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12 abril 2017

Junto


Sobre a primeira semana em Caruaru: é tudo muito junto. Vivo uma montanha russa. Saio da revolta, para a seca, para a dor, para a compaixão, para o carinho, para um profissional especialista que não cuida, para uma refeição preparada pelas mãos da mulher que trabalha nos serviços gerais, para a horta verde de coentro, para a empatia, para a mulher que quer estudar e o marido não deixa, para perder a hora ouvindo histórias, para a Agente comunitária que a mãe doou as terras para construir uma unidade de apoio, para o profissional na atenção secundária que cobra o paciente (dentro do SUS), para a equipe experimentando chimarrão, para não ter água para lavar as mãos, para a regulação que vê os exames demais descuidados, para diagnóstico complexo, para história de luta, para depressão, para carinho de novo, mãos que tocam, braços que abraçam, pessoas que cuidam. Me apelidaram de Angélica, risadas demais, sotaques diferentes, doença na equipe e cuidado em família, goiabada na casa da paciente, história de rezadora, história de tentativa roubar caixa d’água da unidade, conheço gestante jovem demais por opção, história de algaroba, pontos de apoio, Serra verde, Malhada de Pedra, Sítio Sagui, do quilombo, música de Luiz Gonzaga, analfabetismo doído demais, sobre a violência que está muita, paciente trazendo presente no final da consulta, para o senhor reclamando na porta, para carregar balde de água para a unidade, para andar na estrada de terra, na estrada nova, a auxiliar de consultório cantando as novas músicas do Luan Santana, e a Agente comunitária de saúde dizendo que a música dela é malandramente, para a tapioca de cocô logo cedo, para o esforço de implementar acesso avançado, para a história de vereador que quer atrapalhar, para a história do senhor que perdeu sete filhos e fica triste, e a mulher que está feliz porque vai ocupar a cabeça costurando, sobre bolos, não comer leite, carinho e encontros-despedidas. E sobre o céu ter a esperança de ter pelo menos nuvens.

Abraços que pousam,
Mayara Floss

29 março 2017

Zum-zum-zum

Linhas. Caruaru-PE

Conforme os passos da rua, você escuta o andar ritmado do pedal da máquina de costura, zum-zum-zum. Cada garagem é um fabrico, pelo menos uma pessoa que passa pelo menos dez horas por dia sentada costurando, pregando botão, fazendo bolso, cortando, acabamento, zum-zum-zum, linha-a-linha.

Os pais costuram, as avós cuidam das crianças, tudo para no meio da seca por comida e dinheiro em casa. Cada peça de roupa é alguns centavos, trinta centavos o calção masculino com acabamento, desses que é vendido até por cem reais. Por semana duas pessoas fazem cerca de 300 calções. Do lucro ainda tem que pagar a máquina de costura.

O sonho da maioria é juntar dinheiro e empreender com várias máquinas e contratar várias pessoas trabalhando por trinta centavos a peça. Como eles. Quando o sol cai o zum-zum-zum continua, é, também, o ritmo da noite


Caruaru fev/17
Mayara Floss

22 março 2017

Pontos turísticos

Caruaru-PE

- Mataram um aqui, outro ali – ele aponta com o dedo indicador, e segue naturalmente – mataram outro aqui. – ele mostra com a mão uma porta de garagem, seguimos andando – mataram um mesmo aqui - aponta o ponto do cachorro quente – aqui o pai viu o filho morrer, na verdade ele achou que eram uns amigos e chamou o filho pra morte – aponta a porta de uma casa – agora o pai decidiu se mudar – caminhamos mais um pouco – mataram também aqui, mas já faz um tempo. Pergunto: – quanto tempo? – ele diz - Ah, alguns meses só.


Caruaru 02/17
Abraços que pousam,
Mayara Floss

01 fevereiro 2017

Janela

Serra Velha - Caruaru/PE

A criança estava olhando fixamente para a janela, no alto dos seus dois anos, impressionada apontava para o vidro com o dedo.
Seu pai disse:
- Pode olhar bem mesmo, porque você nunca viu chuva não.
Ele para pensativo:
- Acho que nem nuvem ultimamente a gente está tendo.

30/01/2017 - Caruaru/PE



Mayara Floss

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