Para Julio Wong Un
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Sobre o que o homem carrega no peito. Foto, Ernande, de uma camiseta de Julio Wong Un. |
Ernande Valentin do
Prado
Eu caminho na chuva
Eu pego papel na ventania
Eu afundo o pé na enxurrada
Atravessando a rua
Eu argumento com vendedores inconvenientes
Eu aceito santinhos de candidatos
Eu converso com testemunhas de Jeová
Quando batem em minha porta
Eu aceno para desconhecidos
Eu cumprimento estranhos no banheiro
Eu puxo conversa com pessoas que esperam
É quase sempre uma surpresa
Eu uso chapéu de palha
Eu uso camiseta com furo
Eu ando de chinelo de dedos na rua
Faz pouco tempo, mas aprendi
Eu discuto o sentido da vida com Alice
Eu discuto a combinação das cores dos tecidos com
Larissa
Eu reclamo de cansaço com Heloisa
Eu provoco Beatriz
Quando me ignora demais
Eu discuto política com o Zé (O meu pai)
Eu chamo atenção do Zé ( O meu gato)
Eu escuto o Zé (O locutor da rádio rock)
Assim assado
Aí Julio perguntou: isso é maconha ou surto?
Eu respondi: só falta de papel e caneta.
Entendi, respondeu ele, do outro lado do WhatAPP.
E a chuva ainda custa a passar.
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]