Mostrando postagens com marcador dia-a-dia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador dia-a-dia. Mostrar todas as postagens

20 dezembro 2017

Onze e meia

Ruralices. Foto: Mayara Floss
O conflito familiar na casa de interior era sério. Ex-esposa, plantação de milho, vacas para tirar leite. Mas, depois do AVC do companheiro ele não queria mais sair de casa. Já há mais de um ano de companheira para cuidadora oficial, ela já dizia repetidamente: “Não aguento mais”.
Entre conversas descubro um grande motivo de chateação, ela ia perder o casamento da sobrinha. Pergunto porque não ir, ele muito teimoso diz:
- Não, é muito long -.
Ela já com o vestido pronto, com a carona arrumada, tudo organizado, balança a cabeça. No final, decido prescrever na receita: “Ir no casamento da sobrinha”.
Ela pendurou feliz na porta da geladeira, destemida.

Hoje eles vieram até a unidade e perguntei:
-Foram ao casamento?
Ele responde feliz:
- Fomos!
Sigo:
- E como estava? -.
- Muito bom, nunca mais um casamento como aquele. - Ela sorri e diz: - Nunca mais.
Ela emenda:
- A gente não se sentiu pequeno, se sentiu gente, foi muito bom. .
Pergunto:
-Ficaram até o final?
Eles estufam o peito:
- Até às onze  e meia!

Abraços que pousam,
Mayara Floss

15 novembro 2017

Lost in translation

Ruralices da madeira da casa.

(Título em português: perdida na tradução)

Eu tomo um chá para soltar o intestino.
Qual o nome?
Só sei em alemão.
Vixi, mas me conta igual.

É Peragralg, de uma florzinha miúda que dá perto dos potreiros.

Abraços que pousam,
Mayara Floss

25 outubro 2017

Cuidado

Foto: Ruralices no Ratones

Eu não dou conta de cuidar dele, da casa e de tudo.
(Diz ela com o marido que sofreu  uma isquemia cerebral)
A família meio que abandonou, sou a segunda esposa. 
Estou procurando alguém para comprar as vacas.
Não é fácil viver na roça.

Abraços que pousam
Mayara Floss

15 março 2017

Bicho geográfico

Caruaru-PE

Como vou descobrir o mundo,
se quando tomar este remédio
vou matar meu bicho geográfico?

Abraços que pousam,
Mayara Floss

24 agosto 2016

Como pode a visão ficar sem nenhuma luz de uma hora para a outra?


 Minha mãe me disse numa conversa dessas:
- Minha visão ficou mais preta do que aquela blusa. -
Apontando para uma blusa da cor preta. Eu fiquei olhando, ela continuou:
- Como pode a visão ficar sem nenhuma luz de uma hora para a outra?
 
 Abraços que pousam,
Mayara Floss

28 janeiro 2016

Dislexia

907

Suzi:
- Mayara, eu gostaria que fizéssemos uma reunião sobre dislexia. Quem sabe a próxima reunião poderia ser sobre dislexia.
Mayara:
- Por que, Suzi?
Suzi:
- Porque eu acho que eu tenho dislexia.
Mayara:
- O que acontece?
Suzi:
- Toda vez que eu vou ler eu pulo muitas linhas, tenho dificuldade.
Mayara:
- Já tentou usar uma régua?
Suzi:
- Como assim? – improvisei com guardanapos no meio da formatura do Arnildo uma “régua”, e sugeri que ela lesse.
Suzi:
- Boa noite a todos, a família do Arnildo e em especial ao meu amigo Arnildo – com a voz trêmula. – Mayara, eu consegui ler!
Mayara:
- Sim! Você conseguiu!
Suzi:
- Eu não acredito que eu consegui! Vou usar as réguas!
Mayara:
- Vai ser ótimo!
Suzi:

- Agora vou aprender bem. Não vou desistir de aprender a ler.

Voam abraços,
Mayara

20 janeiro 2016

Alice

O gato de Alice - João Pessoa

Alice:
- Qual a cor dos seus olhos?
Mayara:
- Não sei, você que me diz, que cor você acha que é?
Alice:
- Hmmm... Deixa eu ver. Ao redor seu olho é escuro, tem uns riscos de verde bem clarinho, e azul no fundo, tem um pouco de amarelo e no meio tem uma bola preta.
Mayara:
- Então, no fim das contas, que cor é?
Alice:
- Cinza.

Voam abraços,
Mayara Floss

16 dezembro 2015

Cecília


Em Dezembro do ano passado em uma fazenda Saint Jean d'Alcas
 Da série: internato

Ela estava com dor de barriga mais cedo. Fui reavaliar.
Começo a palpar a barriga com cuidado.
Ela:
- Não moça, não! – e começa a “fugir das minhas mãos”.
Eu:
- Está com dor D. Cecília?
Ela:
- Não moça, suas mãos estão geladas. 

Voam abraços,
Mayara Floss

09 dezembro 2015

Graça




Da série: Internato

- Qual é a sua graça? – o paciente pergunta com a máscara e toda a dificuldade, não entendi. Ele disse de novo com mais força – Qual a sua graça? -.

Sempre fico meio sem graça quando perguntam isso, me lembra de outro paciente que não entendi a pergunta da “graça”. Expressão antiga, acho que não tenho graça. Digo, - Mayara -. Ele fecha os olhos e murmura – nome bonito.

Na mesma manhã, várias perguntas e anamnese eu seguro a mão dele e ele me diz – Minha filha tem o mesmo nome que você - . Olha para mim em um suspiro e fala – Eu estou com medo Letícia, ele olha para mim, não você não é Maria, você é a estudante - . Digo que sim, digo minha graça. Ele diz – Eu estou com medo Mayara, minha filha vem me visitar antes do procedimento, ela vem fazer uma oração, sou evangélico, Mayara... – silêncio e eu sorrio – Qual a sua religião Mayara? – digo: - sou de todas um pouco – e ele: - eu poderia ser seu pai Mayara -.

Na hora do almoço, quando todos estávamos com fome foi a hora que os aparelhos para fazer o exame no paciente chegaram. Precisávamos sedar. Pressa para entubar. Mas espera, a hora da visita estava por começar e o paciente não iria ver a sua filha, não ia fazer a oração. Sai correndo pela UTI, avisar o médico para deixar o paciente conversar com a sua filha. O procedimento era de urgência, mas nada mais urgente do que orar. Corri até o leito dele e disse que ia dar tempo de ver a filha, rápido, alguns minutos, e vi do lado de fora ela chegar e abraçar o pai, beijar a testa dele, abrir a bíblia e ler algumas frases segurando a mão dele.

Ele diz antes da sedação: - Muito obrigado Mayara e sorri.

Corre a sedação. Tubo, 5, prepara tudo.

No final, o procedimento foi bem. Paciente respirando com o tubo em AIRE (sem ventilação mecânica).

Dormiu toda a tarde. E almocei mais tarde.

No dia seguinte. Ele me disse: - Dormi um sono bom Maria, não vi nada - . Eu respondo: - que bom!

 – Ele diz mas não é Maria, é Mayara, né? Digo que sim. Conversamos sobre Rio Grande, sobre como está o tempo lá fora, sobre a vontade de viver, e ele me diz: - Antes eu não valorizava um copo de água, Mayara, agora tudo que eu quero é tomar água, até o sabor é diferente – e levanta um copo de água que foi liberado para ele tomar. Antes de sair do quarto ele me diz: - temos que valorizar  as coisas pequenas, Mayara, não esqueça.

No meio da tarde precisamos fazer uma paracentese diagnóstica. Explico para ele.

Ele diz: - É a primeira vez que você vai fazer?

Eu digo:

- Sim.

Ele:

- Vou ser sua cobaia, Mayara? -

Eu:

 - Não,  o médico vai estar do meu lado e vou tentar ser o mais gentil possível.

Ele:

- Mayara, eu entendo, pode aprender comigo.

Eu digo timidamente:

- Muito obrigada.

Ele:

- Eu estou com medo de novo, Mayara.

Eu:

- Mas dessa vez você vai ficar acordado.

Ele:

- Eu não gosto de agulhas.

Eu:
- Mas quem gosta? – e explico da forma mais simples que consigo sobre o procedimento (uma paracentese).

Ele:

- Então você vai colocar uma torneira para tirar água da minha barriga?

Eu:

- Mais ou menos isso. 

Voam abraços,
Mayara Floss

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog