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02 junho 2017

TRILOGIA DA DESPEDIDA

Imagem capturada na internet, 2017.

Ernande Valentin do Prado

O fim

Você pode me sentir?
Perguntou ele
desta vez já sem forças

Depois calou-se
só por um instante
para ouvi ela dizer

eu posso te sentir
como sempre
como sempre senti

Ela percebeu
que desta vez
ele estava diferente

e que poderiam se perder de vez
e para isso
se perder de vez

não estava preparada
Será que algum dia estaria?
Não deu tempo de se perguntar

Quando o fim começa
de verdade
é muito difícil parar

Eu não sei mais o que devo fazer
Enfim disse ele
finalmente entendendo

Ela respondeu
sem pensar no efeito de suas palavras
não faça nada

Nada
Nada mesmo
nada

Mais de vinte anos se passaram
até que um deles falasse
(de novo)

Morro
todo dia
de saudades da gente

Acaba assim

Deixamos
enfim
o que sentimos

um
pelo
outro

se afundar
num mar de mágoas
de esquecimentos?

No último minuto

Não faço nada?
Não.
Não faça nada

E deixou tudo se apagar?
se perder
num mar de esquecimentos?

É
é
é?

Você vai esquecer
seguir sua vida
apagar nós dois?

É.
É o melhor a fazer
não é?

Você sabe
não consigo esquecer
Você sabe

Cada palavra
cada coisa dita
cada coisa que fizemos

Deus
do
céu

cada foto
cada fragmento
cada orgasmo

Tudo vai ficar gravado
Martelando no tempo
tá tá tá

martelando
martelando
martelando

até perceber o erro
até perceber que isso
o nosso amor

(talvez)
não tenha fim
jamais

Não sei mais o que dizer
Então é melhor não dizer nada

Sabe que te amo?
Sei.
Sabe?

Mas sei também
que agora
isso não ajuda  

Sabe que dizendo isso
que me ama
só piora a situação?

Sei.
Sei sim.
Mas quem disse que quero facilitar?

Não
não mesmo
Não vou facilitar

Não vou te esquecer
Jamais
mesmo com o tempo

Você já me esqueceu outras vezes
Sabe disso
Não sabe?

Vai negar
sei que sempre nega
mas sabe.

Sempre soube quem sou eu
(é verdade)
mas nem sempre lembra do que vivemos juntos

Vai esquecer de novo
não vai se lembrar que rimos juntos
que choramos juntos

que conversamos sobre as dificuldades dessa vida
muitas vezes
repetidas vezes

Será que vai se lembrar
da mesa
do sofá
da cama
do banco da praça
das sombras das arvores
das promessas que fizemos de juras eternas de amor eterno

Tudo
Tudo vai se perder
como lágrimas na chuva

Eu falo demais
desculpe
Quer dizer alguma coisa?

Sim
você fala demais
mas adoro te ouvir falar

Não estou sabendo viver
Eu sei (que você sabe)
que não estou sabendo viver assim

Tenho medo
medo
medo

Eu
xiiiiiii
minha vez

Tenha
paciência
comigo


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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