Maria Lúcia Futuro
Mühlbauer
Na última consulta com Dr
Felisbino, depois dos exames, ele solicitou uma ultrassonografia para checar
exatamente como estava o bebê. Como a gravidez já entrava na 38° semana a
recomendação é que fosse feita logo, sem esperar agendamento, tipo urgência. Lá
fomos nós! Feito exame tornamos a buscar o doutor para apresentar o resultado.
Até então eu me sentia super bem, segura e tranquila. Afinal a escolha de um
profissional recomendado e que fazia parto normal estava sendo fundamental.
Ao entregar o resultado à
atendente na sala de espera para que ele visse no intervalo das consultas fomos
encaminhados para uma salinha paralela. Enquanto esperávamos ficamos vendo as
fotos de famílias sorridentes num painel de agradecimentos... algumas com
máscaras na cara... o que me pareceu estranho, tanto que comentei com o Pedro.
Mas nem deu tempo de uma conversa pois o Dr Felisbino veio nos encontrar com
uma cara fechada, cenho de preocupação. Na hora tremi nas bases, afinal
detectar preocupação num médico não indica nada bom...
E veio a bomba, “como ele
suspeitava, o bebê estava com pouco líquido amniótico” e eu precisava de uma
cesariana. A boa notícia era que dava para esperar até sábado de manhã.
Saímos do atendimento
“zuretas”.. eu me sentia mal... se era risco, como esperar 3 dias? Antes eu
estava poderosa e “fagueira”, claro que pesando como uma hipopótama, mas me
sentido bem!!! Pedro, de bom companheiro, transformou-se num controlador
compulsivo, querendo controlar até minha respiração!! Ligou pra todo mundo
falando do risco que eu nem entendia que havia. Confesso que foi demais pra meu
ser!!! Devia estar suando adrenalina.... Medo e antecipação me dando
taquicardia!! “Paradoxalmente” lembrei de ter lido em algum lugar que a
adrenalina em doses equilibradas, junto com a ocitocina favorece o trabalho de
parto... e me deu uma vontade louca de rir de tudo isto!! Estado de alerta máximo,
medo e final de gravidez!!! Direto para casa preparar mala hospitalar...
Amanheci no outro dia
banhada de suor por conta de um pesadelo... Pedro me acalmou, me abraçou e
consolou... ele parecia mais pé no chão. Conversamos sobre nosso sonho de parto
normal, e ele garantiu que seria feito o melhor para o bebê, que estaria na
sala se cirurgia conosco... fiquei mais calma.
O outro dia foi ocupado
com ida ao trabalho, mas trabalhar que é bom... não rendi nada!!! A arrumação
da mala de noite durou umas 3 horas entre colocar e tirar roupas de maternidade
e bebê... chegou a beirar o trágico de tão cômico.... enfim... coisas da
vida. Acho que o dia do Pedro nem foi diferente do meu, por fim acabamos indo
dormir tarde sem nem jantarmos. Ao menos realmente dormirmos, barrigão com bebê
movendo menos, mas sem muita posição como nos últimos tempos. Manhã quente,
trânsito para o trabalho pesado, pés inchados... ao menos consegui render
melhor... também, seriam meus últimos dois dias para chegar à licença
maternidade. Bola pra frente que este é o país do futebol!!! No final da tarde
uma dorzinha nas costas de leve, que não melhorou nem com uma bolsa de água
quente. Precisei de uma massagem do Pedro pra conseguir dormir. Só que não deu
pra ir pro trabalho... a dor estava incomodando e mais forte, parecia que iam
desaparafusando meu quadril!! Leguei pra chefe e pedi dispensa, mesmo parecendo
malandragem minha, já que estava previsto pro bebê nascer no final de
semana... Na hora de sair pro trabalho Pedro disse que eu ligasse qualquer
coisa e ficou me olhando torto.. Achei que não estava bem, mas, a dor era maior
que o carinho, então beijei e fechei a porta pra ter tempo de me poupar. Tentei
voltar pra cama e dormir um pouco, fiz alongamento, tomei banho morno e a dor
começou a melhorar, mas passou a vir em ondas, e algumas vezes bem forte,
chegando ao pé da barriga... Como os pés estavam inchados coloquei as pernas
para o alto um instante, mas foi me dando uma inquietação que resolvi sair e
caminhar na pracinha. Acho que dei umas 4 voltas devagarinho e senti a calcinha
ficar molhada. Pensei comigo, que nem conseguia mais conter xixi e votei
caminhando mais depressa pra casa, mas a cada passo uma dor mais forte se
instalava na barriga. Liguei da esquina para o Pedro. Daí eu já estava certa
que o bebê estava vindo, e tentei inutilmente falar com Dr Felisbino. Deixei
recado na secretária do consultório, peguei a carteira do plano de saúde a
maleta preparada e um taxi para pegar o Pedro no trabalho e irmos para a
Maternidade.
Realmente deu tempo de
pegar o Pedro e entrar na primeira maternidade que encontramos pois a bolsa
estourou de vez e as contrações estavam com intervalos de 3 minutos, claro que
contados pelo Pedro que eu estava concentrada em respirar. O taxista foi super
legal e entrou buzinando no lugar das ambulâncias. Veio uma equipe de
atendimento e fomos levados para uma salinha de exame. Nem vi o Pedro pagar ao
moço. Só sei que uma mulher grandona se apresentou como Enfermeira
obstétrica e me ajudou a tirar a roupa e entrar num banho que me acalmou, mas
que não deu refresco nas contrações. Ao voltar para o leito me deu uma vontade
de fazer força e ela e Pedro ao meu lado me olhando com carinho foram um
alento. Pra encurtar a conversa não demorou muito eu comecei fazer força e a
vagir, e ouvi um outro grito saindo de mim... a enfermeira me apoiou e vi o
Pedro receber nos braços Maria... emoção única e uma profunda gratidão
por esta mulher maravilhosa estar no meu caminho, por ter parido num leito
acolhedor por não haver problema algum conosco. Aí eu pensei deu zebra!!!
Aconteceu o que não estava planejado pelo médico!!! E a Enfermeira disse que o
parto havia sido o mais tranquilo possível super dentro do normal, que pouco
líquido é o comum no final da gravidez... ZEBRA!!! Então era por o bebê no
colo, dar peito e voltar pra casa bem rapidinho que o momento era este.
Ainda na maternidade Maria
aprendeu a mamar direitinho e quando mamãe e D. Eloá chegaram para conhecer a
neta ficaram orgulhosas, mas desconfiadas, afinal ela tinha nascido numa
emergência!!! A volta pra casa foi cercada de cuidados, que hoje vejo
como exagerados. Não pode faze isto, não pode comer assim, tem que amamentar
sentada na cadeira de braço com travesseiros, nada de exagerar no colo, nada de
livre demanda, nada de beber líquidos durante a mamada (comer então!!!
Crime!), intervalos fixos com chupeta para acalmar, nada de acostumar mal a
Maria que vai ficar manhosa, e que precisa aprender que tem que dormir no
bercinho que o avô fez no cômodo ao lado do meu quarto... e foram tantas regras
que acabei me sentindo impotente, um lixo e deixando que dessem até mamadeira
embora meus peitos vazassem leite, mas não sustentavam... os intervalos no
peito nem chegavam perto de 2 horas e elas sabiam que bebês mamam de
3/3h!!!
Deprimi, eram tantos “tem
que” que acabei me perdendo e deixando que mamãe e D Eloá assumissem minha
vida... mas um dia, pela segunda semana, cansei de ficar inerte e tranquei a
porta num momento entre a saída de uma e entrada de outra. Pedro riu desta
atitude, mas gritei com ele dizendo que era conivente com as duas e que estavam
me roubando a chance de assumir a maternidade... briguei, zanguei e parecia um
bicho...e aí... me encontrei, como fêmea de algum mamífero kkkk e contra o que
parecia determinado passei a seguir o que minha intuição dizia, busquei apoio
na enfermeira que fez meu parto, passei a dar só peito joguei as parafernálias
fora! E novamente deu zebra! Não que tudo tenha saído de modo tranquilo e
fácil... mas fiz do meu modo, torto e capenga em muitos momentos, mas com ajuda
do Pedro, e da Maria descobrimos nosso caminho... contra todos que regravam
tudo e com apoio de quem acolhia o que vinha e contornava problemas...
Zebrão... nem voltei mais ao doutor... acabei sendo acompanhada na maternidade
mesmo e a enfermeirona ficou maior ainda, enorme, um grande abraço no meu
coração!!
[convidados escrevem no Rua Balsa
das 10 aos sábados e domingos]