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23 agosto 2017

Fábio



Cuidar dos pacientes no interior foi minha forma de voltar para a terra. Eu plantava fumo e hoje tento fazer os pacientes pararem de fumar.

Barão, jul/17

Abraços que pousam,
Mayara Floss

16 agosto 2017

Das pequenas alegrias - Dias de Igor


Para no posto de gasolina e eles oferecem desconto de 40 centavos no litro da gasolina, por causa do serviço prestado. Ao mesmo tempo, conta sobre o cartaz dos planetas com a filha. Quer fazer de material reciclável e descobriu que Plutão não existe mais e que ontem chegou tarde e as crianças já estavam dormindo. Vamos visitar uma paciente e ele diz “a gente nunca imagina que vai chegar o ponto de ter a comida que você mais gosta e não conseguir comer”. Ou reflete “sai tão ingênuo da universidade, achando que poderia fazer alguém parando de fumar, obedecer um medicamento”. Quase na hora do almoço corremos para levar um paciente do presídio que ele cuida voluntariamente no hospital, o paciente diz Trás um pipocão pra mim”, a resposta “Sim, pode deixar”. Após ir até a casa de um senhor lá bem no alto do morro em Caratinga, ele oferece carona para o filho que senta no banco da frente e eles conversam sobre o pai doente, sobre a situação da família. Vamos para o presídio e o paciente nos diz: “Ou você está para morrer ou para matar”. Uma história de uma paciente que apanhou por dias na cela e que ele disse que não ia mais atender ninguém até pararem de bater nela. À noite depois um dia extenso de finitudes, que começa antes das sete horas da manhã vamos rever o paciente ao colocar os pés na porta do hospital me olha “Ih, esquecemos do pipocão” eu emendo falando “Trazemos amanhã”, ele diz “Não, vamos lá buscar”. Entramos no carro, descemos o morro, fomos até o centro, atravessamos a rua, já passando das nove. Compramos o pipocão. Ele vai avaliar o paciente senta na cama ao lado dele e os dois comem pipoca, quase que em uma travessura. No final ele me diz: “Eu quero ver ele sem essa roupa do hospital azul horrível e sem o uniforme do presídio, queria ver ele vestido como gente”. 


Caratinga, 2017.

Abraços que pousam,
Mayara Floss

12 abril 2017

Junto


Sobre a primeira semana em Caruaru: é tudo muito junto. Vivo uma montanha russa. Saio da revolta, para a seca, para a dor, para a compaixão, para o carinho, para um profissional especialista que não cuida, para uma refeição preparada pelas mãos da mulher que trabalha nos serviços gerais, para a horta verde de coentro, para a empatia, para a mulher que quer estudar e o marido não deixa, para perder a hora ouvindo histórias, para a Agente comunitária que a mãe doou as terras para construir uma unidade de apoio, para o profissional na atenção secundária que cobra o paciente (dentro do SUS), para a equipe experimentando chimarrão, para não ter água para lavar as mãos, para a regulação que vê os exames demais descuidados, para diagnóstico complexo, para história de luta, para depressão, para carinho de novo, mãos que tocam, braços que abraçam, pessoas que cuidam. Me apelidaram de Angélica, risadas demais, sotaques diferentes, doença na equipe e cuidado em família, goiabada na casa da paciente, história de rezadora, história de tentativa roubar caixa d’água da unidade, conheço gestante jovem demais por opção, história de algaroba, pontos de apoio, Serra verde, Malhada de Pedra, Sítio Sagui, do quilombo, música de Luiz Gonzaga, analfabetismo doído demais, sobre a violência que está muita, paciente trazendo presente no final da consulta, para o senhor reclamando na porta, para carregar balde de água para a unidade, para andar na estrada de terra, na estrada nova, a auxiliar de consultório cantando as novas músicas do Luan Santana, e a Agente comunitária de saúde dizendo que a música dela é malandramente, para a tapioca de cocô logo cedo, para o esforço de implementar acesso avançado, para a história de vereador que quer atrapalhar, para a história do senhor que perdeu sete filhos e fica triste, e a mulher que está feliz porque vai ocupar a cabeça costurando, sobre bolos, não comer leite, carinho e encontros-despedidas. E sobre o céu ter a esperança de ter pelo menos nuvens.

Abraços que pousam,
Mayara Floss

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