07 outubro 2024

 




IMPORTA A IDADE?

Que diferença faz a idade quando o prazer de brincar une as almas? Que importa se um tem 11 anos e o outro ainda nem se firma sentado nos seus poucos meses de vida! Brincar e usufruir da alegria de estarem juntos faz quem vê se sentir feliz, acreditar que um mundo melhor é possível, que a vida tem esperança! 

Há que se agradecer estes momentos especiais que os encontros nos proporcionam. Há que se agradecer o bem que nos faz a renovação desta possibilidade de ser alegre e simples. Há que se agradecer!

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras

30 setembro 2024

É GAVIÃO DE CIDADE!

 






É GAVIÃO DE CIDADE!

 

 Estava passando por uma rua do bairro com uma amiga, e no meio da conversa a amiga apontou para a calçada oposta falando que galo diferente! Engraçado, como ele anda diferente! Olhando bem descobriram que realmente não era um galo, mas quanto mais se aproximavam mais ele se afastava correndo pelo meio da rua, cruzando para a calçada  do outro lado!  Elas caminharam vagarosas e sorrateiras tentando registrar a ave e verificar que animal era o ser fugitivo.

 Braços dados, pareciam duas cúmplices numa aventura perigosa, tamanha taquicardia  apresentavam.

 Cruza daqui, corre silenciosamente de cá, vai depressa pra lá, dobra a esquina que ele fugiu voando rasteiro e pimba! Uma foto do gavião pousado no muro.




                                                                                                  Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras





23 setembro 2024

 


PODE SER...

 

Naquela manhã chegou para fazer exercícios cheia de preguiça e dor. Primeiro observou-se no chão, onde os contatos eram mais fortes, onde doía mais.  Rola pra cá rola pra lá, senta, engatinha, levanta, e sem mais nem menos ela deita no canto da parede e os colegas brincam : Ah minha nossa! Ela aDORmeceu! Foi uma risada só pois a dor realmente havia sumido com o cansaço. Mas logo voltaram todos aos movimentos, deslocamentos e outra colega foi para o outro lado do espaço e disse: É isto tá na hora de aCORDAr! Tempos de exercícios e brincadeiras, de agilidade física e mental, trocas afetivas e energéticas. E na saída não se registrou a equipe, as a solução foi bem fotografada entre piadinhas e risos.

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras

09 setembro 2024

COMO SERÁ DAR A VOLTA POR CIMA?

 


COMO SERÁ DAR A VOLTA POR CIMA?

 

Nenhuma volta a ser considerada, a princípio um golpe e um susto, depois de um tempo recuperação e reajuste? Quem nunca teve este revés não tem como imaginar de verdade. Pode tocar na mão do outro, experimentar em si a presença, mas espelhar mesmo..  nem de longe. Cada um tem uma história, com os sentimentos próprios.

Vem uma foto de uma prótese de perna numa cadeira de arquibancada num estádio de competição provoca emoções diversas. No meu caso, um sentimento de respeito profundo pelo dono da prótese que caminhou na superação do que possa ter ocorrido a ponto de participar de uma Paralimpíada, e outro sentimento de admiração pela sensibilidade do artista que fez a foto de tamanha sutileza. É homenagem sensível, reconhecimento da vida que segue, dos esforços dos treinos, e do olho acurado nos detalhes do entorno, resumindo: beleza e arte da vida,  numa Olimpíada cheia de momentos interessantes, torcidas e medalhas, conquistas maiores ou menores ( só de estar no evento é uma conquista).

E  para quem está de casa, vibrar, se orgulhar esse inspirar neste clima olímpico é o que mantém a esperança de confraternização, de cooperação dentro da competição, da possibilidade de fraternidade nas conquistas, da possibilidade de recuperação de um contato com o outro, com a natureza, com a capacidade humana de contornar e dimensionar dificuldades e chegar à soluções.

Que sejamos estes atletas na recuperação da natureza, de nossas águas, matas, flora e fauna, da nossa vida planetária, podendo deixar nossas próteses e sair para dar uma voltinha, mas podendo voltar e recuperar nossos instrumentos de seguir em frente.

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras

12 agosto 2024

REPOUSO COMPULSÓRIO

 



 

 

REPOUSO COMPULSÓRIO

De verdade as coisas não acontecem ao acaso. Conjurando um acontecimento. cansaços, atividades mentais e físicas, acontecimentos no entorno, emoções e legados. E um dia, no meio de tudo pipoca um acidentezinho. Bem, foi mesmo assim. Alegrias, cansaços, medos pequenos e um pouco maiores, posicionamento de enfrentamento, muita barra segurada, cuidados e busca de cuidados para si, novos horizontes e perspectivas, crescimentos, visões do inferno e do céu... enfim, vida como ela é.

 Um belo dia: pum! Um tombo da escada! Sem fratura, sem grandes dramas, mas... um entorse que deixou um descanso compulsório de cara. Claro que seguido de fisioterapia, comedimentos,  cuidados e muita conversa sobre não usar medicamentos para retirar a dor, , anti-inflamatórios e similares.

 Medo reavaliado, mágoas avaliadas, constrangimentos iluminados um bom passo para a recuperação. Acabou sendo um aprendizado e tanto. E  este texto  registra a cura física e emocional de um tropeço. Nada ficou ao acaso.

De verdade as coisas não acontecem ao acaso. Conjurando um acontecimento. cansaços, atividades mentais e físicas, acontecimentos no entorno, emoções e legados. E um dia, no meio de tudo pipoca um acidentezinho. Bem, foi mesmo assim. Alegrias, cansaços, medos pequenos e um pouco maiores, posicionamento de enfrentamento, muita barra segurada, cuidados e busca de cuidados para si, novos horizontes e perspectivas, crescimentos, visões do inferno e do céu... enfim, vida como ela é.

 Um belo dia: pum! Um tombo da escada! Sem fratura, sem grandes dramas, mas... um entorse que deixou um descanso compulsório de cara. Claro que seguido de fisioterapia, comedimentos,  cuidados e muita conversa sobre não usar medicamentos para retirar a dor, , anti-inflamatórios e similares.

 Medo reavaliado, mágoas avaliadas, constrangimentos iluminados um bom passo para a recuperação. Acabou sendo um aprendizado e tanto. E  este texto  registra a cura física e emocional de um tropeço. Nada ficou ao acaso.


06 maio 2024

FILTRO DE CÉU

 






FILTRO DE CÉU

Não é que estivesse de preguiça, bom, talvez um pouco, mas era mais estar filtrando o céu com as folhas. Deitado na areia no fim do dia, escutando as ondas do mar e o farfalhar das folhas do coqueiro com a leve brisa vinda das bandas africanas a mover dois fiapos de nuvens, se percebia poeta.

Versos compactos com 3 ou 4 palavras, sonetos ritmados e rimados, versos generosos e livres, coração penetrado pelos fios de céu que chegavam coados pelas folhas. Tamanha paz que quase adormeceu enquanto se sentia grato.

Mas o ócio criativo não dura para sempre e a penumbra da noite se avizinhava, os bichinhos da areia se movendo para comer, e as ondas já mais próximas dos pés diziam que era hora de alimentar a barriga além dos sonhos. Respirou fundo 3 vezes para acordar o corpo, levantou primeiro os pés e sacudiu a areia sobre a barriga, riu de si, sentou e procedeu os procedimentos de retorno para a bicicleta rumo ao lar doce lar.

 Se tinha que pensar numa palavra era energizado, mas, na mesma hora, apareceram grato e feliz. Realmente céu filtrado faz bem!!!

 

                                                                                                             Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

 

29 abril 2024

DE SOMBRA E LUZ

 

 




DE SOMBRA E LUZ

Na verdade, verdadeira, as luzes sempre foram uma atração. Desde criança tinha um quê de mariposa, atraída pela luz. Se era noite e tinha uma vela que fosse.. seu olhar para ali corria. Lembrava das noites de fazenda sem luz elétrica no tempo da avó Matilde. Vó Matilde teve 20 filhos entre os de barriga e os de criar e  visitar a vó na fazenda era  por um lado uma aventura e por outro um mudar de era. Vó Matilde nunca pensou em modernidade. Conservava seus quitutes em salmoura, ou no pé do pote. Era assim defumava, salgava ou deixava na base da talha de água de beber, que ficava num canto ais fresco da cozinha e parecia até geladeira na sua base.

Aventuras no barro, no mato, nos riachos e no curral, aquele bando de crianças corria atazanando os adultos nos seus afazeres ou no descanso. De dia formavam grupos por interesse ou idade e ia nadar, dar banho em minhoca na beira do riacho, montavam jericos, mulas ou um cavalo velho e saiam pelos caminhos em busca do que fazer. De noite, sentavam na varanda e sempre aparecia um contador de casos. Uma lamparina iluminava o centro da roda, e sempre seus olhos ficavam bruxuleando com a luz. Não raro perdia o fio da meada das histórias e viajava nos movimentos da luz.  Quando as estrelas piscavam num céu noturno sem luar, a viagem da imaginação dela era mais aventureira e ousava conversar com os extraterrestres que moravam nas estrelas.

Com a morte da vó Matilde, a fazenda recebeu eletricidade, ordenhadeiras mecânicas e as aventuras passaram a ser de motor, barquinho que subia o riacho, que descia a correnteza até o lago, trator que puxava uma carreta cheia de criança dentro, mas ele já quase não visitava a fazenda, era grande agora. Seu encantamento com luz não mudou, vivia perdendo a hora na contemplação do por do sol e agora apreciava as nuances das sombras também. Imaginava diálogos nas vozes dos pássaros voando para os ninhos, ria das coisas que “ouvia” na algazarra vespertina.

Vida adulta e o olhar mariposa atraído pela luz e pelas sombras foi desembocar na profissão de iluminadora de vitrines, de shows, e finalmente se casou com as sombras da magia do teatro. Mas nunca perdeu o encantamento das cores da luz do sol

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

08 abril 2024

QUEM QUER PÃO

 

 


QUEM QUER PÃO

 

A avó já falava desde sempre que fazer pão em casa era como uma oração. Claro que era um exagero da vó, né? Mas com o passar dos anos, agora já avô de 3 crianças, resolveu aprender a fazer cosas de comer em casa. Viúvo, nem podia pedir à mulher pra dar este gostinho de comida caseira. Desde que enviuvara comia na rua ou na casa de um ou outro filho ocasionalmente. Tinha tempo de sobra para cozinhar. Fez experiência por conta própria e.. quase desistiu. A alquimia dos temperos na medida certa não foi intuitiva, catou livros de receitas e resolveu ter aulas via internet. Ria de si nas buscas de como fazer pesquisadas no Youtube, mas foi dando certo aos poucos até que resolveu fazer pães. Descobriu que era realmente como fazer orações, meditação, rezas, o que fosse. Vovó tinha razão.

Deu de fazer pães tijolinho, rodinha, bolinho, salgados, com frutas. Os netos passaram a pedir e comiam com gosto os pães do Vô Inácio.

Então passou a reunir filhos e netos para almoço e lanche de fim de semana, e dar de “lambuja” umas amostras das delícias para os vizinhos. Com o tempo começou a receber os vizinhos pra uma prosa e um lanchinho feito por ele, desenvolveu petiscos que fizeram fama no bairro. E volta e meia vinha alguém com mantimentos para fazerem juntos uma torta, um bolo, um pãozinho diferente, já que ousou inventar. Chegou a ser convidado para fazer pães num evento escolar e outro no clube de xadrez da vizinhança.

Quem diria que seguiria os caminhos da avó quituteira! Os irmãos até voltaram a conviver com ele trazendo receitas antigas. De verdade, ficou até mais ativo fisicamente. Afinal precisava gastar o tanto de coisa gostosa que comia...

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

22 março 2024

O DIREITO SAGRADO DO HOMEM DE BEM

 

Imagem capturada na internet.

Na cabeça de uma parte (bem grande de homens), talvez até de todo bolsonarista, como o Robinho, ex-jogador de futebol, bolsonarista e estuprador condenado na Itália há 9 anos de prisão por agressão sexual coletiva, o estupro é um direito do homem de bem e sempre culpa da vítima, sempre culpa da mulher, pelos seguintes motivos:

Primeiro, por ser mulher.

Segundo, por ser estuprável, o que quer dizer bonita, gostosa, como diria um ex-presidente inelegível e atual candidato a uma vaga permanente na Papuda.

Terceiro, por provocar. Todo homem (deste tipo) sabe que as mulheres provocam. Provocam quando estão de roupas curtas, porque é óbvio que saem de casa com a intenção de serem estupradas. Provocam quando estão de roupas longas, porque sabem que o candidato a estuprador vai ficar curioso sobre o que ela tem por baixo da roupa longa. Provocam quando saem tarde de casa, porque todo homem sabe que sai tarde de casa, e piora se beber, está pedindo para ser estuprada. Provocam quando saem cedo de casa, digamos, umas sete da manhã para ir trabalhar, afinal de contas elas sabem que não existe horário seguro para uma mulher sair de casa desacompanhada de um homem.

Quarto, porque é vontade de Deus que a mulher seja estuprada. Afinal de contas, se nem uma folha cai de uma árvore sem a vontade dele, como dizem os fiéis leitores da Bíblia, se Deus fosse contra o estupro, não a teria feito nascer mulher, não é verdade?

 

Ernande Valentim do Prado é anticorrupto, antejeitinho, 

porém é ainda mais antifascista, antimachão e antimilico 

e publica no Rua Balsa das 10 sempre que sobra um tempo.

04 março 2024

MEMÓRIAS DESPERTADAS

 

 

MEMÓRIAS DESPERTADAS

Uma amiga perguntou se eu tinha alguma lembrança de fatos ocorridos na travessia da Ponte Rio Niterói.  Foi um chegar de acontecimentos diferentes quase borbulhante.  Da vez que se mudaram da Tijuca para Boa Viagem, com o choro inconsolável das crianças, da vez que o vento balançava a pista, e da vez que o pneu do carro furou.

Quando estava cruzando a ponte para um almoço no Rio, na casa da mãe, o carro cheio com as cinco crianças entre 2 e 10 anos, uma cachorra e sua ninhada novinha e cheia de saudades do marido que viajava, escutou o chiado do pneu traseiro esvaziando. Logo depois do vão central parei o carro, coloquei a cachorra nervosa no banco da frente, recomendei que as crianças não se movessem do banco de trás e fui providenciar a troca do pneu. Retirado o triângulo e colocado distante da traseira do carro, passei a retirar o estepe, a chave de rodas e ao mesmo tempo vigiava as
crianças.  A ideia era colocar o macaco, soltar o pneu, e depois continuar para retirar o pneu furado... Mas a chave de roda não se movia, nem com o meu peso. Enquanto eu me via em apuros, parou um enorme caminhão atrás do carro, saltou o motorista com um grande cano de ferro na mão e se aproximou. Em minutos conseguiu soltar e trocar o pneu ao som dos gritos das crianças, os latidos bravos da cachorra. E eu tentando acalmar a tropa e contornar a balbúrdia, não vi o motorista ir embora. Nem pude agradecer!

 Até hoje a gratidão  fica no coração.

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

26 fevereiro 2024

AS ERVAS DO SEU LINO

 


AS ERVAS DO SEU LINO

 

Era uma vez... não, ficava parecendo conto de fadas como os começavam assim ou “No tempo em que os bichos falavam”... não, não, era outro o caso. Numa floreta... também não dava para começar assim pois o que ia contar, bom, não deixava de ser uma floresta, mas usualmente chamavam de mata: Mata Atlântica.

Então, um grupo de pessoas fazia uma caminha por uma trilha que cortava a mata. De certa forma era uma trilha que já havia sido uma pequena estrada que deixou de ser usada. Muito, mas muito tempo atrás, até passaram trens em parta daquela trilha. Mas como não era muito usada, a natureza foi tomando posse de seus espaços e arbustos, mato e árvores de crescimento mais rápido estavam beirando a trilha.  O grupo subia em alguns trechos e passava por pequenos córregos que ficavam como rios quando chovia. Dava mesmo para ver pequenas quedas de água descendo pelas pedras da montanha ao lado. Quando chovia era perigoso fazer a trilha pois os pequenos córregos viravam riachos com correnteza rápida e ser surpreendido por uma “cabeça d’água no meio da mata... não era boa coisa. Sem chuva, o grupo andava com certa destreza pela trilha. Os mais prevenidos levavam cordas, mosquetões, e até um conjunto de ferramentas. Nenhuma previsão de acampar ou ficar até escurecer. Era ir e chegar do outro lado numa jornada só.

Claro que nada é previsível e cursa como programado integralmente. Justo o guia, o mais experiente, torceu o pé numa pedra solta. Parada obrigatória bem no meio do caminho. Tanto fazia continuar como voltar. Tirada a bota, o pé ficou roxo e inchado na hora. O camarada estava visivelmente com muita dor. Ele mesmo enfaixou o pé desde os dedos até depois do tornozelo, como faria com qualquer outro. Buscou um pedaço de galho para fazer de muleta e recomendou que as paradas de descanso fossem encurtadas para aviar a caminhada. O grupo redistribuiu as cargas do guia e optaram por seguir em frente. Vai que o morador de uma casinha mais adiante, que vivia longe da dita civilização, tinha como ajudar.

Passada uma hora (o dobro do tempo que se levava fazendo o caminho), a marcha estava lenta, o grupo preocupado, o guia exausto e nada de casinha na beira da trilha. Pela previsão inicial, o total da trilha seria de 4 horas, e já tinha feito 3 horas de caminhada e não haviam chegado nem perto do fim. A se calcular pelo andar deles, tinham mais de  3 horas pela frente. Caminhar em ritmo lento cansava mais e duas das mulheres do grupo já estavam bem cansadas. Bom, ainda não eram 11 horas, não havia previsão de chuva, resolveram fazer uma parada para lanche e descanso de meia hora. Um dos mais novos do grupo, com seus 18 anos propôs ir mais adiante ver se achava a tal casinha. A conclusão foi que iriam 2 e caminharia meia hora e esperariam o grupo se não achassem nada. Munidos de apitos e com os celulares (nem todo canto ali tinha sinal) foram os dois escolhidos. O guia dormiu um pouco (cansaço e dor), o resto bebeu água, comeu fruta e uns sanduiches enquanto o fazia a pausa.

Retomada a trilha em menos de 15 minutos deram com os dois “exploradores” voltando. Acharam sim, a casinha, mas o morador avisou que na última chuva havia desbarrancado o trecho seguinte em 2 lugares e que seria preciso uma pequena escalada para ultrapassar as pedras caídas.  Sentaram-se para conversar e acabaram decidindo que seria mais prudente voltarem sem escalar, e lembraram que o morador ofereceu sua casa para deixarem o guia enquanto pediam resgate para ele. Estavam sem sinal de telefone desde antes do acidente, aliás, não usaram celular desde o início da trilha. O guia ficou receoso de deixar o grupo ir sem poder fazer contato. Na hora do entorse não reparou (grande falha) que seu comunicador por rádio frequência havia caído. Por fim aceitou ficar na casinha e uma das mulheres resolveu ficar também> os outros voltaram atentos para não se perderem e buscarem o tal comunicador.

Grupão de volta, guia e mulher cansada seguindo até a casinha ... meia hora de caminhada, o guia sem poder apoiar o pé e a mulher sem muito ânimo de andar. Dupla perfeita na lentidão. Foram recebidos com um sorriso desdentado e um aperto de mão de mãos calosas. Parecia que o “eremita” sentia falta de companhia. O cachorro vira-latas pretinho e magrinho não chegou a avançar, mas latiu um bocado. Depois que viu que os visitantes não se iriam tão cedo, deitou no vão da porta e ficou observando a conversa. Seu Lino, o morador isolado, passou um café e ofereceu umas mangas colhidas maduras. Buscou água fresca na “bica” perto da pedra e deixou numa moringa à disposição dos visitantes. Mas o intervalo de almoço dele tinha acabado e precisava alimentar as galinhas e ver a cabra se tinha parido, ia rapidinho e voltaria logo pois o terreiro da criação era logo ali. E voltou mesmo, com umas ervas na mão que macerou e ofereceu para colocar no pé do moço avariado. Desenfaixa o pé que estava mais roxo e ao ser desenfaixado parecia ter inchado ainda mais, faz um banho de ervas numa bacia meio quebrada e com água morna no início e água bem fria acrescentada (que a água da bica era geladinha) e deu uma melhorada boa. Aí, tasca saião, arnica e babosa numa pasta direto no pé e torna a enfaixar.  Parecia realmente que o seu Lino sabia das coisas. A dor não passou, mas só aparecia se apoiasse o pé ou mexesse um pouco mais. O guia até cogitou voltar caminhando, mas a mulher e seu Lino bateram pé dizendo que não carecia. Melhor esperar socorro. Claro que já estava mais preocupado, sabia que os “resgatistas” da cidade de origem estavam acostumados a buscarem pessoas perdidas. Ele mesmo já ajudara em algumas ocasiões. Uma maca com rodas grande e o caminho era feito no tempo justo. Mas já passava das 14h e não devia ter achado o rádio comunicador, então seria dado início do retorno à trilha só depois de chegarem à cidade. Deviam estar chegando se tudo estivesse certo. Seu Lino entabulou uma proza fácil com casos do mato, da sua vida solitária e dor resgates que viu. A preocupação do guia er evidente, mas a mulher estava amando os “causos”. Se tudo desse certo o grupo de resgata alcançaria a casinha do seu Lino depois das 16:30 e a trilha teria que ser terminada já no escuro, o que não era a melhor opção. Bom, a outra opção era dormir sob o céu da Mata Atlântica, na casa do seu Lino, que nem tinham visto por dentro.

Seu Lino foi preparam um “rango”, matou uma galinha e pegou umas batatas doces, umas folhas de taioba, orapronobis, e um pouco de manjericão. Depois de um tempo o cheiro era delicioso e a fome estava fazendo os estômagos roncarem Jantaram antes das 17:30 que depois que escurecia era difícil fazer as coisas. A iluminação era de vela feita em casa com limão, laranja, água e óleo. Já estavam procurando um canto para se acomodarem quando escutaram barulho no caminho. 3 homens apareceram com uma maca/cadeira de rodas no pátio. Cumprimentaram seu Lino com alegria, agradecerem por terem cuidado da dupla e rapidamente colocaram as coisas em ordem para o retorno. Sabiam que já estavam no limite por conta do anoitecer. Sorte que eram tempo quente ainda e o sol daria sua luz por pelo menos mais 1 hora. Partiram todos rapidamente, a mulher mais descansada no meio da turma. Depois de percorrerem quase correndo a trilha  por uma hora, a mulher já estava com 2 palmos de língua para fora e pediu para descansar. Resolveram sentar ela na maca cadeira junto com o guia sem nem mesmo perguntarem se queria e tornara a acelerar a marcha para percorrerem o máximo de espaço antes da escuridão.  Quando realmente ficou impossível ver à frente, duas lanternas foram acesas e o guia segurava uma à gente e uma outra ia com o último resgatista. Mais outra hora se passou até chegarem à cidade. Todo grupo, de banho tomado estava à espera. Imediatamente o guia foi conduzido ao serviço médico e a mulher foi para casa cansada e se prometendo que de mata, floresta, trilha e caminhada estava completamente “satisfeita”, nunca mais!!!

Só para saberem, o guia foi encaminhado para uma cirurgia para recompor ossos e ligamentos e passou quase 1 ano com fisioterapia para retomar suas aventuras. Acidentes acontecem, né?

 

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

 

19 fevereiro 2024

DE BALDE, CANECA OU CUIA


 

DE BALDE, CANECA OU CUIA

A tia Zefinha vivia falando que era um enorme esforço e debalde. Era uma referência até interessante pois tocava na vida familiar de uma forma bem “quente”. Ela se referia ao trabalho da irmã no intuito de tirar o vício de jogo do marido e do filho. Cada vez que tudo da casa era vendido (para depois ser comprado com o esforço das mulheres da família: mulher e filhas) as críticas chiavam como rastilho de pólvora e terminavam numa explosiva briga entre tios, avós, e sua mãe. As irmãs nem se metiam para não saírem chamuscadas. Ela própria pouco fazia pois nem tinha completado 13 anos e era 9 anos mais moça que seu irmão desajuizado. Procurava manter o que podia arrumado, roupa escondida para ir á escola e ajudava às outras a manterem a ordem.

Entretanto achava engraçado falarem que era um esforço debalde. No caso ela considerava mais amplo, era debalde, de panela, caneca e cuia. Nada adiantava, nada adiantaria se nunca acabasse a loucura deles pelas apostas.

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

 

 

12 fevereiro 2024

CADA DIA MAIS

 

 

Foto de Edna Rocha

CADA DIA MAIS

 

Bateu uma insegurança, uma sensação de malfeito, mesmo uma culpa de não ser bom o suficiente, de dar muito menos do que sempre recebeu. Comentou com amigos que sentia este desconforto moral, psicológico, espiritual, que achava que não amava os homens como devia, que se retraía muitas vezes diante da penúria. Buscava ampliar suas ações de ajuda, não negava doações pedidas em nome de boas causas, de mitigar fome, de tratamentos especiais, dava um dia de voluntariado num orfanato cozinhando e lavando chão e banheiros. Fazia compras para cozinhas que alimentavam população em situação de rua. Tinha uma ex-namorada que era Assistente Social de um mega projeto que tinha parceria com a Prefeitura e que vivia solicitando seus préstimos, mas a cada vez se sentia mais confuso e angustiado. Eram muitos os “assistidos”, e os rostos eram recorrentes nas filas de ajuda. Nunca parecia haver solução! Tudo muito paliativo, famílias na rua sem emprego, sem teto, sem educação. Gravidezes sem acompanhamento, muitas vezes com doenças  maternas evitáveis, outras com uso de entorpecentes que ajudavam a mudar a visão do mundo cruel onde estes seres humanos sobreviviam.

 Já não era criança e sua aposentadoria não era muita, pagava suas contas e guardava um pouco num sonho de uma viagem num futuro não muito distante. Sem filhos e agora viúvo, tinha na ex-namorada uma amiga mas o convívio não amainava as dores da sua alma. Ela tinha seu emprego no projeto, lidava com os problemas durante o trabalho e vivia com a família cheia de vigor e alegria. Ele se sentia definhar de compaixão, de culpa e medo do que poderia ser o seu mundo com tanta desigualdade. Queria sanar estas dores, mas só se fosse onipotente, e se sabia limitado. Mas até seus defeitos (que todos têm, se dizia) eram mais pesados pela sua impossibilidade de ser melhor.

 Sob orientação resolveu fazer terapia mas o que gastava nas consultas pesava mais por não estar revestido e investimento no outro. Até que um dia levou isto na consulta e foi agraciado com um comentário confortador: “Se você estiver mais feliz, mais dono de si, mais seguro, isto libertará seu coração para um trabalho melhor com o próximo” . não foi totalmente curativo, mas deixou a culpa do gasto consigo de lado. E... salvou a poupança da viagem que um dia faria.

 E por 3 vezes na semana continuou se dedicando ao trabalho voluntário, colocando o seu fazer na medida do seu poder fazer. E conseguiu seus momentos de gratidão pelo que tinha, sem culpa, e de felicidade sem cobrança. Claro que sabia que recaídas acontecem, mas a ajuda viria.

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

10 fevereiro 2024

O DIÁLOGO

 

 

Imagem capturada pelo google.


Entrando no supermercado, logo na porta, uma senhora com uma criança no colo estendeu a mão e pediu ajuda. Do meu lado um senhor olhou com desprezo e logo depois fez o seguinte comentário, virando o pescoço e claramente falando comigo.

— Trabalhar essa gente não quer, não acha?

— O senhor tem emprego para dar a ela?

Foi exatamente o que perguntei. O homem, sem esperar a minha reação, simplesmente disse:

— Não.

Mesmo assim, tentou argumentar, mas eu, que não gosto de dar confiança para estranhos, já fui logo cortando:

— Se o senhor não tem como dar emprego a ela, não quero ouvir sua opinião, guarde para si mesmo.

E segui meu caminho.

 

[Ernande Valentin do Prado escreve no Rua Balsa das 10 às 6ª Feiras]

05 fevereiro 2024

MAS CHEGOU O CARNAVAL E...

 

 


MAS CHEGOU O CARNAVAL E...

 

Muita animação para pouca festa, era o pensamento da hora... ao redor o povo pensando em Blocos, fantasia e marchinhas. Decorando Sambas e Enredos, sambando no pé, na perna e na cabeça. O trabalho parecia nem render, muitas pausas e conversas animadas. Cadê  as reclamações da vida?

 Reconhecia a folia, a arte e os adereços criativos, mas se era tanta a tristeza das guerras e brigas, das roubalheiras, corrupção, doenças... para que tanta animação? Ia tudo voltar aos infelizes conformes de antes...

Estava encasquetada com esta perspectiva um tanto derrotista quando escutou a conversa da passageira do banco ao lado ao telefone na volta do trabalho. Queria ouvir a outra parte da conversa, mas não conseguia entender o ruído. Argumentos inicialmente tranquilos que foram se animando e fecharam a conversa quase eufóricos, risonhos e “saltitantes”.

Gravou a última frase e não parou de pensar até dormir. Não é que fosse contra carnaval, que não gostasse de sambar, de rir e de brincar. Fantasias engraçadas sempre animam a gente, né? Mas talvez o tanto de informação de violência fosse um neutralizador deste espírito de alegria. A frase escutada no final do dia remexeu as sensações, ideias e o sangue. Tinha uma força que derrubava seu olhar pessimista e desanimado. Falava de uma rebeldia da alegria, a máxima contravenção num momento e num sistema doentio, a resiliência do belo, do conjunto, da igualdade dos blocos, do pulsar comandado pela percussão, do voar promovido pelos sopros e do viver aqui e agora.

Remoeu, remoeu, remoeu e se rendeu!!!

 

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

29 janeiro 2024

NO MAR?

 



NO MAR?

No início era mais uma conversa dentro mesmo. “Mar não tem cabelo”, “correntes de retorno”, “ondas violentas”, “puxa para o fundo mesmo”, “rodamoinhos” e o medo viajando entre as falas, borbulhando numa água inexistente externamente.

Passou a ser um desafio, enfrentar uma ondinha que fosse, poder ser “de coragem”. Buscou pisar na areia e ir até a arrebentação sem chorar, sem tremer. Precisou confiar na guia desta jornada. A professora deu apoio físico com o material de segurança, deu a mão, deu dicas, acompanhou de pertinho. Venceu a barreira do entrar até onde não dá pé!

Então veio o exercício, vieram as braçadas, o bater as pernas e pés com a cabeça dentro da água. Conseguiu entrar no ritmo da respiração junto com os movimentos, coordenar nado, respiração e deslocamento e ir acompanhando outros nadadores no grupo. Começou a se sentir firme, a segurança se fez evidente, a satisfação de superar as dificuldades e o medo aumentando aos poucos, já usava o apoio da boia fora do corpo, mais como apoio mesmo e não “muleta”.

Nova fase a experiência de nado no mar, prazer! Saber que mesmo com correnteza, com ondas e com água fria era capaz de sair com o grupo e ter a professora para orientar, mas de forma livre, leve e atenta, desfrutando do bem-estar de estar na imensidão das águas abertas, usando este estado de estar “entregue” e ao mesmo tempo acolhido ... uma oração.

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

22 janeiro 2024

O NOVO PORTEIRO



 

 

O NOVO PORTEIRO

Com certeza esta contratação não estava prevista. A ideia de ter vigilância no portão da garagem nunca passou pela cabeça de nenhum morador ou vizinho. Até a chave de casa ficava num prego conhecido por todos. Porteiro para qual tarefa? Avisar quando ao gatos invadissem o jardim? Negociar com o gambá ou o porco espinho a circulação durante a noite?

A ideia de ter uma casa aberta aos lagartos, gambás, e até aos micos devoradores de pássaros e ovos dos ninhos, imperava na família. Os humanos eram benvindos também, embora já não circulassem tantos pela casa. Entregadores de verduras orgânicas, já eram familiarizados com a trava do portão e entravam com as mercadorias deixando na porta da entrada. Qual o motivo de ter um porteiro?

Na verdade, foi ele quem se ofereceu, sem pedir salário, sem incomodar ninguém. E a casa apreciou sua presença subindo e descendo pela parede do lado do portão, silencioso e discreto. Vamos ver quanto tempo ele mantém o contrato.

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve à
s segundas-feiras

15 janeiro 2024

PONTA CABEÇA

 

 



PONTA CABEÇA

Uma dor intensa provocou a abertura dos olhos. Demorou um pouco a se localizar e demorou mais um pouco parasse aperceber do entorno, do que havia.

Primeiro abriu e fechou a mão esquerda e a outra, mexiam. Tentou com os pés e percebeu que doíam as costas ao mobilizar. Não viu ninguém por perto, resolveu ir se aprumando sem ajuda e com calma. Mas as costas incomodavam muito. Lembrou de virar de lado para tentar levantar. Lentamente foi se assumindo até se sentar no meio da calçada! Encostou num muro e ficou matutando como estava ali... Pelo visto estava caído no chão, de costas numa calçada irregular e num local sem movimento. Ninguém pra socorrer, ninguém por perto. Ficou de pé com cuidado encasquetado com o que poderia ter acontecido. A cabeça tinha um enorme galo e as costas doíam aos mínimos movimentos, foi reconstituindo os fatos do dia e lembrando o que tinha feito no dia. Café com calma na varanda, ida ao Campo de São Bento para uma olhada nas crianças e velhos que passeava, um regozijo sutil por estar aposentado e poder desfrutar destas pequenas beleza, um vaso de flores comprado... olhou ao redor e não viu nem as flores nem sua carteira e muito menos seu celular. Franziu o senho, teria sido abordado e assaltado? Estava sozinho na rua voltando para casa... lembrava de um latido bem perto de si e nem chegara a se virar para olhar. Hummmmm seria um tombo por um atropelamento por um cachorro? E as flores? E a carteira? E o Celular. Resolveu caminhar com cuidado na direção de casa. Ainda se sentia tonto mas ao menos nada estava quebrado. Levou uns 15 minutos para chegar na esquina onde encontrou sua carteira estraçalhada com os cartões de banco mastigados e o dinheiro intacto. Riu de si... atacado por trás por um monstrinho mastigador. Mais adiante as flores fora do vaso ainda tinham algumas partes inteiras, mas triste mesmo foi o celular novo, quebrado, mastigado e imprestável... na boca do meliante que o comia descaradamente deitado num canteiro da rua. Nem chegou a ter raiva, acabou achando graça de estar relativamente bem e poder contar a aventura de ter visto a rua de outro ângulo... Sempre há como aproveitar... e chegou em casa com um andar cambaleante e um sorriso que ninguém entendeu.

 

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

08 janeiro 2024

CADA DIA MAIS

 

 


CADA DIA MAIS

Ano novo passou e janeiro já estava no meio, bom quase! Os amigos e parentes já haviam mandado seus votos, os que se hospedaram em casa estavam de malas prontas para irem para suas casas e restava reorganizar, limpar e fazer a revisão das coisas esquecidas. Aí que preguiça!!!

 Arregaçar mangas e ir à luta! Uma questão de sobrevivência para o resto do mês... do ano? Ter a casa minimamente arrumada facilita a vida (kkk) dizem, inclusive, que facilita a organização dos neurônios...

Passados dois dias de arrumação, mudança dos móveis de lugar (alguns voltando aos seus espaços de antes das festas de final de ano e outros sendo remanejado mesmo para mudança de ares), foram achados 7 pés de meia sendo que apenas 2 eram pares, dois lenços vermelhos, uma bermuda de tamanho médio que pode ser feminina ou não, e um pé de sapato masculino. Meditação, avaliação e se mantinha a dúvida sobre avisar, ou não, aos que partiram, que coisas foram deixadas para trás.

 Dois dias de conversas internas e um saco de lixo foi para o reciclável sem dó nem piedade. Ninguém reivindicou o material. Ah, o carregador de celular e o par de meias ficou como doação para a casa!

                                                                                                                  Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

18 dezembro 2023

A TAL VACINA DE IDOSO

 

 


A TAL VACINA DE IDOSO

 

O bafafá no meio da reunião dos vizinhos estava em ebulição.  Iniciou com a notícia que a Madalena havia tido um derrame logo depois de tomar a vacina de idoso no posto. Um zunzunzum corria que era de Covid, mas poia ser mesmo de gripe e as vizinhas falavam ao mesmo tempo, umas dizendo que nuuuunca iam tomar vacina nenhum, outras que sempre tomaram e nada aconteceu, mas agora tudo estava mudado e o perigo... 

Enquanto o vozerio aumentava calou-se o violão, alguns desistiram de conversar e entraram em casa, e apenas as duas vizinhas mais idosas ficaram sentadas na praça se olhando. Resolveram ir ver como estava Madalena.

 Como já era noite, apenas ligaram para a filha dela para saber se precisava de algo e prometeram ir pela manhã ao hospital. Saíram cedo as duas com uma muda de roupa extra (nunca se sabe, né). Encontraram a filha da Madalena na porta do CTI com ares cansados e olhos vermelhos. Ela comentou que a sorte é que estava com a mãe no posto quando tudo aconteceu sem mais nem menos: tomou a vacina, saiu da sala e caiu no corredor.  Socorrida na hora estava medicada e acompanhada fazendo exames desde que entrou. Fez alguns de noite mesmo. A conversa com a enfermeira chefe a deixou mais calma pois o socorro foi imediato e isto ajuda a ter menos lesão.

 As amigas se colocaram disponíveis para ficarem de plantão enquanto a moça ia tomar um banho e comer algo em casa. Ela teve dúvidas mas acabou indo pra voltar logo.

 Enquanto sentadas na sala de espera conversavam e elucubravam se a vacina havia ou não desencadeado   o derrame, um médico perguntou sobre a filha da Madalena. Elas disseram que estavam ali para que ela pudesse ir em casa. Então o médico pediu para uma delas entrar pois Madalena estava acordada e queria ver alguém conhecido. Entrou uma e olhou a Madalena sorrindo de boca torta. –Rá! Ainda não foi desta vez, balbuciou meio enrolada.  Cadê minha filha? A vizinha com olhos úmidos sorriu e disse que havia “mandado” ela ir tomar um banho. As duas riram e se sentiram confortadas pois que nenhuma tinha realmente se perdido da outra. O médico e a enfermeira se aproximaram e comentaram para as duas. Ainda bem que tudo ocorreu dentro de uma unidade de saúde e o socorro foi imediato. Bendita vacina! Agora é seguir em frente e cuidar desta pressão alta, D. Madalena e aproveitar a vida que proteção a senhora tem!

 Um mês depois estavam Madalena e as duas amigas na pracinha conversando sobre pílulas, exercícios e caminhadas. Poucas sequelas permitiam que as 3 passeassem ao redor da praça e desfrutassem uma das outras e das plantas e pássaros. A vida ainda era uma dádiva.

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                   Escreve às segundas feiras

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