Mostrando postagens com marcador rural. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador rural. Mostrar todas as postagens

08 agosto 2018

4am



4 am - Toca o celular ao lado da minha cama em casa (dos "plantões" seguidos de todo médico que trabalha na zona rural).


- Dra não tá mais dando. Ele quer morfina toda hora. Não consegue dormir.
- Ele tinha dito que não quer sedar.
- Ele disse que agora quer dormir. 

(10 meses de vida desde o diagnóstico, 10 meses de muita vida, doença, planos, quimioterapia e mudanças)

Abraços que pousam,
Mayara Floss

26 abril 2018

Francesa Alta


Dos trabalhos em equipe e das alegrias de escrever e ser chamada para escrever. Seis meses de produção, estudo e aprendizado. Grata pela equipe e pelos afetos que construiram o "Francesa Alta". 

Abraços que pousam,
Mayara Floss

27 dezembro 2017

Feridas



“Essas feridas da vida
Amarga vida”

A família era grande e pobre, nós eramos em dez criança, meus pais adotaram dois que os pais tinham se matado.
Com 12 anos, não tinha carinho do pai e mãe
Não podia,
Quando tinha 18 anos apanhava ainda

Ela surrava bastante até com vara de espinho
Surrou tanto minha irmã que ela se mijou tudo
Se fazia uma coisinha errada
Tinha que fazer todo o serviço de novo

Eu não tenho amor pela minha mãe, ela tinha ódio.
Quando vinha visita eles sentavam na mesa primeiro,
e nós sentava depois para comer, se sobrava

Hoje nenhum dos irmãos quer ir numa festa
Porque de solteiro nós não podia sair
Ela chamava nós uma vez, se chamava na segunda já era para apanhar

Eu quero dar pros meus filhos o que eu não tive da minha mãe
Um dia eu tinha que cuidar dos pias,
Pias aprontam, são safados, você sabe
Um dia meu irmão fugiu com eles para roubar melão
Bati no meu irmão com pedaço de pau
Ele ficou com os hematomas e ganhou febre

(suspiro)

Nunca vou esquecer
Até hoje me arrependo
Nunca mais bati em nada nem ninguém.

- E a sua família como é?

Ah a gente se ama muito, amo muito meus filhos
Não posso me queixar.

Abraços que pousam,
Mayara Floss

20 dezembro 2017

Onze e meia

Ruralices. Foto: Mayara Floss
O conflito familiar na casa de interior era sério. Ex-esposa, plantação de milho, vacas para tirar leite. Mas, depois do AVC do companheiro ele não queria mais sair de casa. Já há mais de um ano de companheira para cuidadora oficial, ela já dizia repetidamente: “Não aguento mais”.
Entre conversas descubro um grande motivo de chateação, ela ia perder o casamento da sobrinha. Pergunto porque não ir, ele muito teimoso diz:
- Não, é muito long -.
Ela já com o vestido pronto, com a carona arrumada, tudo organizado, balança a cabeça. No final, decido prescrever na receita: “Ir no casamento da sobrinha”.
Ela pendurou feliz na porta da geladeira, destemida.

Hoje eles vieram até a unidade e perguntei:
-Foram ao casamento?
Ele responde feliz:
- Fomos!
Sigo:
- E como estava? -.
- Muito bom, nunca mais um casamento como aquele. - Ela sorri e diz: - Nunca mais.
Ela emenda:
- A gente não se sentiu pequeno, se sentiu gente, foi muito bom. .
Pergunto:
-Ficaram até o final?
Eles estufam o peito:
- Até às onze  e meia!

Abraços que pousam,
Mayara Floss

22 novembro 2017

Conhecer o mar

Dos muros de Caratinga-MG.

Pro sofrimento que é a roça não é fácil
Meu piá reclama: mãe nunca vou ir na praia ver o mar?
Ele é filho de agricultor.
Já segurei um (dos filhos) na roça e me arrependo
É muito serviço em casa.

O piá mais novo é estudioso, espero que ele conheça o mar.

Cunha Porã 18/10/2017

Abraços que pousam,
Mayara Floss

18 outubro 2017

Curva

Ruralices de Caruaru


O que aconteceu???
Doutora, cai na curva!

E mostra os dedos e joelhos ralados. 

Abraços que Pousam,
Mayara

01 fevereiro 2017

Janela

Serra Velha - Caruaru/PE

A criança estava olhando fixamente para a janela, no alto dos seus dois anos, impressionada apontava para o vidro com o dedo.
Seu pai disse:
- Pode olhar bem mesmo, porque você nunca viu chuva não.
Ele para pensativo:
- Acho que nem nuvem ultimamente a gente está tendo.

30/01/2017 - Caruaru/PE



Mayara Floss

14 setembro 2016

Quintinhas

Poesia da van

Causo engraçado de estar à caminho do meu estágio na zona rural e o motorista da van me desafiar a escrever um poema por dia, já que - após encontrar um livro de poesias na van comecei a lê-lo - gostava tanto de poesia. Então começou um desafio instigante de após cada dia de trabalho escrever um poema e recitá-lo no caminho de volta para casa. Pensei nas "Quintanares" do Mario Quintana, porque a Unidade Básica de Saúde é localizada na "Quintinha", então ao longo dos próximos dias irei postar as "quintinhas". Seguem alguns aqui!



Onde não tem asfalto

Primeiro poema

O Luís me desafiou
- Um poema por dia -
Ele falou
A estrada é sem asfalto
Sem calçada
Sem urbanidade
Mas a porta está sempre
aberta
Tudo muito acolhedor
Entra alo
Criança, idoso,
mordidade de cachorro
homem, gestante, Mulher
a família inteira...
Tudo assim:
junto-e-misturado
como me falou uma paciente

01/09/16

Visita domiciliar

Poeminha de Sexta

Balanço da semana
Mapas, casas,
Famílias, chuvas,
Varais de roupa,
Grampos, trabalho,
plantas, hortas,
laranjas, chão, terra,
asfalto, acolhimento,
histórias da van,
do refeitório, do estetoscópio
Cercas, espaços, comunidade
A vida que todos ensinam
e que todos aprendem...

02/09/16


Em breve mais!
Abraços que pousam,
Mayara Floss

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog