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26 setembro 2018

Viagem Amazônica

Canyon Amazônico em formação
English Below

Da Série Mundo Impossível 

Manaus, 19 de setembro de 2084

A mãe segura a mão da filha que está com os olhos grudados na janela. A floresta é linda e uma seringueira imponente recebe alguns raios do sol. É possível ver o frescor, provavelmente a maior árvore que a menina já viu na vida. A seringueira tem cerca de 7 metros e vai subindo pelos andares do hotel. O guia aparece no corredor e acena para as duas. Ele se apresenta:

- Olá meu nome é João vou ser o guia de vocês hoje pelo tour do Rio Negro, vocês podem me seguir até a garagem. - Elas seguiram ele pelo corredor.

Eles descem no subsolo pelo elevador e entram na garagem do hotel, um jipe autoguiado está estacionado logo perto. O guia parece muito animado. O portão da garagem começa a abrir e começam a andar pela rua em direção ao Rio Negro.

A menina começa a tossir dentro do carro. O guia diz:

- Acredito que o clima possa estar causando algum estranhamento pulmonar deixa eu ajustar aqui. O carro é autoguiado e vai em direção ao Rio Negro, eles sentam ao redor de uma mesa. O caminho sacolejo faz o guia advertir: 

- As estradas estão muito ruins - O carro se auto-estaciona na beira do Rio Negro. A mulher olha resoluta pela janela, os olhos tem um brilho seco.

O guia faz as instruções para colocarem as máscaras e proteção de pele:

- Obrigatórias desde 2058 pela legislação brasileira - Ele lembra e adverte. O guia puxa mantas protetoras também.

Eles descem e se cobrem com as mantas e o guia começa a explicar por um auto-falante que sai da sua máscara:

- Aqui são os vestígios de um dos que foi um dos maiores rios do Planeta. Infelizmente no passado devido a muita corrupção e problemas governamentais não se foi devidamente investido na preservação da natureza. Em 2020 começaram os primeiros registros de desertificação, mas devido às poucas políticas a humanidade ignorou na época. - E começa a caminhar em direção ao Rio, descendo por uma escada até o fundo do rio, a menina e a mulher seguem. Continua: 

- O Rio Negro foi o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas. 
 
Aqui podemos observar os restos de uma carcaça de jacaré, um dos grandes répteis extintos pela última onda de extinção a qual terminou com a maioria dos grandes répteis, peixes e mamíferos. 

- Ele aponta para uma carcaça, isolada pelas equipes de neopaleontologistas.

Eles caminham longamente pelo Rio seco quase um canyon com as margens. Ele explica que no passado o Rio enchia com o degelo dos Andes, mas após o aquecimento global se tornar mais severo os Andes não conseguiam mais formar neve e aí começaram as erosões.

Ele conta dados interessantes até que chega no local de encontro das águas, entre o Rio Negro e o Solimões. Um grande vão vazio.

O guia diz:
- Aguardem um segundo que vou mostrar uma imagem para vocês da floresta e do encontro das águas. - ele envia as informações do seu banco de dados para os implantes de retina da mulher e da filha. Os implantes cocleares também vibram com os sons da floresta.

Tudo gradualmente vai voltando ao tempo e ficando verde ao redor deles e aos poucos o Rio vai enchendo de neopixels retinianos. Macacos pulando, leopardos, jacarés, araras, botos cor-de-rosa. O pseudocheiro de floresta entra pelas narinas através da máscara. Mesmo assim as duas respiram fundo juntas maravilhadas. A imagem vai ficando mais intensa como se navegassem pela floresta, o guia vai escolhendo mentalmente os trajetos para aparecerem nas próximas imagens. De repente e abruptamente a imagem se dissolve e o guia diz:

- Desculpa por interromper a transmissão mas está vindo uma tempestade de areia precisamos voltar imediatamente. - ele já começa a dar os primeiros passos e segura a mão da menina. Rapidamente eles começam a correr, ele aciona o jipe autoguiado para vir na direção deles, mas ainda assim estão longe.

Os três pontos humanos correm pelo deserto amazônico. As gotas de suor caem secas no meio de onde um dia foi o Rio Negro.

No trem de Bruxelas para Leuven, Bélgica - 11h 22/09/2018

Abraços que pousam,

Mayara Floss



12 setembro 2018

TCLE

Ilustração: Pawel Kuczynski


Os pais sentam no escritório, o médico está por vir , a mãe segura o bebê recém nascido com força enquanto embala num ritmo que é mais para tranquiliza-la do que para tranquilizar o bebê, não fazem nem 48hs que ele nasceu. Eles postergaram ao máximo essa decisão. No hospital tudo parece áspero, as paredes azul claro, as janelas para um mundo quente e impossível de um ano quase impossível: 2084. A mesa branca áspera separa a cadeira dos pais e a cadeira do médico. Tudo precede a decisão que ainda não foi tomada.

O médico abre a porta dos fundos do consultório sem bater nem avisar, tem certas coisas que nem o tempo resolve, o que faz o homem e a mulher darem um sobressalto, por sorte o bebê não acordou, mas os olhos da mulher já usaram esse pressuposto para encherem de água. O médico de camisa sem botões, a mais nova modernidade desta era e uma calça super slim também da mais última moda. Ele tem um sorriso grande olha com comoção para os pais falando: 

- Senhor e senhora Silva, bom quase já não acontece mais nos dias de hoje, mas vejo que vocês estão em duvida em relação ao termo de consentimento livre e esclarecido e colocam em risco o futuro do filho de vocês.

O pai tenta falar mas falha a voz:

- É-é-é que não estamos certos se a colocação do implante é uma boa ideia. 

O médico olha para eles: 
- Qual é o medo de vocês?

A mãe fala:
- O implante parece ser seguro, mas temos medo que o nosso filho possa também ser controlado por ele.

O médico então segue:
- Em relação ao procedimento é extremamente seguro, cerca de 45 minutos e o, como é mesmo o nome dele? - e olha os formulários - Ah sim o Gabriel, poderá desfrutar de uma vida normal com acesso a informação direto no telencéfalo dele, basta pensar para fazer as conexões. A grande vantagem é que quanto menor a pessoa mais facilmente se adapta a transformação. Eu por exemplo coloquei o implante com três anos apenas e precisei de pelo menos toda a minha infância para lidar bem com ele. - os pais assentem com a cabeça, o médico faz mais uma observação: Vejo que vocês decidiram por não usar o implante.

O pai diz ajustando o óculos tecnológico que busca informações e interage com a lente em sua Iris enquanto escuta o médico:
- Não, na nossa época o governo não fornecia gratuitamente como agora. Nos mantivemos como Androids tipo 1. 

O médico diz:
- Ah sim, certamente, mas então seguindo a grande vantagem é que todas as crianças agora serão muito mais competitivas e o filho de vocês não conseguirá acompanhar o nível educacional se não colocar o implante. Vocês poderão dar um futuro para o filho de vocês. Se não ele será um excluido digital, como já existem muitas crianças em países menos desenvolvidos.

A mãe diz:
- Sim, estamos acompanhando as propagandas na nossa retina. 

O médico segue:
- Ele poderá ter acesso às informações instantaneamente, e irá processa-las muito mais rapidamente, com a energia do cérebro dele e irá desenvolver-se muito bem.

O pai pergunta:
- E qual a sua opinião sobre a Síndrome de Excesso de informação?

O médico diz:
- Aguarde um segundo vamos conectar nossos dispositivos e vou mostrar algo para vocês.

Uma sequência de imagens envolvendo os pais e a criança começa a aparecer na retina dos pais e do médico, e os implantes cocleares começam a vibrar com as informações sobre o futuro da criança, cuidados para evitar a síndrome do excesso de informação e claro, no final, eles aparecem abraçados e felizes com um possível Gabriel já crescido, que já muito se assemelha ao que será o real Gabriel, pois todos os bebês agora tem leitura de código genético fenotípica prévia. É claro que o logo do laboratório BB aparece no final. 

- Perfeito não? - Diz o médico - para vocês concordarem com isso basta assinarem esse termo de consentimento livre e esclarecido digital. 

- Está é uma bela demonstração de amostra grátis do laboratório BB - diz o pai. O médico sorri e pega uma caneta digital, um ato simbólico nos dias de hoje, que estava no bolso e estende para a mãe, não sem antes dizer - pelo futuro do seu filho. 


Abraços que pousam,
Mayara Floss

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