Sobre a primeira semana em Caruaru: é tudo muito junto. Vivo uma montanha russa. Saio da revolta, para a seca, para a dor, para a compaixão, para o carinho, para um profissional especialista que não cuida, para uma refeição preparada pelas mãos da mulher que trabalha nos serviços gerais, para a horta verde de coentro, para a empatia, para a mulher que quer estudar e o marido não deixa, para perder a hora ouvindo histórias, para a Agente comunitária que a mãe doou as terras para construir uma unidade de apoio, para o profissional na atenção secundária que cobra o paciente (dentro do SUS), para a equipe experimentando chimarrão, para não ter água para lavar as mãos, para a regulação que vê os exames demais descuidados, para diagnóstico complexo, para história de luta, para depressão, para carinho de novo, mãos que tocam, braços que abraçam, pessoas que cuidam. Me apelidaram de Angélica, risadas demais, sotaques diferentes, doença na equipe e cuidado em família, goiabada na casa da paciente, história de rezadora, história de tentativa roubar caixa d’água da unidade, conheço gestante jovem demais por opção, história de algaroba, pontos de apoio, Serra verde, Malhada de Pedra, Sítio Sagui, do quilombo, música de Luiz Gonzaga, analfabetismo doído demais, sobre a violência que está muita, paciente trazendo presente no final da consulta, para o senhor reclamando na porta, para carregar balde de água para a unidade, para andar na estrada de terra, na estrada nova, a auxiliar de consultório cantando as novas músicas do Luan Santana, e a Agente comunitária de saúde dizendo que a música dela é malandramente, para a tapioca de cocô logo cedo, para o esforço de implementar acesso avançado, para a história de vereador que quer atrapalhar, para a história do senhor que perdeu sete filhos e fica triste, e a mulher que está feliz porque vai ocupar a cabeça costurando, sobre bolos, não comer leite, carinho e encontros-despedidas. E sobre o céu ter a esperança de ter pelo menos nuvens.
Abraços que pousam,
Mayara Floss