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30 junho 2017

QUALQUER COISA...

Imagem capturada na internet, 2017.
Ernande Valentin do Prado

Por volta as sete horas as mulheres começaram a chegar para o exame citológico de câncer de colo de útero. Por volta das sete e quinze a técnica de enfermagem começou a chamar cada uma das mulheres para preencher as fichas. Depois, ansiosas começaram a conversar na sala, enquanto esperava a enfermeira chegar.
Falavam sem parar, até se atropelavam, as falas cada vez mais alta para se sobressair na algazarra matinal da unidade.  
Por volta das oito hora e trinta minutos a enfermeira chegou. Passou pelo meio da roda das mulheres sem dizer nada, cara fechada, apressada foi direto para o consultório.
- Essa é a enfermeira nova?
Perguntou uma das mulheres e outra respondeu: é.
- Deve ser muito boa...
Disse com um sorriso forçado e nervoso na boca e continuou falando:
- ... viu a cara dela? Nem bom dia sabe falar.
Algumas mulheres riram. Outras tentaram rir, disfarçar o constrangimento.
A primeira mulher foi chamada. Foi. Saiu em menos de dez minutos, entrou outra.
A mulher, do primeiro comentário, observou:
- Tá vendo como o atendimento é bom: cinco minutos, nem isso...
As mulheres foram entrando e saindo, uma após a outra.
- Fez o exame de mama também?
- Não, ela não faz.
- O que deu no exame?
- Inflamação, só isso.
- Só, ela não falou mais nada, não explicou?
- Nada mais, só inflamação. Ela não é de falar muito, nem disse do tratamento.
Uma das mulheres, depois de ouvir a conversa, começou a contar que uma vez pagou consulta com uma ginecologista particular. Ela explicou tudo, enfatizou a mulher admirada. E continuou explicando para as outras: eu queria fazer um ultrassom transvaginal, que minhas irmãs todas já tinham feito e eu queria fazer também. Mas ela disse que eu não precisava, que até poderia pedir, se eu quisesse, mas que era jogar dinheiro fora.
Antes das dez horas a enfermeira saiu do consultório com o telefone na orelha e foi embora pela lateral da UBS. A coordenadora da UBS não viu  a mulher chegar, nem sair.
Estava interessada em ver?
A enfermeira chegou às oito e saiu as dez? Talvez antes. Ela atendeu um telefonema ainda durante a consulta da última mulher agendada, naquela manhã. A mulher parou de falar, quando a profissional atendeu o telefone, sem nem dizer: “só um minuto”. Ficou com a frase no meio. Depois viu a mulher sair do consultório lhe dando as costas, enquanto se vestia. Nada acrescentou, foi embora dizendo: já chegou no plantão, estou na UBS ainda...
A técnica de enfermagem da sala de vacina chegou às oito e quinze, saiu às onze horas.
Uma das médicas chegou às nove e quinze e saiu às dez e vinte e cinco.
O dentista: ninguém viu quando chegou, distraídas com as conversas, só viram quando saiu: nove e meia.
Só restou o segurança, junto com as três recepcionistas, mas mesmo estes foram embora bem antes do expediente oficial acabar.
O que dizer, diante disso?
No finalzinho da espera, as mulheres ainda falavam:
- Quando você agendou esse exame?
- Faz três semanas.
- Você não é da área descoberta?
- Sou.
- E como te atenderam, dizem que só atendem pessoas da área.
- No horário dos fora de área não venho, o atendimento é muito pior do que agora.
- Acho incrível ter conseguido agendar...
- Não me perguntaram onde eu morava e se perguntassem eu mentiria. As vezes só mentido para ser atendida aqui.


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

25 novembro 2016

TRILOGIA DO FRACASSO

Imagem distorcida. Ernande, 2016.

Ernande Valentin do Prado
1
Na escola
quando o professor perguntou
que tipo de enfermeira você quer ser

Ela disse
a que faz a diferença
todo dia

Durante toda formação
parecia
que seguiria na intenção

2
Agora
na USF do bairro
todo dia

ou dia sim dia não
diz
para donas Marias e seus Joãos

isso não é responsabilidade minha
volte mais tarde
reclame na prefeitura

3
No seu íntimo
tentando se justificar
por não cumprir a promessa

vez ou outra lembra e pensa
tem gente como formiga
não posso fazer nada

Teoria é teoria
Prática é prática
Professor só faz bla bla bla

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

02 setembro 2016

PERDA

O luto é roxo? Ernande, 2016.
Ernande Valentin do Prado

Ela chegou
acompanhada do marido
entrou direto no consultório.

Perguntou se podia ver sua pressão.

Sentou
estendeu o braço esquerdo
tentou esconder as lágrimas

Você está bem?
perguntei

Não
respondeu
chorou

Ela recebeu uma notícia ruim
agora
disse o marido

Pode chorar
eu disse
abraçando-a

Quer falar de seu pai?
Perguntei
Ela disse: acho que não consigo

Chora
então
Chorar faz bem

Ela chorou
soluçou
chorou mais.

Ela olhava para o chão
abaixei-me
olho no olho

Segurei suas mãos
enquanto falava
respira no meu ritmo

Ela respirou
respirou
acalmou

Agora vamos ver a pressão
eu disse
Ela estendeu o braço

Tudo isso vai passar
disse na porta
Volte quando quiser

se achar que precisa.

E ela se foi
acompanhada do Marido
como chegou.


[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

22 abril 2016

AÇÃO-RELFEXÃO (OU: SEU SEBASTIÃO, AS LARANJAS E A ENFERMEIRA)

Te vejo flores em você. Ernande, 2015.
Ernande Valentin do Prado

Mais um dia com fome, pensou seu Sebastião olhando suas três crianças magras no único quarto da casa. Ele havia terminado de contar uma história sobre a cobra faladeira, que deixou as crianças alertas, apesar de já tarde. A mulher, com os olhos fundos, muito verdes, estava em silencio, resignada no colchão surrado.
- Meninos, vocês estão com fome? Disse seu Sebastião, levantando-se de forma ligeira e inesperada.
As crianças não responderam, continuaram caladas, olhando-se entre si e para o silêncio da mãe no canto.
- Vi um pé de laranja carregadinho, bem perto daqui.
Os meninos ficaram animados e não era apenas pela chance de amenizar a fome que corroía seus estômagos, mas pela aventura de procurar laranjas com o pai no meio da noite. Geralmente não conviviam muito com ele, que trabalhava cuidando de gado a semana toda em uma fazenda não muito perto da cidade, enquanto elas ficavam com a mãe na cidade, porque precisavam estudar.
- Sem estudar vão repetir nossa sina, dizia a mulher.
Ele vinha no sábado, depois do almoço, geralmente com o pagamento da semana e comprava os mantimentos, mas esta semana seu patrão, Dr.  Varela, foi com a família para praia comer pitu e se esqueceu de deixar o dinheiro.
Criança é um bicho bobo demais, pensou seu Sebastião ao ver a alegria das crianças.
- Vou sair com as crianças por aí, disse seu Sebastião para a esposa deitada, sem ânimo para reagir. Apenas soprou muito baixo dos lábios:
- Tá!
E ao ver o marido e as crianças se arrumando disse, reunindo as poucas forças que parecia ter:
- Até quando a gente vai vive assim?
O marido não respondeu, mas sentiu no fundo de sua alma uma pontada de dor, vergonha por não conseguir manter a casa como deveria. Eta sofrimento do cão, pensou sozinho sem saber o que fazer, onde enfiar a cara.
Joana D’ac morava ao lado do salão paroquial, onde tem um enorme pé de laranja. Os galhos se estendendo por cima do muro. E as laranjas já estão bem grandes, apesar de ainda verdes, pesando e puxando os galhos mais finos para baixo.
Joana é Enfermeira recém-contratada para trabalhar na Unidade de Saúde do bairro aonde mora seu Sebastião, a esposa e as suas crianças. Tem só uma semana que está na cidade. Por volta das 23 horas ela ouviu barulhos, abriu a janela para ver melhor. Na rua escura um homem em pé na calçada orientava duas crianças a pegar laranjas verdes que pendiam para fora do quintal do salão paroquial. Já havia, junto aos seus pés, um monte bem grande das frutas, outra criança menor sentada brincando com elas, e as outras duas, sob o murro, continuava colhendo novas frutas.
Que absurdo! Pensou a moça: crianças a essa hora da noite roubando laranjas no terreno da Igreja. Ela ficou incomodada, pegou o telefone:
- Qual é mesmo o número da polícia? Falou consigo mesma, talvez tentando encontrar um motivo para deixar isso pra lá.
Voltou a janela, onde as crianças continuavam animadas fazendo algazarra enquanto o homem silencioso orientava a coleta das laranjas.
- Que tipo de pai permite crianças acordadas até essa hora, e pior, em pé num muro desta altura?
Joana estava indignada com esse absurdo: estão roubando laranjas, e verdes, ainda por cima. Absurdo, absurdo, absurdo. Em que mundo vivemos, meu Deus do céu, pensou ela ainda com o telefone na não, mas não digitou no número da PM.
A enfermeira voltou para cama, tentou dormir, mas perdeu o sono pensando na imagem das crianças subindo felizes no muro e de lá jogando laranjas para o pai.
No dia seguinte, logo pela manhã, Joana foi à missa e passou em frente à casa de seu Sebastião: uma pequena construção de poucos metros quadrados, menos de dois metros de altura. Lá estava seu Sebastião descascando laranjas e em sua volta as crianças e a esposa. Joana sentiu um aperto no coração, sem entender bem porque, mas sabia que não era coisa boa. Pensou de novo: em que mundo vivemos meu Deus?
Rezou incomodada, passou todo domingo incomodada e foi trabalhar incomodada e pensando nas palavras de um antigo professor da faculdade de enfermagem: “não ensino enfermeiras para verificar pressão e fazer curativos, ensino enfermeiras para mudar o mundo.”
Joana sabia no fundo de seu coração que precisava e podia fazer alguma coisa. Mas o que, o que poderia fazer. Como é que a enfermeira pode mudar o mundo?
Chegando no trabalho, na segunda-feira, Joana chamou os Agentes Comunitários de Saúde e perguntou:
- Quem trabalha na área perto da igreja católica?
- É a Raquel, responderam.
- E cadê ela, perguntou Joana, olhando em sua volta.
- Ainda não chegou.
- Então tá meia hora atrasada. Quando chegar pede para vir falar comigo.
Ao chegar, Raquel foi até a sala de Joana. A enfermeira pediu a ficha com as informações sobre seu Sebastião e sua família. Raquel foi buscar e na volta passou a relatar:
- Casa de alvenaria de dois cômodos, três filhos, não tem diabetes, nem hipertensão e a mulher não tá grávida. Não usam nenhuma medicação.
- E o que mais?
- Mais nada. Precisa mais?
- Qual a idade deles, de onde vieram, qual o peso das crianças, que vacinas tomaram, onde seu Sebastião trabalha, quanto ganha, sabe ler e escrever, onde as crianças estudam, têm parentes na cidade, a mulher fez pré-natal aqui, teve algum problema, eles recebem bolsa família ou algum outro auxilio social?
- Não sei de nada disso.
- Quanto tempo faz que trabalha de ACS?
- Cinco anos.
- E não conhece o pessoal da sua área?
- Conheço, sei tudo que tem na ficha.
- Não acha muito pouco o que tem na ficha? 
- Mas a outra enfermeira nunca pediu isso.
- Mas agora precisa. Vamos fazer o seguinte. Vá na casa deles agora e descubra tudo. Vou ficar esperando.
- Só isso?
- Não. Por que chegou atrasada hoje, aconteceu alguma coisa?
- Mas foi só meia hora.
- Se você tivesse todas as respostas para minhas perguntas eu não ia falar nada, mas você não soube responder as perguntas que fiz.
- Nossa, já vai começar pegando no meu pé?
- Você sabia que aquela família só tem laranja verde para comer?
- Você nem vai ficar trabalhando muito tempo aqui, todo mundo vai embora.
- Talvez não, mas enquanto estiver vou tentar mudar o mundo! E você vai me ajudar.
Joana ficou um tempo em silêncio, olhando Raquel em pé em sua frente, indecisa entre dizer mais alguma coisa ou sair batendo a porte.
- Mas por que?
- Vou ficar esperando você voltar com essas informações antes do almoço. É muito urgente.
Joana ficou só em sua sala, ainda incomodada por não saber como mudar o mundo, mas esperançosa, sabendo que acabaria descobrindo.
- Posso entrar, falou Marinalva, atrás de sua barriga de oito meses.
Joana sorriu, olhou a mulher nos olhos e pensou: vou começar fazendo a melhor consulta de pré-natal que se pode fazer.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

18 março 2016

QUANDO DECIDI SER ENFERMEIRO

Logo do Centro Acadêmico de Enfermagem da PUCPR
Ernande Valentin do Prado
 
Na minha frente tem uma mulher de 26 anos, morena, cabeços muitos pretos. Geralmente está alegre, animada, apesar de tudo. Hoje ela está nua, como esteve nos últimos dias, deitada de costas na cama, única posição em que consegue ficar. Da virilha até a coxa, do lado esquerda, uma ferida aberta em carne viva. São 45 dias de internação no sexto andar do Hospital Cajuru em Curitiba, Paraná.
Ela começa a dar sinais de que pode não estar aguentando mais, que está perdendo a fé que voltará para casa, que ficará de pé novamente. Já estou cuidando pessoalmente dela há 15 dias, mas não vejo nenhuma melhora da ferida, cada dia mais ela queixa-se de dores por qualquer movimento.
Meu nome é Ernande Valentin do Prado, eu sou Auxiliar de Enfermagem recém-formado e recém contratado nesta instituição. Trabalhar aqui, no hospital mais complicado da cidade foi opção minha, foi onde achei que poderia devolver à população o investimento que fizeram no meu curso.
Estamos em março do ano 2000, são 11 horas e 30 minutos, bem marcado no meu relógio. Mais uns minutos e começo a distribuir as mediações.  Mas no meio do caminho tinha uma pedra, quer dizer, uma enfermeira que gostava de lembrar-me, de tempos em tempos, que era minha chefe, que eu deveria lhe obedecer. Hoje parece ser um desses dias:
- Por que demora tanto no quarto 22?
- Se fosse lá às vezes, nem precisaria perguntar. Iria ver melhor que a mulher lá dentro, a família dela, precisa muita atenção.
- E seus outros pacientes, diz a enfermeira, esperando encontrar uma falha onde se agarrar.
- Todos estão sendo atendidos conforme suas necessidades. Nenhum caso tão sério hoje, digo sem disfarça minha irritação.
- Você não pode fazer isso...
- Isso o que, pergunto irritado.
- Dar atenção especial para os pacientes, diz a Enfermeira, sentada atrás de sua mesa, sem alterar a voz.
- E por que não, pergunto de forma agressiva, indignado.
- Por que temos que dar tempo igual aos pacientes. Responde calmamente a chefe.
- Quem disse isso, pergunto mais indignado ainda com uma afirmação que me parecia completamente sem pé nem cabeça.
E acrescento:
- Nem todas as pessoas são iguais, por isso não podem ser tratadas da mesma forma. Cada um tem um caso, uma história, não têm necessidades iguais, não podem ser tratadas de forma igual. Pessoas desiguais, com necessidades desiguais precisam ser tratadas de formas desiguais para serem iguais.
- Você pensa assim, disse a Enfermeira, ainda muito calma.
- Penso, respondo ainda mais irritado com a calma dela.
- Então vá fazer o curso de Enfermagem e aí vai poder tomas suas próprias decisões. Enquanto isso, quem decide aqui sou eu e deve dar o mesmo tempo para todos os pacientes.
- Então tá, respondo calmamente e saio da sala.
Três meses depois eu estava matriculado no curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR para os íntimos. Antes tentei fazer um cursinho pré-vestibular muito barato. As aulas eram uma zona de prostituição no Centro de Curitiba. Matriculei-me e frequentei quase três semanas, não de forma contínua, mas juro que tentei ir às aulas. Alguns professores eram muito engraçados e me distraia com eles, embora não conseguisse decorar nada do que eles me pediam.
Outros só me revoltavam, como o de História. A primeira vez que ele me irritou foi quando, em uma aula sobre a segunda guerra mundial, disse que Hitler era um “Zé Mané fracassado na vida que endoidou, pirou o cabeção e fez uma guerra”.
Hitler, Zé Mané?
Achei um desrespeito muito grande à humanidade, à todas as pessoas exterminadas por ele. Como pode um Zé Mané ter praticado tanto mal, ter espalhado o terror e convencido uma nação inteira que matar Negros, Comunistas, Homossexuais e Judeus era o que melhoraria suas vidas?
Mas aguentei firme. Pensei – não preciso acreditar no que o professor fala, só responder a prova do vestibular. Porém, quando em uma aula sobre o comunismo, o professor disse que Karl Marx era um sujeito que explorava o sogro para se manter financeiramente, decidi que não frequentaria mais o cursinho. Inclusive pedi meu dinheiro de volta e tive muito trabalho para conseguir. Mesmo desconfiando que assim não conseguisse passar no vestibular.
Encarei três dias de provas sem escutar as baboseiras do professor de história, mas por conta disso não escutei mais nada, nem as aulas do engraçado professor de química.
Estava trabalhando à noite no dia da divulgação dos resultados do vestibular. As 19 horas e 30 minutos, estou na farmácia, que funcionava no subsolo. A funcionária está nervosa, ainda pouco me conhece e eu a ela. Atrás do guichê, mexe sem parar no computador e ignora minha presença. Estou ficando nervoso, mas quero evitar que minha fama de criador de caso se espalhe mais ainda.
- O que está acontecendo, pergunto com voz simpática (eu acho).
Outras pessoas estão chegando, já se forma uma fila.
- Meus filhos fizeram o vestibular, quero ver o resultado.
Fico curioso, também queria ver o resultado.
- Tem internet aí, pergunto já esquecendo o que estava esperando.
- Tem.
- Seus filhos fizeram vestibular para que?
- A menina fez para Enfermagem, respondeu ela.
- Eu também fiz, digo ansioso. Será que pode ver se meu nome está aí?
Ela olhou rápido meu nome no crachá, depois baixou os olhos e para tela do computador e disse:
- Passou.
- Tá falando sério?
- Tô. Seu nome não é Ernande Valentin do Prado?
- É...
- Passou, vai estudar com minha filha.
- Posso entrar aí e ver na tela, pergunto incrédulo e esperando ela dizer não. Na porta tinha uma placa com letras bem grande: não entre.
- Assim você quer demais, meu amigo. Você sabe que não pode entrar na farmácia. Disse isso abrindo a porta e dando a entender que eu poderia entrar.
Olho e meu nome estava na lista de aprovados.
Passei, vou ser enfermeiro.
Mesmo contente com a notícia, pensei: isso vai custar muito caro: serão quatro anos trabalhando à noite, estudando de dia sem dormir, economizando tudo que posso, juntando tudo para poder pagar as mensalidades.
Pelo menos, quando concluir, pensei iludido, vou poder organizar o trabalho como acredito que precisa ser feito.


[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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