Quando eu estava no auge dos meus nove para dez anos, minha avó decidiu me explicar sobre a novena. Afinal, ela ficava à noite rezando e ninguém podia interrompê-la. Silêncio absoluto e eu ficava sentada no sofá vermelho com flores pretas e brancas com cheiro de casa de vó assistindo. Então ela me sentou na sala e explicou sobre a novena das três Ave-Marias, como rezar o terço – bolinhas grandes, bolinhas pequenas.
Nunca fui boa em decorar as orações. Trocava a ordem do credo e no Santo Anjo eu criava minhas próprias palavras porque não entendia o que eles estavam falando. Mas minha avó falou do poder da novena, nove dias rezando, vários Pai-Nossos e várias Ave-Marias – ajoelhada no chão que era importante o sofrimento! Eu ouvi com muita atenção e ela falou que se eu desejasse com muita fé, mas muita fé, iria se realizar. Seu eu orasse com todo o meu coração e devoção, toda a minha fé de nove anos de idade eu iria ter meus desejos atendidos.
Então ela anotou em um papel a novena e explicou que até gente muito doente tinha se curado com a novena, que quem estava mal na escola tinha passado de ano, entre tantos outros milagres. Eu fiquei maravilhada com o poder de rezar. Ela me explicou que eu poderia fazer três desejos como: passar de ano, tirar uma boa nota, entre outros. Mas em geral eu era uma boa aluna, não tinha ninguém doente em casa, parecia que tudo ia bem. E a advertência era clara: “não podia contar para ninguém o que eu tinha desejado. Se não, não acontecia”.
Então fiz meus três desejos por ordem de importância, os dois menos importantes eu não lembro. Mas o mais importante de todos eu lembro! Rezei por 9 dias ajoelhada no chão com a minha avó, e alguns dias sozinha no meu quarto, com toda a fé do meu coração, ficava ajoelhada até os meus joelhos ficarem vermelhos e com a marca do assoalho do chão, considerei até jogar milho no chão como tinha visto na novela. Mas achei que minha fé era boa para não precisar, porque perguntei para a minha avó e ela disse que rezar com milho no chão era só para quem tinha feito algo muito ruim.
O meu desejo, acho que agora posso revelar sem medo se vai acontecer ou não, era, pasmem, que os Pokémons existissem! Rezei com toda a minha fé de 9 para 10 anos de idade para que eu acordasse depois dos nove dias de reza intensa e encontrasse as pokebolas no meu quarto, ou para que o Professor Carvalho (personagem do desenho Pokémon) me enviasse uma mensagem e eu tivesse que escolher entre uma das criaturinhas para começar a minha jornada de treinadora de Pokémon.
Não preciso contar a minha decepção ao acordar depois dos nove dias e ficar esperando os Pokémons aparecerem. Já estava imaginando como seria na escola, eu não ia contar para ninguém, mas saberia que eu que tinha trazido os Pokémons para o mundo. Já tinha até um plano B se o professor Carvalho não me chamasse para ser uma treinadora, eu iria capturar um Pokémon selvagem! Esperei para encontrar a minha avó e pedi para ela quando que o desejo acontecia, ela disse que “às vezes toma tempo” e advertiu que era preciso muita fé. Fiquei decepcionada e perplexa com a minha fé assistindo jornal e esperando que a manchete na televisão dissesse que os Pokémons eram de verdade e que estava recrutando novas crianças para treinar.
Depois eu quis as corujas do Harry Potter, ou um armário para Nárnia e até fiquei sabendo que teve criança que desejou raio lazer verde como um dos três desejos da pulseira que arrebenta com o tempo do Padre Cícero. O tempo passou, não tive a minha Pokeagenda, mas sentei e tive uma conversa muito séria com um garoto que entrou com um boné do personagem principal do Pokémon. Não precisei nem de um segundo para reconhecer e perguntar para ele onde estavam as pokébolas, entre exame físico e conversas com o pai discutimos sobre qual Pokémon ele escolheria para iniciar a vida de treinador Pokémon, quais ele captaria e como cuidaria deles. Ele sorriu e até ficou um pouco melhor da amigdalite.
"Pelo mundo viajarei tentando encontrar. Um Pokémon e com o seu poder tudo transformar..."
Voam abraços,
Mayara Floss