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30 agosto 2017

20 janeiro 2017

EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE

Rádio na casa do Domingos. Ernande, 2017.
Ernande Valentin do Prado
É fácil confundir educação com comunicação e principalmente com informação. Ainda mais fácil é confundir comunicação com meios de comunicação. Aliás, parece fácil confundir comunicação com a própria vida ou com a forma como se leva a vida. Tudo passa pela comunicação: como se faz, como se olha, como se vê, o que se faz, como se relaciona com o outro, no singular e no coletivo. Uma das dificuldades em falar da comunicação diz respeito ao fato dela ser vivida tão intensamente que chega a ser natural e assim passar despercebida, como respirar e andar, como fala Prado, Santos e Cubas (2009).
A comunicação parece ser inata ao homem. Antes do bebê nascer já estão se comunicando com a mãe e está com ele. A comunicação se dá através de movimentos no útero, pequenos chutes, nas náuseas da gravidez. A mãe fala com o filho através da palavra, em diálogos infantis carinhosos, através do tato acariciando a barriga, alimentando-se de forma especial para beneficiar a futura criança. Ao nascer a comunicação entre pais e filhos complexifica-se e evolui de forma continua.
A fala, não necessariamente verbal, pode ter sido o primeiro passo do ser humano rumo à dominação do seu ambiente a da natureza. Cunha da Silva (2003) explica que o homo sapiens inventou uma linguagem para comunicar suas ideias e desejos e essa linguagem foi progressivamente enriquecendo-se. Dá para dizer que a comunicação interpessoal pode ter sido a principal mola do desenvolvimento da sociedade. Sem ela, como seria possível convencer outros a colaborar entre si para conseguir mais alimentos, mais água, andar juntos para obter maior segurança?
Carvalho e Bachion (2012) confirmam essa observação dizendo que a comunicação intrapessoal, interpessoal, e grupal são processos que habilitam ações comunicativas entre as pessoas e os grupos com a finalidade de ajustamento, integração e desenvolvimento.
Depois de iniciado o desenvolvimento da comunicação interpessoal, vieram os sinais gráficos, com os desenhos nas cavernas e nas pedras, até que surgissem as primeiras escritas. Estas parecem ter sido a base sólida do que hoje denominamos comunicação. Mas junto com a comunicação os seres humanos desenvolveram também os meios de comunicação, que de certo modo pode ter iniciado nas paredes das cavernas, depois o pergaminho, o papiro, o papel. Antes, para imprimir os sinais gráficos, utilizava-se carvão, sangue de animais, frutas coloridas, objetos corto-contuso para entalhe, pena e tinteiro, o lápis e a caneta esferográfica. Hoje se utiliza impressoras laser, caneta digital, teclados sem fio, telas sensíveis ao toque, comando de voz.
Com a escrita dominada vieram os correios, os livros, jornais, depois o telégrafo, o telefone, o teatro, o rádio, o cinema, tv e a internet. Hoje temos uma gama grande de meios de comunicação nos rodeando, o que muitas vezes dificulta a diferenciação entre comunicação e meios de comunicação, mas Bordenave (1982) diz que não são uma coisa só, que a comunicação é muito mais que seus meios.
A comunicação não se expressa apenas na fala ou na imagem, mas até no silêncio, na compreensão da hora exata de fazer barulho ou quebrar o silencio. Essa percepção do comunicar, no aspecto interpessoal é importante no fazer dos profissionais de saúde e de educação, por exemplo, pois sem essa competência o processo terapêutico e/ou o processo de ensino/aprendizagem pode não acontecer ou ser muito prejudicado.
Nesse texto, vamos nos concentrar em educação e comunicação em saúde, o que, embora diminua o escopo inicial da discussão, não deixa de ser ainda um campo vasto para abordar. Na medida do possível os dois temas serão tratados em suas intersecções, evitando prolongar a discussão para além do que seria possível no contexto.
Pensar educação e comunicação em saúde juntos, tem relação com as heranças conceituais da origem da saúde coletiva no Brasil. Nos anos 20 do século XX, ao ser criado o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), uma de suas estratégias era voltada para propaganda e educação sanitária. De lá para cá muita coisa mudou, não há dúvidas, mas, como pode ser apreendido em diversos estudos que abordam o tema, comunicação em saúde ainda é compreendida como propagação de informações para mudança de comportamento da população, que são considerados nefastos à saúde coletiva, como afirmam Araújo e Cardoso (2007).
Embora seja muito difícil distinguir educação de comunicação em saúde, quando uma e outra estão acontecendo, conforme discutido aqui, vamos dizer que a divulgação e propagação das informações e a forma como acontece, seja pela mídia e/ou mediada pelos profissionais de saúde, seja a comunicação acontecendo. Já a tentativa de modelar os comportamentos, o que acontece no uso da comunicação e também pelos meios de, vamos considerar educação, seja ela feita por profissionais de saúde, de educação e/ou feita pelos meios de comunicação. Enfim, vamos pensar educação em uma concepção bem ampla, acontecendo na vida e não apenas nas escolas. Como definido por Durkheim (2007) e Geetz  (2008), educar não deixa de ser modelar as pessoas, o que pode ser feito de forma dialogada, como na abordagem de Freire (2006) ou de forma vertical, como na educação bancária, que parece predominar nos processos educativos ainda hoje. 
Outra abordagem importante diz respeito ao conhecimento necessário a intervenção no processo saúde-doença, que inclui o domínio da comunicação, enquanto conhecimento e, principalmente, atitude comunicativa como instrumento terapêutico e/ou de prevenção de doenças e promoção de saúde.   
Montoro (2008) prefere ver a comunicação como cultura, e comunicação em saúde como troca, interação, intersubjetividade, diálogo, expressão, enfim, com múltiplas dimensões, que vão desde a condição fisiológica, que envolve audição, sensações, visão, para alcançar as dimensões afetiva, cognitiva, sociocultural e tecnológica, em sua relação com as mídias, os sistemas de informação e difusão de mensagens.  Abordagem coerente com o conceito de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), discutido desde a Oitava Conferência Nacional de Saúde (CNS) em 1986, que já mencionava o direito à informação, a educação e comunicação como inerente ao direito à saúde, conforme fala Araújo e Cardoso (2007). Porém o mais comum, ainda hoje, como já enfatizado antes e corroborado por RANGEL-S (2008), é a comunicação em saúde ser pensada e operacionalizada de forma vertical, centralizada, unidirecional, orientadas pela visão de que informações e conhecimentos devem ser difundidos de forma prescritiva.
Outros estudos mostram que conhecer não é o suficiente para provocar mudanças de hábitos, mas a comunicação em saúde, como frisado por Rangel-S, Montoro, e Araújo e Cardoso (2007), continua sendo pensada basicamente desta forma. Os responsáveis pela comunicação em saúde ainda creem que informação é comunicação e vice-versa, que é suficiente difundir informações sobre como reconhecer e prevenir doenças, talvez por isso as comunicações do governo, quase sempre, no que diz respeito à saúde, sejam carregadas de um tom prescritivo sobre o que faze e o como fazer.
Comunicação em saúde vai além do aspecto prescritivo e informacional e constitui, um campo de saber, tendo inclusive um grupo de trabalho na Abrasco. Entre outros aspectos, a comunicação em saúde, atualmente, envolve: assessorias de comunicação das instituições, divulgação científica dos achados em pesquisas acadêmicas e ações profissionais, comunicação organizacional, que envolve a produção e circulação das informações nas instituições.
Seja qual for o aspecto enfocado, parece fundamental compreender a comunicação para além de seus usos imediatos ou como sendo de responsabilidade de setores de comunicação. Todos nós nos comunicamos e é essencial que isso aconteça cada vez melhor. Os meios, as formas e as ferramentas de comunicação estão cada vez mais acessíveis e de fácil manipulação pelos profissionais de saúde e de educação. Comunicar-se é uma preocupação cada vez maior das instituições de ensino, que têm cada vez mais preocupações em dialogar, comunicar, preparar as pessoas nas competências comunicativas para melhor interagir com a comunidade.
Outro aspecto bastante importante da comunicação e da educação, tem a ver com o poder simbólico, como discutido por Bourdieu (2010), ou seja, a capacidade de fazer ver e fazer crer, o que se consegue, se não inteiramente pela comunicação e/ou pela educação, essencialmente fazendo uso delas. Araújo e Cardoso (2007) enfatizam que a comunicação pode ser utilizada para manter as coisas como estão ou para transformar a sociedade. Neste sentido, a preocupação deveria ser comunica-se, em todos os sentidos, mas essencialmente pensando comunicação como diálogo.

REFERÊNCIAS
PRADO, E. V. D.; SANTOS, A. L. D.; CUBAS, M. R. Educação em saúde utilizando rádio como estratégia.  Curitiba: CRV, 2009.
CARVALHO, E. C. D.; BACHION, M. M. Abordagem teórica da comunicação humana e sua aplicação na enfermagem. In: STEFANELLI, M. C. e CARVALHO, E. C. D. (Ed.). A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. 2. ed. Barueri-SP: Manole, 2012.  p.9-28. 
BORDENAVE, Juan E. D. O Que é Comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1982.
ARAÚJO I. S. Cardoso JM. Comunicação e saúde. 1ª ed. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 2007.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
GEERTZ, C. (Ed.). O saber local. Petrópolis-RJ: Vozes, 2008.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
MONTORO, T. Retratos da comunicação em saúde: desafios e perspectivas. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 12, p. 445-448, 2008.
RANGEL-S, M. L. Dengue: educação, comunicação e mobilização na perspectiva do controle - propostas inovadoras. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 12, p. 433-441, 2008.
BOURDIEU P. Sobre o poder simbólico. In: Bourdieu P, editor. O pode simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2010. p. 7-16.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

22 janeiro 2016

COMUNICAÇÃO

Impossibilidade de voar. Aeroporto de Manaus. Ernande, 2015.
Ernande Valentin do Prado

A tv estava ligada, do banheiro Isabel podia ouvir parte dos anúncios, antes que Gilberto mudasse de canal:
- ... seu novo carro é ess...
- ... venha para igreja do...
- faça um seguro de vid...
- ... governo federal, pátr...
Tudo pela metade, pensou Isabel, parada em frente ao espelho do banheiro, olhando sua nudez. Não era mais uma menina, mas ainda não se achava uma senhora. Rosto vivo, alegre, lábios delicados, olhos muito negros, seios firmes, apesar dos dois filhos aos quais amamentou por dois anos cada um. Os cabelos, muito pretos, na altura dos ombros. Virou-se de costas e observou as nádegas. Gostou do que viu.
Quando tinha vinte anos, era comum pensarem que tinha apenas 14, por isso a tratavam com a ingenuidade que se tratam as crianças. Secretamente Isabel se divertia com isso, mas não ficava satisfeita. Mesmo agora, tantos anos depois, persistia aquele rosto de meninas e a confusão das pessoas, não mais sobre sua idade, mas sobre quem era ela, o que pensava, quais seus desejos, do que era capaz.
- ... passe aqui na segunda-feira e compre seu...
- ... só sabe quem tem...
Por baixo da porta, entrava a sombra das variações de luz, emanadas da tv. O som persistia, Gilberto continuava pulando de canal em canal, naquela insistência em encontrar algo que nunca lhe satisfazia, que não existia:
- ... a cerveja 100%...
- Passe seu fim de ano no chal...
Ali, em seu mundo particular, protegida, começou ter dúvidas: será só isso, não terá mais nada me esperando? Gilberto era bom, tinha que reconhecer, são anos de parceria, de convívios, de lealdade, cumplicidade. Mas será só isso, insistia a pergunta, que sempre tentava evitar.
Ainda nua, abriu a porta do banheiro e saiu. Queria sentir que efeito sua nudez provocaria no marido.
- compre agora, sem sair de cas...
- o sorriso mais clar...
Ficou parada, em pé frente a porta, com a luz nas constas, de frente para o marido, que continuava pulando de canal em canal, com o controle remoto na mão, como se não a tivesse visto. Andou pelo quarto, passou creme hidratante nas pernas. Girou em torno da cama, então, como último recurso, parou em frente à teve, de forma provocativa, com as pernas levemente abertas, sorria, mas não deixava de estar bastante séria. Disse, ao perceber que tinha a atenção do marido:
- Se eu te pedisse, agora, pra me bater, o que você faria?
Por longos minutos, pareceu à Isabel, Gilberto ficou mudo, como que sem saber o que dizer, o que pensar, perplexo com a pergunta, que em sua boca deveria ser escandalosa demais, impensável.
Por um instante insignificante, pareceu a Gilberto, pensou naquela pergunta, tão absurda na boca da esposa, sem mudar de canal. Então, voltando a escutar a tv, moveu a cabeça para o lado, evitando encarar Isabel, trocou de canal e disse:
- Mandaria lhe internar.

[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

09 dezembro 2015

Graça




Da série: Internato

- Qual é a sua graça? – o paciente pergunta com a máscara e toda a dificuldade, não entendi. Ele disse de novo com mais força – Qual a sua graça? -.

Sempre fico meio sem graça quando perguntam isso, me lembra de outro paciente que não entendi a pergunta da “graça”. Expressão antiga, acho que não tenho graça. Digo, - Mayara -. Ele fecha os olhos e murmura – nome bonito.

Na mesma manhã, várias perguntas e anamnese eu seguro a mão dele e ele me diz – Minha filha tem o mesmo nome que você - . Olha para mim em um suspiro e fala – Eu estou com medo Letícia, ele olha para mim, não você não é Maria, você é a estudante - . Digo que sim, digo minha graça. Ele diz – Eu estou com medo Mayara, minha filha vem me visitar antes do procedimento, ela vem fazer uma oração, sou evangélico, Mayara... – silêncio e eu sorrio – Qual a sua religião Mayara? – digo: - sou de todas um pouco – e ele: - eu poderia ser seu pai Mayara -.

Na hora do almoço, quando todos estávamos com fome foi a hora que os aparelhos para fazer o exame no paciente chegaram. Precisávamos sedar. Pressa para entubar. Mas espera, a hora da visita estava por começar e o paciente não iria ver a sua filha, não ia fazer a oração. Sai correndo pela UTI, avisar o médico para deixar o paciente conversar com a sua filha. O procedimento era de urgência, mas nada mais urgente do que orar. Corri até o leito dele e disse que ia dar tempo de ver a filha, rápido, alguns minutos, e vi do lado de fora ela chegar e abraçar o pai, beijar a testa dele, abrir a bíblia e ler algumas frases segurando a mão dele.

Ele diz antes da sedação: - Muito obrigado Mayara e sorri.

Corre a sedação. Tubo, 5, prepara tudo.

No final, o procedimento foi bem. Paciente respirando com o tubo em AIRE (sem ventilação mecânica).

Dormiu toda a tarde. E almocei mais tarde.

No dia seguinte. Ele me disse: - Dormi um sono bom Maria, não vi nada - . Eu respondo: - que bom!

 – Ele diz mas não é Maria, é Mayara, né? Digo que sim. Conversamos sobre Rio Grande, sobre como está o tempo lá fora, sobre a vontade de viver, e ele me diz: - Antes eu não valorizava um copo de água, Mayara, agora tudo que eu quero é tomar água, até o sabor é diferente – e levanta um copo de água que foi liberado para ele tomar. Antes de sair do quarto ele me diz: - temos que valorizar  as coisas pequenas, Mayara, não esqueça.

No meio da tarde precisamos fazer uma paracentese diagnóstica. Explico para ele.

Ele diz: - É a primeira vez que você vai fazer?

Eu digo:

- Sim.

Ele:

- Vou ser sua cobaia, Mayara? -

Eu:

 - Não,  o médico vai estar do meu lado e vou tentar ser o mais gentil possível.

Ele:

- Mayara, eu entendo, pode aprender comigo.

Eu digo timidamente:

- Muito obrigada.

Ele:

- Eu estou com medo de novo, Mayara.

Eu:

- Mas dessa vez você vai ficar acordado.

Ele:

- Eu não gosto de agulhas.

Eu:
- Mas quem gosta? – e explico da forma mais simples que consigo sobre o procedimento (uma paracentese).

Ele:

- Então você vai colocar uma torneira para tirar água da minha barriga?

Eu:

- Mais ou menos isso. 

Voam abraços,
Mayara Floss

21 janeiro 2015

"Doutor, o que eu tive no hospital?"


 Estava aproveitando a experiência na área rural da Irlanda. Da janela só se vê árvores e muros de pedra. Uma casa ao longe, fumaça na chaminé. Uma vila pequena onde as pessoas falam ainda o idioma antigo: o gaélico. Foi nesse clima de conforto que por três vezes no mesmo dia os pacientes tiveram uma dúvida que eu já havia escutado em outros momentos: “Doutor, o que eu tive no hospital?”. É muito difícil imaginar que os pacientes ficaram internados por horas ou dias e não entenderam o que tiveram no hospital. E como repetidas vezes acontece, percebo que os problemas da medicina no Brasil e na Irlanda são muito parecidos. As reclamações se encontram em uma via comum. 

E ai cai-se, às vezes, numa retórica profissional: “não tenho tempo para explicar” ou o pior “o paciente não vai entender”.  Reverto o questionamento para “quanto tempo leva um explicação?” e “é o paciente que não entende, ou o profissional que não sabe como explicar?”. Somos educados para nos comunicarmos (fora do contexto da anamnese Localização, Intensidade, Caráter, Irradiação Duração, Evolução, Fatores Associados...)? A compreensão do paciente em relação ao tratamento é fundamental para cooperação e adesão, ou até, o que pouco se fala: a escolha do paciente de não seguir o tratamento indicado, não cooperar, não aderir. O paciente ainda pode sofrer preconceito taxativo quando decide não seguir um tratamento, virando os bordões: “este paciente é difícil” ou “o paciente é ruim”. A questão da comunicação está no cerne da medicina, aparte dos diagnósticos brilhantes, como foi escrito “um médico medíocre, mas cordial, obtém melhor satisfação das pessoas que um médico tecnicamente brilhante, mas rude”¹. 

Não estamos falhando na comunicação?
  A medicina é mais do que uma equação balanceada com medicamentos e procedimentos dentro do atendimento à saúde. Como Manchada (2013) escreveu: “O problema, certamente é que o padrão de cuidado atual não está funcionando”. Estamos frequentemente focando na doença, ao invés da causa da doença, ou ao invés da experiência do paciente. Manchada (2013) continua seu texto falando: “a maior ironia é que a maioria dos profissionais de saúde reconhece isso como cuidado adequado à saúde”.   

Principalmente, no hospital, geralmente pacientes e familiares estão mais fragilizados, precisando de cuidado e simplesmente aceitam as condutas sem explicação ou questionamento – não que aconteça na atenção primária e secundária, mas aparentemente fica mais marcado na atenção terciária.

Nunca vou me esquecer de um paciente, ainda no segundo ano da medicina, fiz a anamnese e talvez porque tinha mais tempo para comentar algumas coisas sobre cavalos ficamos conversando/coletando a história, ele tinha levado um coice de um cavalo na região do fígado. No meio da conversa, ele puxou vários comprimidos de paracetamol escondidos na gaveta do hospital e falou que estava tomando porque aliviava a dor, lembro que era uma superdosagem, e talvez a causa de ele estar internado. Culpa do paciente? Culpa do serviço? Sem, culpabilizações, talvez estejamos falando de comunicação.   

 Mas a pergunta “O que eu tive no hospital?” ficou por dias martelando nas minhas reflexões.  Na saúde atual o paciente paga (mesmo que através de impostos) pelo serviço, mas não necessariamente para ficar mais saudável ou para ajudar no processo de autoconhecimento do próprio corpo ou do processo saúde-doença. 


Voam abraços,

Mayara Floss
 
1. Borrel Carrió F, Dohms M. Relação clínica na prática do médico de família. In: Lopes JMC, Gusso GDF, editores. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. São Paulo: Artmed, 2012. p. 124-134.

2. Manchada R. The Upstream Doctors: Medical Innovators Track Sickness to Its Source. 38 ed.: TED Conferences; 2013. Diponível em: http://www.amazon.com/The-Upstream-Doctors-Innovators-Sickness-ebook/dp/B00D5WNXPE


[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]

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