dias D’Ávila, das pessoas e situações que lá deixei e dos sentimentos que
carrego comigo. Por essa dificuldade vou falar em tópicos, já sabendo que
injustiças (motivas por um memória tosca) serão cometidas.
1.
O natal passado
não pôde visitar minha família de sangue. Por isso passei o 24 e 25 de dezembro
na casa de Dona Lu, em Voa Vista de Santa Helena, em Dias D’Ávila, BA. Passei
com sua filha, Lucimar (Em uma semana de trabalho virou minha irmã). Levou-me
para sua casa, abriu as portas, deu-me (e para Bia, Alice e Larissa – Heloisa
ficou em Lagarto para concluir a faculdade de Nutrição uma família nova) e os
netos Rafael e Alambel. Disseram que não, mas sei que para me receber com
Larissa e Alice (Bia e Heloisa foram para Curitiba), deixaram de ir para
Salvador ficar com outros parentes. Fizeram um banquete. Dona Lu vestiu-se de
mamãe Noel e distribuiu presentes para as crianças da comunidade, tradição
antiga da família. Depois tomamos banho de rio, comemos mais. Foi um lindo
natal.
2.
3.
Yanna, calma,
determinada, sabedora de onde estava e para onde queria ir, ensinou-me, entre
outras coisas, a ter mais calma (mas não aprendi muito bem) e que educação
sozinha não basta, precisa acompanhar, apoiar. Pena que foi embora tão logo
contra a vontade de quase todos. Quando partiu fiquei desorientado, com medo,
querendo ir também, mas com medo de abandonar o time.
4.
Rafael, moleque
ainda, meu chefe que ficava com os cabelos em pé com as coisas que eu fazia e,
sobretudo, dizia, mas apostando e correndo o risco de perder junto. Corajoso
bancou apostas a beira da inconsequência (felizmente ganhamos todas). E ainda
deu-me um dos presentes de amigo secreto mais significativo da minha vida (Á
sombra dessa mangueira).
5.
Quando fui
contratado para trabalhar em Dias D’Ávila, conheci Cíntia, que também entrava
comigo no time. Dentista de formação (fez-me perder a desconfiança que sempre
tive com dentistas). No primeiro dia me ajudou a arrumar casa, apoio-me nos
afazeres e ambientações em uma Bahia que ainda não falava a língua.
6.
Graça, de tantos
que já passaram pela secretaria, olhou-me desconfiada, sem saber se esse
ficava. Um mau humor tão bem humorado que lembrava até a mim mesmo. Apoiou-me
muito, mostrou o caminho das pedras e se deixou tocar.
7.
Aline, chegou
depois, pondo banca e dando “jeitinhos” em tudo. Fazia-me rir e tirava-me do
sério com coisas do cotidiano feminino.
8.
Rafaele, a
Enfermeira que foi deslocada para área oficial de novas experiências (Nova Dias
D’Ávila) e nunca achou estranho nada, nunca se recusou a nada, tudo topou de
primeira. Em nome dela quero agradecer todas nas equipes que embarcaram na
ideia de construir um SUS com e para o indivíduo que dele faz uso. Com a equipe
de Rafaele percorri toda área rural conversando com a população e inauguramos
um modo diferente de fazer gestão a partir da fala da comunidade de fato e não
do que a gente “achava” ser o que a população precisava. Nesta equipe conheci
ACS com “cabelo de bruxa”, Técnica de Enfermagem que canta nas horas
vagas, outra com sorriso gigante, uma
terceira que se apaixonou pela área mais distante de todas, motorista que encara buracos, lama (e também
poeira) com imenso bom humor. ACD e recepcionista que apoia em tudo que é
preciso, dentista que escolhe presente de amigo secreto como ninguém.
9.
Sabiny, chegou
por último para ocupar o lugar que deixei (ainda não tenho certeza que deixei).
Um olhar que vê coisas em poucos segundos. 15 dias de convivência, mas pareceu
bem mais, pareceram meses.
10.
Fabiano Ribeiro,
o primeiro e Único Secretario de Saúde com quem trabalhei até hoje que sabia o
que estava fazendo e não apenas deixava o barco seguir seu rumo incerto. Conhece
profundamente a gestão e montou uma equipe afinada e, sobretudo, com sonhos de
um SUS real que pode e deve ser melhor.
11.
Mavie Eloy,
subsecretaria de saúde. Uma mulher que passou por situações difíceis com
determinação e sem abandonar os sonhos.
Entre tantas outras coisas já tratou de lobsomice com sucesso. É louca
de pedra (amai-vos uns aos loucos). Nada mais quero (ou preciso) dizer.
Todas as outras
pessoas maravilhosas que não consegui citar, desculpem-me, por favor.
[Ernande
Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 todas às 6tas]