Ernande
Valentin do Prado
Foto: Heloísa Bernini do Prado. Texto e edição: Ernande Valentin do Prado |
Brasília. Linha W3 – Planalto
Pela manhã, indo para mais um compromisso plenamente
adiável, o ônibus para em frente ao Shopping Pátio Brasil. Estou encostado na
janela com uma bolsa mais pesada do que gostaria. Entra bem rápido pela porta
de trás uma moça bem jovem. Ela fica em pé uns dois passos de onde estou. Parece
morar na rua e não estar muito “normal”. Nos pés apenas o chão. Cabelo curto,
mas amarrado tipo rabo de cavalo no alto da cabeça. Quando o ônibus arranca,
ela grita:
- Motorista, pare na casa do Ceará, vou ver se eles fazem uma chapinha de graça no meu cabelo.
Os passageiros apressam-se em avisar que aquele ônibus não
passa na casa do Ceará. Ela diz:
- Então deixa eu descer.
O motorista abre a porta e ela sai. (os passageiros parecem
ficar aliviados, mas não entendo exatamente porque, embora desconfie).
Enquanto o ônibus se afasta vejo-a andado entre as
pessoas na calçada, como se aquele encontro nunca tivesse acontecido. Penso,
arrepiado, com lágrimas nos olhos (sem entender exatamente a razão, o motivo a
circunstancia): quando parece que já se perdeu tudo, ainda sobram os sonhos.
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